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domingo, 20 de fevereiro de 2022

CONCERTO: Orquestra de Jazz de Estarreja convida Tiago Nacarato



CONCERTO: Orquestra de Jazz de Estarreja convida Tiago Nacarato
Cine-Teatro de Estarreja
19 Fev 2022 | sab | 21:30


“Estávamos tão bem em casa, com a pandemia, de chinelinhos… e agora resolvem que a gente tem de voltar a trabalhar, não é? Estávamos a viver tão bem de subsídios…”. É Carnaval e as palavras de Carlos Azevedo, à frente da Orquestra de Jazz de Estarreja, levantaram risos numa sala muito bem composta. Mas ainda que irónico, o “desabafo” acabou por fazer sentido se pensarmos que, contrariamente àquilo que se assiste em Estarreja e, em particular com esta Orquestra, este não foi um bom concerto. O alinhamento coube todo em menos de uma hora e, “para encher chouriços”, lá veio um “remendo” com uma música gravada e um “encore” com dois temas repetidos, acabados de escutar minutos antes. Azevedo teve necessidade de se justificar: “A gente não tem muito mais música porque, como devem imaginar, preparar música com uma orquestra toda de novo não é fácil”. E o que é que o público, que pagou o seu bilhete, tem a ver com isso?

Falando do concerto e, em particular, das músicas, que é verdadeiramente aquilo que interessa, cabe reafirmar a qualidade da Orquestra de Jazz de Estarreja. É sempre um privilégio escutar um conjunto tão bem entrosado e que conta, entre os seus executantes, com gente do gabarito de um Tomás Marques ou de um Ricardo Rosas, de um João Fragoso, de um Domingos Henriquez, de um João Cunha, de um Ricardo Alves e de tantos outros. Os três primeiros temas, todas da autoria de Sammy Nestico, foram disso a prova provada, em particular esse fabuloso “Basie-Straight Ahead”, com Henriquez a assinar o primeiro grande solo da noite. Depois veio Tiago Nacarato e o sentido da música fez-se na direcção do Brasil e de compositores como António Carlos Jobim, Baden Powell, Vinicus de Moraes, Cartola, João Gilberto e Jorge Ben. A solo, com o suporte de um quarteto ou com a orquestra toda atrás de si, Nacarato tomou conta das operações mas, também aqui, as coisas não correram bem.

Não. Este não foi o Tiago Nacarato que costumamos escutar. A voz pareceu estar sempre uma escala abaixo, esqueceu-se demasiadas vezes de cantar para o microfone e ainda alinhou com o título de um dos temas cantados, “desafinando” um bom par de vezes. A fraca adesão do público, quando chamado a acompanhar o cantor, foi a prova provada de uma noite pouco feliz. O seu momento esteve em “Tempo”, com letra e música sua, uma enorme canção interpretada com rigor e emoção, que não deixou ninguém indiferente. Houve ainda essa “piscadela de olho” a “Sorria”, verdadeiro hino do Carnaval de Estarreja, mas quer o registo “a Capella” quer o tema gravado mostraram-se pouco convincentes naquele contexto. À saída, o desconsolo era a nota dominante. Valeu-nos a Orquestra, ainda e sempre, para nos confortar e deixar a promessa que, com ela, mais e melhores dias virão.

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