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sábado, 12 de dezembro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "O Lago Sagrado" | Mário Lisboa


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O Lago Sagrado”,
de Mário Lisboa
Ambiente Imagens Dispersas 2020
Centro de Artes de Ovar
05 Dez 2020 > 22 Jan 2021


Dar a conhecer “O Lago Sagrado”, tal é a proposta do fotógrafo de natureza Mário Lisboa ao encontro das extensões geladas do Lago Baikal, no sudoeste da Sibéria. Através de um conjunto de vinte e cinco fotografias agora expostas na galeria do Centro de Artes de Ovar, o artista oferece-nos o seu olhar sobre aquele que é, com os seus 25 milhões de anos, o mais antigo lago do Mundo, mas também o mais profundo e onde podemos encontrar 20% de toda a água doce não gelada da Terra. Devido à sua ancestralidade e isolamento, possui uma das faunas de água doce mais ricas e singulares do planeta, o que faz dele as “Galápagos da Rússia”. E é, como se comprova pelas imagens, um local de uma fotogenia incrível, sobretudo no Inverno.

Uma mostra destas seria sempre uma mostra invulgar. A vastidão dos espaços gelados oferece um enorme fascínio. As formas insólitas que o gelo toma, modelado por temperaturas extremas, pressões descomunais e ventos fortíssimos, representam um desafio à nossa imaginação. As formações rochosas impõem-se na paisagem para assumir uma dimensão quase mitológica. Há, enfim, essa certeza de um conjunto de registos em condições extremamente adversas – Mário Lisboa fala de um percurso de cerca de 300 quilómetros em hovercraft, com temperaturas entre os -15º e os -30º Celsius -, onde a transparência, a luz, a profundidade e as texturas se tornam palpáveis. O que de mais invulgar esta mostra tem, todavia, é a sensibilidade do olhar de Mário Lisboa, que não hesita em deter-se no quase insignificante para melhor valorizar a gigantesca obra da natureza que tudo absorve e esmaga.

Não se pode negar ser esta “uma viagem por uma estrada profunda e gelada”, conforme anunciado em subtítulo da exposição. Mas ela é, acima de tudo, uma viagem ao interior do próprio Mário Lisboa, na forma como demonstra o seu amor pela mãe natureza e de como o seu olhar sensível se transforma em poesia – “o silêncio, o sonho de um gato com olhos / madrepérola teve uma visão de uma coruja / com a íris de um rio congelado / que tinha um cavalo marinho.” Elevado à condição de belo, o pequenino peixe para sempre aprisionado no gelo é, paradoxalmente, um símbolo da força e das fragilidades de um ecossistema ameaçado pela pressão humana e pelo aquecimento global. Vale a pena um olhar demorado sobre as imagens, pedindo ao visitante que atente na beleza que se abre ao seu redor. Uma beleza cujo equilíbrio instável pede a consciencialização de todos para os problemas que assolam o nosso planeta.

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