EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O Lago Sagrado”,
de Mário Lisboa
Ambiente Imagens Dispersas 2020
Centro de Artes de Ovar
05 Dez 2020 > 22 Jan 2021
Uma mostra destas seria sempre uma mostra invulgar. A vastidão dos espaços gelados oferece um enorme fascínio. As formas insólitas que o gelo toma, modelado por temperaturas extremas, pressões descomunais e ventos fortíssimos, representam um desafio à nossa imaginação. As formações rochosas impõem-se na paisagem para assumir uma dimensão quase mitológica. Há, enfim, essa certeza de um conjunto de registos em condições extremamente adversas – Mário Lisboa fala de um percurso de cerca de 300 quilómetros em hovercraft, com temperaturas entre os -15º e os -30º Celsius -, onde a transparência, a luz, a profundidade e as texturas se tornam palpáveis. O que de mais invulgar esta mostra tem, todavia, é a sensibilidade do olhar de Mário Lisboa, que não hesita em deter-se no quase insignificante para melhor valorizar a gigantesca obra da natureza que tudo absorve e esmaga.
Não se pode negar ser esta “uma viagem por uma estrada profunda e gelada”, conforme anunciado em subtítulo da exposição. Mas ela é, acima de tudo, uma viagem ao interior do próprio Mário Lisboa, na forma como demonstra o seu amor pela mãe natureza e de como o seu olhar sensível se transforma em poesia – “o silêncio, o sonho de um gato com olhos / madrepérola teve uma visão de uma coruja / com a íris de um rio congelado / que tinha um cavalo marinho.” Elevado à condição de belo, o pequenino peixe para sempre aprisionado no gelo é, paradoxalmente, um símbolo da força e das fragilidades de um ecossistema ameaçado pela pressão humana e pelo aquecimento global. Vale a pena um olhar demorado sobre as imagens, pedindo ao visitante que atente na beleza que se abre ao seu redor. Uma beleza cujo equilíbrio instável pede a consciencialização de todos para os problemas que assolam o nosso planeta.
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