LIVRO: “Com os Holandeses”,
de J. Rentes de Carvalho
Ed. Quetzal Editores, Janeiro de 2009 (1ª edição)
Quando, num sábado de Março de 1956, chegou a Amsterdão, J. Rentes de Carvalho estaria longe de imaginar que as voltas da vida o levariam a fixar-se tão solidamente no país das tulipas. Os porquês ficam levemente explanados neste livro. Já a Holanda e os holandeses são aqui alvo de uma profunda reflexão, fruto dos vários e violentos choques de mais de meio século de permanência. Antes de acalmar, aprender e compreender, foram longos os anos em que o autor permaneceu em pé de guerra, não resistindo aos desabafos. Não proferiu insultos, não feriu quem o acolheu com setas envenenadas, mas à sinceridade da crítica só pôs os travões da decência. Com isto aprendeu uma lição: “Em vez das pauladas que esperava, que talvez merecesse, os holandeses mostraram que me tinham em apreço, agradecendo a franqueza.”
Terceira obra de José Rentes de Carvalho, “Com os Holandeses” evidencia o cariz autobiográfico da sua prosa, particularmente significativo em obras posteriores, como “Ernestina” ou “La Coca”, mas que se insinuava já no seu romance de estreia, o belíssimo “Montedor” (1968). É um livro que, remetendo para factos e números de há meio século atrás, deveria exigir do leitor disponibilidade e algum esforço para se enquadrar política e socialmente com a realidade vigente. A verdade, porém, é que ao ouvirmos hoje as bojardas de senhores como Dijsselbloem ou Rutte, percebemos que a Holanda e os holandeses pouco ou nada mudaram. E assim continuam a enriquecer e a entesourar à custa do parasitismo fiscal sobre os outros países da União Europeia, nomeadamente os países do Sul que pretendem domar.
Do trabalho às famílias, da imprensa à culinária, da tecnologia à revolução sexual, de tudo isto e muito mais nos fala J. Rentes de Carvalho neste seu livro, dando a ver o quanto a religião, a política e o dinheiro são a trindade das paixões dos holandeses. Fá-lo no seu jeito muito próprio, sem rodeios, o tom sarcástico a pontuar muitas das suas observações, uma pitada de humor a temperar o discurso, provando o quão enraizada se mantém a sua oposição a uma certa maneira holandesa de ser até aos dias de hoje. Desconcertado com algumas bizarrias, divertido com os hábitos de um quotidiano em constante contradição e espantado com certos números – desconhecia por completo que, em volume e valor, o café é o segundo produto do comércio mundial, logo a seguir ao petróleo, e que em ambos dispõem os holandeses uma posição extraordinariamente relevante -, o leitor só pode sair deste “Com os Holandeses” mais enriquecido. E de pé ainda mais atrás!
de J. Rentes de Carvalho
Ed. Quetzal Editores, Janeiro de 2009 (1ª edição)
“ – Então não és judeu, mas és português! – a informar que aos seus olhos era a mesma coisa. E logo a seguir explicou-me que era democrata a cem por cento, profundamente democrata, contra as ditaduras, contra as opressões. Mas nós latinos, curiosa opinião tantas vezes ouvida, preguiçosos e incapazes como somos, atrasados como andamos, desorganizados por natureza, tendendo só para as ocupações baixas do comer e do fornicar, a nossa salvação só podia vir dos governos fortes.”
Quando, num sábado de Março de 1956, chegou a Amsterdão, J. Rentes de Carvalho estaria longe de imaginar que as voltas da vida o levariam a fixar-se tão solidamente no país das tulipas. Os porquês ficam levemente explanados neste livro. Já a Holanda e os holandeses são aqui alvo de uma profunda reflexão, fruto dos vários e violentos choques de mais de meio século de permanência. Antes de acalmar, aprender e compreender, foram longos os anos em que o autor permaneceu em pé de guerra, não resistindo aos desabafos. Não proferiu insultos, não feriu quem o acolheu com setas envenenadas, mas à sinceridade da crítica só pôs os travões da decência. Com isto aprendeu uma lição: “Em vez das pauladas que esperava, que talvez merecesse, os holandeses mostraram que me tinham em apreço, agradecendo a franqueza.”
Terceira obra de José Rentes de Carvalho, “Com os Holandeses” evidencia o cariz autobiográfico da sua prosa, particularmente significativo em obras posteriores, como “Ernestina” ou “La Coca”, mas que se insinuava já no seu romance de estreia, o belíssimo “Montedor” (1968). É um livro que, remetendo para factos e números de há meio século atrás, deveria exigir do leitor disponibilidade e algum esforço para se enquadrar política e socialmente com a realidade vigente. A verdade, porém, é que ao ouvirmos hoje as bojardas de senhores como Dijsselbloem ou Rutte, percebemos que a Holanda e os holandeses pouco ou nada mudaram. E assim continuam a enriquecer e a entesourar à custa do parasitismo fiscal sobre os outros países da União Europeia, nomeadamente os países do Sul que pretendem domar.
Do trabalho às famílias, da imprensa à culinária, da tecnologia à revolução sexual, de tudo isto e muito mais nos fala J. Rentes de Carvalho neste seu livro, dando a ver o quanto a religião, a política e o dinheiro são a trindade das paixões dos holandeses. Fá-lo no seu jeito muito próprio, sem rodeios, o tom sarcástico a pontuar muitas das suas observações, uma pitada de humor a temperar o discurso, provando o quão enraizada se mantém a sua oposição a uma certa maneira holandesa de ser até aos dias de hoje. Desconcertado com algumas bizarrias, divertido com os hábitos de um quotidiano em constante contradição e espantado com certos números – desconhecia por completo que, em volume e valor, o café é o segundo produto do comércio mundial, logo a seguir ao petróleo, e que em ambos dispõem os holandeses uma posição extraordinariamente relevante -, o leitor só pode sair deste “Com os Holandeses” mais enriquecido. E de pé ainda mais atrás!
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