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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

EXPOSIÇÃO: "Cabrita - Um Olhar Inquieto"


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EXPOSIÇÃO: Pedro Cabrita Reis | “Cabrita - Um Olhar Inquieto” 
Museu de Arte Contemporânea de Serralves 
20 Nov 2019 > 15 Mar 2020


Pedro Cabrita Reis faz parte da história do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, que recém-inaugurado, logo em 1999 acolheu uma exposição sua. Duas décadas volvidas, o artista regressa a Serralves para nos dar a ver uma obra que traduz exemplarmente a relação entre a prática artística e uma profunda reflexão sobre a função dos museus. Fá-lo através da criação de um único trabalho de grande escala, composto por uma centena de painéis nos quais se inscrevem momentos de vida. Objetos, fotografias, desenhos, documentos e outros trabalhos, dão forma a um ambiente de instalação total e que é, de acordo com as palavras de Pedro Cabrita Reis, “um apanhado, uma recolha de inúmeros momentos da minha história pessoal, da minha história enquanto artista, dos inúmeros lugares por onde andei, das pessoas que conheci e acima de tudo das coisas que fui fazendo.

Uma das muitas inquietações de Pedro Cabrita Reis encontra-se expressa num painel onde se pode ler, ao jeito de interrogação, a frase Politicamente correto e que não é mais do que uma manifestação do seu tédio perante certas pessoas que, nos dias que correm, se arrogam o direito de impor aos outros, de forma quase violenta, as suas ideias: “Vejo em muitas linhas de pensamento que ilustram aquilo que hoje em dia é entendido como politicamente correto nada mais que oportunismos. Nada mais do que aproveitamentos distorcidos, cínicos e perversos de situações de grande injustiça social, de problemas relacionados com o clima ou questões que têm a ver com o género. Tudo isso são questões que se nos põem e que nós temos de enfrentar e que temos de integrar e, acima de tudo, temos de discutir. O que não temos é de seguir agendas de pessoas que constroem carreiras montadas sobre isto, refere a propósito. 

Ao longo de quatro vastas salas, o público é convidado a penetrar numa espécie de labirinto, organizando e desenhando os seus passos em perfeita liberdade, sem qualquer ordem ou hierarquização. Entre o muito que há para descobrir no conjunto destas peças, estão autênticos desafios, como aquele que o painel inicial abriga e que nos diz, metaforicamente, que é preciso partir muita pedra até se poder saborear um bom charuto cubano. Uma escada que foi utilizada na apanha da azeitona e um molho de videiras, definem um agricultor de subsistência no sentido da própria vida, enquanto a vela de um barco ou uma bola de couro ao lado de um poster de um clube de futebol remetem para paixões que se estendem à infância do artista. “Museu?”, escrito em letras garrafais, leva-nos aos nomes e aos lugares da ditadura salazarista, associando História e memória. O fascínio que cada painel convoca é único e o melhor é partir à sua descoberta. O visitante sai deste “olhar inquieto” com um conhecimento mais vasto de Pedro Cabrita Reis, enquanto artista e enquanto pessoa, mas sai, sobretudo, com um conhecimento maior sobre si próprio.

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