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terça-feira, 26 de outubro de 2021

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "The Second" | Schore Mehrdju


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “The Second”,
de Schore Mehrdju
Encontros da Imagem de Braga 2021
Mosteiro de Tibães
17 Set > 31 Out 2021 


Conseguimos imaginar a luta de muitos iranianos contra o regime do Shah e, desde 1979, contra a ditadura islâmica? A forma como combatem e vão resistindo à crescente repressão? Como suportam humilhações, perseguições, a tortura e a prisão? Como, com uma raiva funda a calar na alma, são obrigados a voltar as costas ao seu país e a partir para o exílio? Ou, em muitos casos, como sucumbem à brutalidade e pagam a ousadia com a própria vida? Foi em busca destas e de outras questões, que Schore Mehrdju – fotógrafa nascida em Teerão em 1983 e a viver na Alemanha, onde os pais se refugiaram, desde os três meses de idade – focou o seu projecto intitulado “You never told me about your time in prison” e que esteve patente ao público no Mosteiro de Tibães, por ocasião dos Encontros da Imagem de Braga 2019. 

Dois anos volvidos, a fotógrafa regressa aos Encontros e, de novo, a Tibães, onde apresenta “The Second”, conjunto de imagens que exploram o estatuto social das mulheres, bem como os casamentos polígamos no Tajiquistão. “Uma mulher sem marido não vale nada aqui!” - isto foi o que a artista ouviu mais frequentemente de cada uma das mulheres que fotografou. Para serem respeitadas pela sociedade, as mulheres tajique devem ser casadas, não importa se na condição de primeira ou segunda esposa. Eis a principal razão pela qual o conceito de poligamia se difundiu na sociedade do Tajiquistão, ainda que esta situação seja punida por lei. O contrato de casamento muçulmano, ou Nikoh, permite casamentos polígamos, mas deixa as segundas esposas e seus filhos sem quaisquer direitos. Foi essa a razão que levou a artista a trabalhar em colaboração com essas mulheres, de forma a criar retratos anónimos afastados de qualquer estigmatização.

Empunhando com firmeza e sobriedade a bandeira de uma causa que clama por justiça, Schore Mehrdju volta a apontar o dedo aos que discriminam, segregam, marginalizam e que, dessa forma, marcam de forma indelével as muitas “vítimas”, com o amém da cultura e da religião. Mediante uma série de registos crus, a fotógrafa oferece-nos um vislumbre de uma sociedade desigual, profundamente desumana, que violenta e maltrata os seus mais desfavorecidos. O olhar que se vira, o corpo que se esconde, o rosto que se apaga é o de alguém que sobrevive no lado errado da noite. Mostrar estas imagens é dar voz àqueles que não têm voz. É erguer-se num grito que reclama igualdade. É não ficar para trás e não olhar para o lado, antes agir, fazendo da fotografia uma arma. É inquietar, abalar, provocar. Para que também nós não olhemos para o lado e não fiquemos para trás.

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