CINEMA: “Um Iaque na Sala de Aula” / “Lunana: A Yak in the Classroom”
Realização | Pawo Choyning Dorji
Argumento | Pawo Choyning Dorji
Fotografia | Jigme Tenzing
Montagem | Hsiao-Yun Ku
Interpretação | Sherab Dorji, Ugyen Norbu Lhendup, Kelden Lhamo Gurung, Pem Zam, Sangay Lham, Chimi Dem, Oriana Chen, Tashi Dema, Dophu, Tshering Dorji, Art Finch, Dorji Om, Tandin Sonam, Sonam Tashi, Kunzang Wangdi, Tshering Zangmo, Tsheri Zom
Produção | Pawo Choyning Dorji, Jia Honglin, Stephanie Lai
Butão | 2019 | Drama | 110 Minutos | Maiores de 12
Cinema Vida
13 Jul 2022 | qua | 16h00
“Lunana: Um Iaque na Sala de Aula” coloca em perspectiva o sistema de ensino em regiões remotas do planeta, as suas causas e consequências. O filme conta-nos a história de Ugyen, jovem professor em crise, muito mais motivado para atravessar o Atlântico e fazer carreira de cantor na Austrália do que propriamente empenhar-se em dar aulas aos mais novos no seu país. A cumprir o último ano de uma espécie de estágio profissional, é enviado para Lunana, a aldeia mais remota do Butão e, provavelmente, do mundo. Ao longo da sua experiência irá ser confrontado com o isolamento, as condições de habitabilidade precárias, um clima agreste, a elevada altitude e a falta de condições para ensinar, mas também com o reconhecimento dos habitantes da aldeia, a sua hospitalidade e amizade. Sem abandonar o sonho de emigrar, Ugyen entrega-se de corpo e alma aos seus alunos, trazendo-lhes as mais doces notas de felicidade.
Reflectindo sobre a figura do professor, Pawo Choyning Dorji mergulha bem fundo naquilo que é a realidade de um país como o Butão, revelando o contraste educacional entre os meios mais desenvolvidos, e as aldeias, onde condições básicas como saneamento e luz eléctrica são e serão ainda uma miragem. Em certa medida, o filme pode ser visto como um objecto de denúncia das enormes diferenças sociais que integram uns e excluem outros, potenciando divergências económicas e fomentando o retrocesso social. Ao mesmo tempo, “Um Iaque na Sala de Aula” mostra-nos o impacto das alterações climáticas em ecossistemas já de si fragilizados, ameaçando de extinção parte da fauna e da flora da região e colocando uma enorme pressão sobre aqueles que vão tentando resistir a toda a sorte de adversidades.
Entre o muito que um professor e os seus alunos têm para partilhar, a música funciona aqui como um vector de ligação muito forte, reforçando os laços espirituais que envolvem os habitantes da aldeia e nos quais o professor acaba por se inserir. Esta sensibilidade para entender os valores mais tradicionais e procurar integrá-los na sua forma de estar (e de ser) marca o filme de forma indelével. Muito subtilmente, o realizador mostra-nos o quanto a bondade pode ser preciosa numa época em que prevalece a indiferença e o egoísmo. É nela que se funda o respeito que Ugyen passa demonstrar pelos habitantes da aldeia e pela natureza que o rodeia. O iaque que o acompanha permite vislumbar a espiritualidade do destino, da descoberta interior e do respeito que cada um deve ter por si e pelos outros. Pawo Choyning Dorji não soube esquivar-se a fazer um contraponto com a modernidade do mundo de hoje e isso, porque demasiado óbvio, fragiliza o filme. O balanço, contudo, não pode deixar de ser positivo.
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