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segunda-feira, 18 de julho de 2022

EXPOSIÇÃO: "Mouzinho: Da Ribeira ao Aeroporto"


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EXPOSIÇÃO: “Mouzinho: Da Ribeira ao Aeroporto”,
de Álvaro Domingues e Ivo Poças Martins
Curadoria | Núcleo de Programação do Museu da Cidade do Porto
Casa do Infante
10 Mar > 11 Set 2022


A Rua de Mouzinho da Silveira serve de mote à exposição que, até ao próximo dia 11 de Setembro, se encontra patente na Casa do Infante. Levando o visitante numa viagem que cruza os tempos e os lugares, as gentes e as práticas urbanas e socioculturais, o geógrafo Álvaro Domingues e o arquiteto Ivo Poças Martins partem da documentação referente à intenção de rasgar aquela artéria, em 1872, e perseguem as transformações dos últimos cento e cinquenta anos que moldaram a face da Invicta, transformando-a naquilo que é hoje. Da Ribeira a S. Bento, a “Mouzinho” ilustra e acompanha as grandes ruturas tecnológicas do seu tempo, produzindo uma espacialidade que, durante quase um século, contribuiu para fixar um centro, entretanto deslocado da Ribeira para a Baixa do Porto. Hoje, do nó da Arrábida ao Aeroporto, passando por Leixões, sucedem-se focos de novas centralidades que se distribuem e se relacionam no novo mapa da urbanização em curso. O centro do Porto perdeu o monopólio da centralidade. É “a revolução das cousas”, como escreveu uma vez o conselheiro Mouzinho da Silveira a D. Pedro IV a propósito de outras mudanças de que o mundo então se compunha.

Mas recuemos a 1872, mais concretamente ao mês de Junho, altura em que o Director Geral da Secretaria da Câmara Municipal do Porto, Luís Antonio Nogueira, apresentou à Câmara a “Planta do Projecto da rua da Biquinha parallela à rua das Flores a qual a Ex.ma Camara pretende mandar abrir para ligar o Largo da Feira de S. Bento com a Rua de S. João”. Seria a Rua Mouzinho da Silveira, o novo eixo a unir o Porto ribeirinho e a distinta Praça do Infante à praça D. Pedro IV, terminando onde viria a ser a estação de S. Bento. Corria a segunda metade do séc. XIX e antes que tudo desmoronasse com a crise financeira do estado e do sistema bancário (1891), viviam-se tempos de mudança acelerada, grandes obras e inovações que mudariam radicalmente a organização da sociedade e da urbanização: o caminho de ferro, a eletricidade, o telégrafo, o motor de explosão, as estradas construídas ao modo de Mac-Adam, ou o betão. Entretanto, enquanto se encanava o rio da Vila para traçar a Mouzinho, construíam-se os molhes de Leixões e um outro rio, o Leça, seria depois esventrado para construir uma doca artificial. Os navios aumentavam em dimensão e calado e o Douro, o porto do Porto, era cada vez mais problemático.

Em 1963 inaugurava-se a ponte da Arrábida e o primeiro tramo de autoestrada que levaria a via rápida até Leixões e mais tarde, ao aeroporto. O velho mapa mental do Porto e arredores não tardaria a explodir, dando lugar a uma vasta conurbação: a cidade perdera o exclusivo da urbanização e as medidas curtas que antes bastavam para entender o comprimento da rua Mouzinho, deram lugar aos tempos rápidos das relações e do movimento. Funções que antes se aglomeravam no núcleo central favorecido pelo monopólio da acessibilidade, distribuem-se agora nesse espaço alargado, marcando lugares, expondo os sinais da mudança. A geografia extensa e descontínua da urbanização só é legível através das redes e sistemas de dispositivos técnicos que suportam o movimento de pessoas, mercadorias, informação, capital, água ou energia. É justamente tudo isto que “Mouzinho: Da Ribeira ao Aeroporto” nos dá a ver, através de um conjunto de documentos fascinantes e de intrigantes imagens de Álvaro Domingues, complementadas por textos onde sobressai a assertividade e o rigor, a par de alguma ironia e muito humor. A não perder!

[Baseado no texto que acompanha a exposição e que pode ser lido em https://www.museudacidadeporto.pt/exhibition/mouzinho-da-ribeira-ao-aeroporto/]

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