LIVRO: “Contracorpo”,
de Patrícia Reis
Edição | Cecília Andrade
Ed. Publicações Dom Quixote, Março de 2013 (2ª edição, Maio de 2013)
“Pedro descobriu outra mãe em Maria e ela percebeu mais coisas no filho. Já não são o contracorpo um do outro, são dois corpos em frente um ao outro, a verem-se, a analisarem-se, a medirem-se. Não são apenas os desenhos e os silêncios de Pedro, mas também uma forma de enquadramento do mundo que é dela, a mãe, e ainda um reflexo de ver distintamente as formas do mundo que porventura, os aproxima.”
Julguei adivinhar o propósito de “Contracorpo” logo nas primeiras páginas. A história do rapaz que se descobre a si mesmo através dos gestos simples de um quotidiano marcado por um pai ausente não é propriamente original. Que os avós maternos e o tio mais novo sejam uma boa rectaguarda ou que revele um jeito fora do comum para o desenho pouco acrescenta ao livro. E depois há esta mãe angustiada com a possibilidade de perder o filho, depois de ter visto morrer o marido, e que é mais fonte de irritação do que de compreensão ou solidariedade. Daí que a tentação para desistir do livro fosse grande. Ainda bem que o não fiz.
Patrícia Reis tem o mérito de ganhar o leitor ao transferir o foco para o interior daquela mãe. A história toma um rumo inesperado e torna-se particularmente apelativa. O ritmo e espessura do livro têm neste processo gradual de aproximação entre mãe e filho a sua conta, peso e medida. Pôr este Pedro a contar(-se) é outra das boas coisas do romance. O resultado final é entusiasmante, levando-me a crer que este será, porventura, o melhor livro de Patrícia Reis, depois de ter lido “A Construção do Vazio” e “As Crianças Invisíveis”. Uma última nota para mostrar, pela enésima vez, o meu desagrado pelas sinopses descuidadas, revelando aquilo que importava esconder. Ditames do marketing, bem sei.
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