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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "No Chão do Paraíso"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “No Chão do Paraíso”,
de Albuquerque Mendes
Auditório Municipal de Gondomar – Sala Júlio Resende
14 Dez 2019 > 09 Fev 2020


Tirando alguns trabalhos avulso que tive oportunidade de apreciar no âmbito da Bienal de Arte de Gaia ou desse extraordinário projecto que é o Museu de Causas, a obra de Albuquerque Mendes é-me desconhecida. Busco informações e percebo que nasceu em Trancoso, em 1953, e que muitos não hesitam em considerá-lo um dos nomes fundamentais da arte portuguesa afirmados ao longo da década de 80 do século passado. “Poeta do traço e da cor, insere-se no restrito grupo de artistas que, de uma forma consciente, procura, numa abordagem contemporânea, explorar as inesgotáveis potencialidades da pintura, buscando referentes nas suas próprias histórias e memórias”, leio. A curiosidade aguça-se e vou à sua procura.

Com curadoria de Agostinho Santos, é na Sala Júlio Resende do Auditório Municipal de Gondomar que, por estes dias, se pode ver “No Chão do Paraíso”, exposição centrada na produção mais recente do artista. Nela é patente a arte como forma de expressão, adivinhando-se a inquietação e a dúvida do Albuquerque Mendes sobre alguns dos mitos da cultura e da história portuguesas. Há trabalhos que parecem remeter para a infância e juventude do pintor, revisitando um passado que se adivinha feliz. Outros há, porém, que se centram nas diferenças de género, no correr do tempo, na afirmação da força - a palavra “tropa” inscrita de forma clara - ou no valor do dinheiro, trazendo para a actualidade alguns dos temas que o afligem e para os quais busca respostas.

Os rostos são depurados, contidos, como se neles o artista buscasse, como ideário, a perfeição plástica das formas e, paradoxalmente, a inexpressividade. A tudo isto acrescenta uma tipificada panóplia de sinais - “ar”, “sal”, “amar”, “rã” -, “embrulhando” o todo numa disposição precisa ao longo da galeria, sobre painéis decorados, libertando a pintura das restrições da superfície da tela, tornando-a parte duma “tela” muito maior. Não há nisto acaso ou inocência: Os quadros são, cada vez mais, objectos, e é nessa dimensão que se apresentam ao olhar do público. Vale a pena rumar a Gondomar para conhecer a obra e o artista. O tempo não será dado por mal empregue.

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