Era uma vez… Talvez a história deste espectáculo deva começar desta forma, convidando a recuar duas décadas no tempo e a espreitar o primeiro workshop do “Tavira em Jazz”. Foi lá que professor e alunos se conheceram, estreitaram laços e, ao longo de seis anos, se encontraram semanalmente para fazer aquilo que mais gostam: tocar música e, em particular, mergulhar nos sons e tons do Jazz. O professor é Zé Eduardo, compositor e pedagogo do Jazz, fundador e director da Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal e responsável pelo aparecimento de toda uma nova geração de bons músicos de Jazz, em Portugal como em Espanha. Os alunos são os “Baby Jazz” Giotto Roussies (piano), Wenzl McGowen e Olympia Jensen (saxofone tenor), Eddie "Lord" Jensen (bateria), Attila Muehl (guitarra) e Emese Muehl (voz). O reencontro dos sete sobre um mesmo palco teve lugar na passada sexta-feira, numa iniciativa do Teatro das Figuras. Uma noite seguramente emotiva mas não particularmente conseguida.
De Zé Eduardo conhecemos as qualidades e capacidades de um grande músico. Se dúvidas restassem, o tema que fechou o alinhamento do concerto, “Coronology”, foi mesmo o único onde o Jazz fluiu sem constrangimentos ou concessões a outros tons ou ritmos. Tudo o mais foi uma mistura de géneros, sem homogeneidade ou ligação entre si, cujo único propósito pareceu ser o de mostrar o trabalho de composição dos “Baby Jazz”, sobretudo de Giotto Roussies e Attila Muehl. Percebe-se que o concerto tenha resultado em desconserto, o todo agravado pelos quase nulos dotes de comunicação de Emese Muehl, incompreensível naquilo que foi pronunciando (o som também não ajudava, o trabalho a este nível totalmente descuidado) e com grandes insuficiências vocais, fazendo-nos olhar para a interpretação dos vários temas como uma apresentação de final de curso para a família e amigos.
Há um enorme mérito do Teatro das Figuras em promover o reencontro de Zé Eduardo com os “Baby Jazz” e, desta maneira, contribuir para a celebração do Jazz e lembrar todo um percurso de luta e resistência por onde passam, entre outros, Anabela Moutinho e Louis Leger, mais o seu Cantaloupe Café, em Olhão, “o único clube de Jazz a sul de Lisboa”. No demais, são muito poucos os motivos que permitam reter na memória a noite em Faro. Embora simpático, o concerto raramente ultrapassou uma bitola de mediania, parecendo mais próximo de uma sessão avançada desse workshop inaugural de há vinte anos do que de um grupo onde se identificam “grandes dotes musicais”, de músicos que seguem as suas carreiras em Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos. Desconheço o tempo que o septeto teve para definir e trabalhar o alinhamento e talvez possa admitir alguma espécie de constrangimento nesta subida ao palco em conjunto tantos anos depois e enfrentar uma sala muito despida de público. Sinto, porém, que poderia e deveria ter havido mais cuidado na preparação do espectáculo. O público esperava mais. O público merecia mais.
Sem comentários:
Enviar um comentário