EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “Ir, Ver, Perder, Olhar, Parar, Transformar”,
de Susana Bravo
Cooperativa Árvore
06 Jan > 22 Jan 2022
“Mostra-me o que pintas, dir-te-ei quem és”. Assim, de improviso, o provérbio ocorreu-me mal me vi rodeado dos quadros de Susana Bravo que, por estes dias, preenchem uma grande parte da galeria de exposições da Cooperativa Árvore, no Porto. Através deles, das suas cores, da sua energia, da alegria que emanam, adivinha-se uma pessoa muito bonita, que da vida escolhe o lado bom e que no gosto da partilha encontra uma enorme satisfação. Embora o trabalho da artista não me fosse totalmente desconhecido, pela primeira vez tive a oportunidade de apreciar um conjunto significativo de obras suas reunidas num mesmo espaço e de perceber o quanto concorrem para a definição de um universo com tanto de metafóra como de verdade. Um universo feito de histórias e memórias, misterioso e onírico, onde o real e a ficção se passeiam de braço dado e os signos se vestem de encanto e beleza.
De forma natural, percebe-se em cada quadro uma compartimentação muito peculiar, levemente aparentada com as séries de “desenhos aos quadradinhos”. As histórias que se inscrevem em cada quadro fluem livremente ao sabor das memórias ou da imaginação do observador, por magia transportado ao azul do céu mais profundo, ao verde da mais luxuriante floresta, ao ocre do mais vasto e árido deserto. Num afago, os sentidos prosseguem a inebriante viagem que se vai preenchendo de sons e tons, texturas e aromas, à medida que os trabalhos vão desfilando ante o nosso olhar, cruzando-se, interceptando-se, dialogando entre si. Apetece brincar. Num assomo de irreverência, baralhamos as “peças” e fazemos aterrar um avião de papel no dorso de um pavão, pomos uma chávena florida na cúpula do Palácio de Cristal, enfiamos um gato na casa das bonecas ou calçamos uns patins a uma baiana. Por instantes somos meninos. E somos felizes.
Fórmulas que permitam descodificar as mensagens aqui inscritas, não há. E ainda bem. Todo o tempo é dado à fruição, as narrativas construídas ao gosto do visitante, ao ritmo das suas pulsões. Que até pode ver Warhol nuns carimbos que parecem repetir-se, AddFuel nos acetatos de uma fiada de azulejos, Emerenciano em esparsas “escripinturas”. Como pode ver Gauguin num cone fumegante, a famosa “Mãe de Whistler” na sua cadeira ou Chagall num pássaro fugidio. Esta liberdade que nos é dada de construirmos as nossas próprias emoções, de sonharmos os nossos maiores desejos e escrevermos os nossos mais belos poemas é o que de mais extraordinário a pintura de Susana Bravo tem para oferecer. Entrar no seu mundo é desprendermo-nos desse outro, tão cinzento e vazio de sentido, em que o nosso quotidiano tende a transformar-se. “Ir, Ver, Perder, Olhar, Parar, Transformar” é um extraordinário momento de vida. Só até ao próximo sábado.
Sem comentários:
Enviar um comentário