Páginas

domingo, 22 de novembro de 2020

CONCERTO: "Margem" | Adriana Calcanhotto



CONCERTO: “Margem” | Adriana Calcanhotto
Centro de Artes de Águeda
20 nov 2020 | sex | 20h30 


O apego de Adriana Calcanhotto ao mar, aos seus símbolos e significados, não é de agora. Em “Enguiço”, seu primeiro trabalho em disco, já lá estão o mar e a ilha, o navio e todo um ambiente envolvente que ajudaram a cantora a criar uma imagem de marca e a tornaram numa das maiores compositoras e intérpretes da música brasileira e do mundo. “Maritmo”, lançado em 1998, é o primeiro álbum da chamada “trilogia do mar” e nele se consubstancia a paixão da cantora pelo elemento água e pelos vastos espaços de puro azul. Dez anos mais tarde surgiu o álbum da continuação, “Maré”, e em 2019 “Margem” vem colocar um ponto final num projecto sistémico, profundo e íntimo, no qual voz e música rimam com arte e sedução.

Mais do que a apresentação de um álbum, “Margem” é a revistação da trilogia no seu todo. A digressão teve o seu início no Verão de 2019, passou mais tarde pelo nosso País e entretanto o mundo parou por força de um maldito vírus que veio pôr tudo em causa. A interrupção gerou interrogações, trouxe com ela a frustração e o desespero e obrigou o mundo das artes e do espectáculo a reinventar-se. No espaço de 43 dias, Adriana Calcanhotto produziu, gravou e misturou “Só”, o seu décimo segundo álbum de estúdio. E eis que, graças ao recondicionamento das medidas preventivas em plena segunda vaga da pandemia, uma pequenina aberta permitiu o retomar da digressão e a reposição dos concertos ainda agendados em Portugal. E foi assim que, na noite da passada sexta-feira, Adriana Calcanhotto subiu ao palco do Centro de Artes de Águeda, trazendo consigo os virtuosos Bem Gil (guitarra), Bruno Di Lullo (baixo) e Rafael Rocha (bateria, percussões acústicas e electónica), o trio responsável pela bela sonoridade de Margem.

Frágil na pose e na presença, quase despojada, Adriana Calcanhoto quis vincar que “a minha terra é o mar”. Foi assim que, num alinhamento onde couberam vinte temas, a cantora nos deu a escutar, de forma intimista, poemas rolados no leve balançar das ondas ou na fúria das marés, do quente “Porto Alegre (Nos Braços de Calipso)” ao ritmado “Margem”. O grito de denúncia que é “Ogunté” - “Crianças encalhadas na costa de Lesbos / Pacotes de cruzeiros pelas Ilhas Gregas / O plástico do mundo no peixe da ceia / O que será que cantam as tuas baleias?” -, foi um dos momentos altos do concerto, rematado por um plangente “Salvemos o Pantanal e a Amazónia!”. Maria Bethania, Dorival Caymii ou Chico Buarque passaram igualmente por Águeda em temas como “Era Para Ser”, “Quem Vem Pra Beira do Mar” e “Futuros Amantes”. E por aqui passou, também, o icónico “Fico Assim Sem Você”, as vozes do público a fazerem-se ouvir por detrás das máscaras, rematando um serão inesquecível.

Sem comentários:

Enviar um comentário