CONCERTO: “Canções de roda, lenga lengas e outras que tais”
Ana Bacalhau | Jorge Benvinda | Sérgio Godinho | Vitorino
O Gesto Orelhudo
Centro de Artes de Águeda
11 Out 2020 | dom | 18:00
São muitos os tesouros que guardamos nos baús que se abrigam nos nossos cérebros, uma grande parte dos quais completamente esquecidos, quem sabe se para sempre. Outros há, porém, que volta e meia saltam cá para fora, puxados por uma força invisível que se insinua sob a forma de um aroma, um sabor, um vislumbre, uma simples palavra ou uma cantiga. Foi precisamente sob a forma de cantigas ou, fazendo jus ao título do concerto que fechou ontem a 19ª edição do Festival “O Gesto Orelhudo, em jeito de “canções de roda, lenga lengas e outras que tais”, que muitas memórias e outras tantas histórias nos acudiram à mente, transportando-nos pelo breve tempo de uma hora aos lugares da infância e a um mundo muito mais belo e verdadeiro. De máscara no nariz, é certo, mas de orelhas sempre no ar.
“Indo eu, indo eu a caminho de Viseu”, “Ah ah ah minha machadinha”, “As pombinhas da Catrina”, “Ó Rosa arredonda a saia”, “Oliveirinha da serra” ou “Tia Anica de Loulé” trouxeram consigo as chaves dos baús, fazendo com que do seu interior se soltassem os risos mais sinceros, os gestos mais puros, os porquês mais inocentes. Com que se revissem amigos perdidos lá atrás na meninice, se regressasse aos lugares da fantasia e se revisitassem outras canções de roda e outras lenga lengas. Temperando a nostalgia, “Um Contra o Outro”, “Coro das Velhas” ou “Queda do Império” prolongaram a boa música e abriram os braços para acolher outros que tais. E assim se escutou também “No Alto Daquela Serra”, “A Valsa do Afonso”, “Ó Menino Ó” - Vitorino e Ana Bacalhau num dos mais belos momentos da tarde -, “João”, “Erva Cidreira” e “As Armas do Meu Adufe”.
Foi com enorme entrega e doses gigantes de boa disposição e optimismo que Ana Bacalhau, Jorge Benvinda, Sérgio Godinho e Vitorino nos ofereceram estas “canções de roda, lenga lengas e outras que tais”. Por detrás das extraordinárias qualidades vocais de cada um deles, há um enorme coração. E há, também, quatro talentosos instrumentistas: o pianista Filipe Raposo, o guitarrista Luís Peixoto, o baixista António Quintino e o percussionista Quiné Teles. Para além disso, na tarde de ontem houve igualmente o Coro da Escola de Palco da D’Orfeu e o Grupo Coral Jovem da ARCEL, conjunto de meninos e meninas que, para além do acompanhamento dado aos solistas nos temas finais, ainda nos ofereceram o outro momento alto do espectáculo com uma fabulosa interpretação da “Canção de Embalar”, de Zeca Afonso. Estão todos de parabéns e de parabéns está a d’Orfeu Associação Cultural e O Gesto Orelhudo pela sua insistência em manter viva a chama da arte e da cultura. Por humor à música!
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