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sexta-feira, 19 de março de 2021

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "O Olhar que Vê" | Rosa Bela Cruz


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “O Olhar que Vê”,
de Rosa Bela Cruz
Biblioteca Municipal de Ovar
15 Mar > 15 Mai 2021


É sempre com redobrada emoção que vemos surgir a oportunidade de apreciar o trabalho de alguém que muito admiramos. Mais emocionante ainda é poder fazê-lo depois de um angustiante período de restrição de liberdades, os espaços de conhecimento e saber há tanto tempo encerrados, a cultura amordaçada. Agora que vamos desconfinando a conta-gotas, que as livrarias e bibliotecas voltam a abrir as suas portas ao público e o contacto com um sem-número de actividades nelas centralizadas volta a ser uma realidade, é tempo de dirigir os passos para a Biblioteca Municipal de Ovar, ao encontro de “O Olhar que Vê”. Ao encontro de Rosa Bela Cruz e da sua pintura. Das suas mulheres.

Nas paredes da Sala de Exposições são muitos os olhos que nos olham. Olhos que nos confrontam, nos interrogam, nos advertem. Mas, sobretudo, que nos confortam e nos animam. Para percebermos melhor este aparente paradoxo, talvez seja preciso recuar no tempo a este mesmo espaço onde, em finais de 2017, a pintora apresentou “Eterno Retorno”. Ou voltar a “escutar” os “Murmúrios” que, em tempos mais recentes, povoaram a Sala Júlio Resende do Auditório Municipal de Gondomar; ou ainda (e sobretudo) recordar a exposição marcante que foi “À Flor da Pele”, patente na ÁRVORE – Cooperativa de Actividades Artísticas. Em todos estes momentos, a pintura fez-se no feminino. Uma pintura íntima, visceral, militante nos seus propósitos de denúncia desse estigma que marca o “ser mulher”, essa espécie de fardo, de espinho, de cárcere. Algo muda, porém.

Sendo as mesmas, as mulheres que agora nos olham são diferentes. Os tons sombrios abandonaram os seus rostos, os véus deixaram de servir de resguardo, os queixos ergueram-se e as poses fizeram-se causa e razão, vigor e altivez. Não há dúvida de que estas mulheres mudaram. A sua atitude mudou. Também a sua vontade e a sua confiança. São mulheres mais conscientes dos seus direitos, mais fortes, mais audazes. Logo, mais elegantes e graciosas, mais harmoniosas, mais belas. Rosa Bela Cruz tem este dom: o de, com a sua arte, expressar as emoções mais vivas no que o “ser mulher” tem de íntimo e precioso. Percorremos com o olhar cada trabalho. Lá encontramos, ainda, uns olhos enormes e penetrantes que parecem não nos querer largar. Eles dizem-nos que há ainda muito por fazer no que aos direitos das mulheres e à igualdade de género diz respeito. Mas o olhar destas mulheres é, hoje, o olhar que vê!

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