CINEMA: “A Ilha de Bergman” / “Bergman Island”
Realização | Mia Hansen-Løve
Argumento | Mia Hansen-Løve
Fotografia | Denis Lenoir
Montagem | Marion Monnier
Interpretação | Vicky Krieps, Tim Roth, Grace Delrue, Mia Wasikowska, Anders Danielsen Lie, Hampus Nordenson, Clara Strauch, Joel Spira, Teodor Abreu
Produção | Charles Gillibert, Erik Hemmendorff, Rodrigo Teixeira
França, Bélgica, Alemanha, México, Suécia | 2021 | Drama, Comédia, Fantasia, Romance | 112 Minutos | Maiores de 16 Anos
Cinema Vida
24 Out 2021 | dom | 18:15
Em “A Ilha de Bergman”, um casal de cineastas vem passar uma residência de verão em Fårö, a ilha do Báltico onde Ingmar Bergman filmou vários dos seus filmes e onde viveu de 1965 até sua morte, em 2007. Famoso e reconhecido cineasta, Anthony Sanders vem apresentar os seus filmes e dar algumas palestras, enquanto aproveita para continuar a trabalhar num argumento na casa onde o realizador sueco filmou “Cenas da Vida Conjugal”. Menos conhecida, Chris vem para trabalhar igualmente num argumento, instalando-se no moinho em frente à casa. À medida que o filme avança, torna-se óbvio que o casal tem uma série de problemas acerca dos quais não parece estar totalmente ciente. Tony está absorvido pelo seu trabalho e parece não levar a sério o trabalho de Chris, que, por sua vez, se sente desprezada em parte por ser mulher. Os sentimentos de Chris acabam por se revelar através da sua escrita, que começa como um filme dentro de um filme e termina como uma filmagem real.
É interessante que o argumento sirva de pretexto para mostrar aquilo em que Fårö se tornou, uma espécie de parque temático pseudo-intelectual, uma Disneyworld da cultura, onde é possível comprar cópias dos óculos usados por algumas estrelas nos filmes de Bergman, passar uma noite na cama onde “Cenas da Vida Conjugal” foi filmado, fazer um Safari Bergman, percorrendo em autocarro os lugares ligados à vida e obra de Ingmar Bergman, ou assistir à projecção de um dos seus filmes na sala privada do próprio realizador. Dito desta forma, “A Ilha de Bergman” parece encerrar um belo conjunto de atractivos e, de facto, muitos dos pontos que toca ou sobre os quais ironiza são de grande interesse. Todavia, se bem espremido, o filme revela-se um puzzle em que nada se encaixa. As personagens são superficiais e falta credibilidade na relação entre si. Sérios ou irónicos, os diálogos carecem de espessura e ritmo. Sobretudo, falta força dramática ao desenvolvimento do enredo. A incongruência domina a trama. Há muitos gestos e poucos actos.
Mia Hansen-Løve tem por trás de si filmes como “Um Amor de Juventude” (2011) e “O Que Está Por Vir” (2016), que fazem dela uma das mais interessantes realizadoras francesas da actualidade. Neste filme, porém, ela falha redondamente, tanto no argumento quanto na direção. As situações criadas mostram-se inconsequentes, os planos não se distendem suficientemente para que todos possamos respirar e as opções estéticas olham-se com reservas. A relação entre Tony e Chris, que obviamente reflecte os próprios problemas da realizadora (casada com Olivier Assayas e considerada uma cineasta menor, na sombra do marido), não convence o espectador, apesar de estar carregada de elementos autobiográficos. Entre a trapalhada do argumento e a pobreza dos diálogos, excelentes atores como Tim Roth e Vicky Krieps mostram-se incapazes de dar vida aos personagens, revelando um enorme desconforto face ao que parece ser uma improvisação mais própria de amadores. Finalmente, “A Ilha de Bergman” está saturada de referências intertextuais e alusões contextuais que podem ter algum interesse para os indefectíveis de Bergman mas que para o espectador comum são absolutamente anedóticas.
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