TEATRO: “Nosocómico”
Texto | José Carretas, a partir de “Médecin Volant” e “La Jalousie du Barbouillé”, de Molière
Encenação, cenografia e cartaz | José Carretas
Figurinos | Margarida Wellenkamp
Música | Ambre de Souze, Thiago Mûriere e Jean-Baptiste Lully
Interpretação | Fernando Landeira, Hâmbar de Sousa, Sílvia Morais, Susana Gouveia e Tiago Moreira
Produção | Teatro das Beiras
55 Minutos | Maiores de 12 anos
Teatro das Beiras, Covilhã (ao ar livre)
02 Jul 2021 | sex | 22:00
É sob os melhores auspícios que, nos idos de 1974, Fernando Sena e Rui Sena fundam o Grupo de Intervenção Cultural da Covilhã, precursor do actual Teatro das Beiras. Os princípios de então - “a companhia nasce fruto das necessidades culturais da região e do objectivo dos fundadores de produzir espectáculos teatrais com mais regularidade” - foram-se alicerçando e o colectivo vem acolhendo nas suas instalações, com uma regularidade impressionante, exposições, workshops, espectáculos e debates culturais, contribuindo assim para dar mais vida à vida desta região do interior do País. O fruto deste trabalho tem nas 109 produções até à data uma medida deveras significativa, assente na qualidade de encenadores como Gil Salgueiro Nave, Isabel Bilou, Rogério de Carvalho, Graeme Pulleyn, Mário Barradas ou José Carretas e nas peças de autores tão importantes como Calderón de la Barca, Luigi Pirandello, Molière, Bertolt Brecht, Eduardo de Filippo, Karl Valentin, José Sanches Sinisterra, Dario Fo, Carlo Goldoni, Gil Vicente e muitos outros.
Com encenação de José Carretas, “Nosocómico” é a segunda produção do Teatro das Beiras no corrente ano e tem como ponto de partida dois textos do início de carreira de Molière - “Médecin Volant” e “La Jalousie du Barbouillé”. Neles, é já possível perceber “o enorme talento que veio a consagrar o Mestre: um humor feito de irreverência, de quebra de preconceitos, de crítica social desbragada, sem filtros, sem auto-censura”, segundo José Carretas, nesta que é a sua oitava encenação com o GICC / Teatro das Beiras. À roda de Esganarelo, um falso médico, e do seu engenho para ludibriar até os mais precavidos, a peça leva-nos ao encontro de médicos e de doenças ao tempo de Molière, recordando-nos a terrível Peste Negra que dizimou milhões de pessoas em todo o mundo. Também na peça esta doença parece querer tomar a vida de uma formosa jovem, mas felizmente será apenas “andaço” e tudo parecerá ter remédio numa dose reforçada de pastéis de molho.
Belo momento de teatro, aquele vivido e sentido no exterior do Teatro das Beiras, numa noite de autêntico Verão. Movimentada e bem disposta, a peça vive, em grande medida, da qualidade interpretativa de Fernando Landeira que, no papel de Esganarelo, consegue arrancar saborosas gargalhadas a um público que, na noite da passada sexta feira, esgotou o espaço. O cenário, com tanto de simples como de versátil, presta-se ao jogo de enganos que preenche o texto, as entradas e saídas de cena sucedendo-se a um ritmo furioso, os trocadilhos e subentendidos a tomarem conta das falas e a tornarem tudo ainda mais divertido. E há ainda uma máxima que se retira da peça e que distancia a Medicina de hoje daquela que se fazia há trezentos e cinquenta anos atrás: “Médico é mais do que um estatuto; é uma missão”. A peça entra agora em itinerância, com vinte e duas apresentações que se estendem até meados de Agosto. Imperdível!
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