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terça-feira, 28 de junho de 2022

CONCERTO: "Perfil"



CONCERTO: “Perfil”,
de Dulce Pontes
Cine-Teatro de Estarreja
18 Jun 2022 | sab | 21:30


Em dia de aniversário, o Cine-Teatro de Estarreja vestiu-se com o melhor traje para receber Dulce Pontes, uma das mais aclamadas vozes do panorama musical português. Quase a completar 35 anos de carreira artística, ela trouxe consigo o seu mais recente trabalho, “Perfil”, lançado em 2021, depois de quatro anos sem gravar. Trouxe também um quinteto de instrumentistas de luxo, onde pontificaram a guitarra portuguesa de Luís Guerreiro e o violoncelo de Davide Zaccaria, mas também o piano de Sérgio Pedroza, a guitarra acústica de João Domingos e as percussões de José Pontes. Ancorado no fado, aquela que é a sua matriz, o concerto abriu-se às mais variadas linguagens musicais, abraçando com igual força e intensidade o folclore português ou os ritmos latinos, a musica popular brasileira ou sonoridades próximas do jazz. Na plateia, o numeroso público vibrou com cada um dos temas, cantou, aplaudiu (muito) e, por uma noite, foi imensamente feliz.

Recuando a 1999 e ao álbum “O Primeiro Canto”, Dulce Pontes começou por interpretar “A Minha Barquinha”, toda ela um embalo aos sentidos que a artista torna ainda mais aconchegante pela forma como adoça o poema com a sua voz incomparável. Depois deste verdadeiro prólogo, “Perfil” estabeleceu-se de corpo e alma na bela sala do CTE, sendo “Retrato”, que Maria Mamede escreveu e dedicou a Dulce Pontes, o primeiro de sete momentos belos e delicados. Seguiu-se uma viagem ao cancioneiro popular de Idanha-a-Nova, ao encontro de uma “Laranjinha”, com tanto de doce como de mexida. Sobre um fado de Alfredo Marceneiro, a cantora depositou um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen, daí resultando “Porque”, um dos momentos mais altos da noite. Porém, se tivesse de escolher o grande momento deste concerto, arriscaria dizer que ele chegou com “Na Língua das Canções”, um tema de Tiago Torres da Silva, com música e arranjos de Dulce Pontes.

Se “Na Língua das Canções” veio provar a glória criativa de Dulce Pontes e da sua voz, “Soledad”, “Dulce Caravela” ou a muito conhecida “Amapola” foram a confirmação de um extraordinário bom gosto, virtuosismo e uma cativante presença em palco. A parte final do concerto visitou alguns dos temas mais conhecidos da cantora, de “A Brisa do Coração”, um tema composto por Ennio Morricone e que integra a banda sonora do filme “Afirma Pereira”, a José Afonso e ao seu “Os Índios da Meia Praia” ou a Elis Regina e ao emocionante “Fascinação”. Foi neste período que surgiram os ritmos mais mexidos, bebidos no nosso folclore, ao encontro de chulas, malhões e bailinhos. “Canção do Mar” foi o remate perfeito de uma noite memorável, a imortal composição de Ferrer Trindade e Frederico de Brito tratada de forma irrepreensível, o público completamente rendido à voz e à presença de Dulce Pontes. Soube tão bem “sorrir, bailar, viver, sonhar contigo”.

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