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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: Sérgio Duarte | "A Paisagem Escondida de Copacabana [Olhares Verticais]"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Paisagem Escondida de Copacabana [Olhares Verticais]”,
de Sérgio Duarte
Centro de Artes de Ovar
24 Jan > 25 Abr 2020


“Evitem dizer que algumas vezes cidades diferentes sucedem-se no mesmo solo e com o mesmo nome, nascem e morrem sem se conhecer, incomunicáveis entre si. Às vezes, os nomes dos habitantes permanecem iguais, e o sotaque das vozes, e até mesmo os traços dos rostos; mas os deuses que vivem com os nomes e nos solos foram embora sem avisar e em seus lugares acomodaram-se deuses estranhos. É inútil querer saber se estes são melhores do que os antigos, dado que não existe nenhuma relação entre eles, da mesma forma que os velhos cartões-postais não representam a Maurília do passado mas uma outra cidade que por acaso também se chamava Maurília.”
Italo Calvino, in “As Cidades Invisíveis”

Inaugurou na passada sexta feira, no Centro de Artes de Ovar, a Exposição de Fotografia de Sérgio Duarte intitulada “A Paisagem Escondida de Copacabana [Olhares Verticais]”. Apresentado na Bienal de Arquitectura de Veneza, em 2018, no contexto da exposição com o tema “Time Space Existence”, promovida pelo European Cultural Center / GAA Foundation e patente no Palazzo Mora, a mostra contempla uma selecção de imagens a partir de uma extensa colectânea que o fotógrafo recolheu em Copacabana, Rio de Janeiro, ao longo de um período da sua vida em que ali exerceu actividade profissional.

Vale a pena atentar no título da exposição e dissecá-lo, palavra por palavra. Começando pelo fim, entre parêntesis, os “olhares verticais” remetem para a visão estética e artística do fotógrafo, para a opção por um austero preto e branco, para as tomadas de perspectiva que recorrem frequentemente ao picado e ao contra-picado e, mais interessante do que isso, para a disposição de alguns dos trabalhos no chão ou no tecto da galeria de exposições, convidando o espectador a mimetizar o fotógrafo e a experimentar esses “olhares verticais”, para cima ou para baixo, com ele partindo em busca do melhor ângulo, atentando no mais ínfimo detalhe.

Depois há “Copacabana”, a “princesinha do mar” que Tom Jobim inspiradamente cantou. É neste bairro, um dos mais conhecidos do Brasil e do Mundo - e também o mais populoso da zona sul do Rio de Janeiro, com mais de 150 mil habitantes -, que o fotógrafo faz incidir a sua atenção. Não para nos mostrar a enorme língua de areia branca povoada de banhistas, o famoso hotel Copacabana Palace, o desenho ondulado da calçada portuguesa a perder de vista ou o espectáculo dos fogos de artifício na noite da Passagem de Ano. Antes aquilo que se abriga (se esconde) nas traseiras desta icónica fachada com mais de quatro quilómetros: Aglomerados pardacentos, “de vãos claustrofóbicos e espaços abertos, de amplitude e plenitude, de detalhes menores e grandezas absurdas (…), prédios modernos e outros mais antigos, enclausurados em redor de si mesmos, que nem anónimos e inamovíveis monstros de betão”.

É nesta “paisagem escondida” que fatalmente nos detemos, dela recolhendo o imediatismo das imagens, mas também uma infinidade de metaleituras onde “arquitectura”, “sociedade” e “betão” combinam com “fortaleza”, “criminalidade” e “lixo”. É mergulhando na sua expressão inexpressiva, no seu anodinismo vincado, que percebemos que estar entre o bem e o mal da sociedade são concepções que, além de subjectivas, invocam escolhas de posicionamento. O grande mérito de Sérgio Duarte é o de nos mostrar a face da mescla, do diferente, daquilo que se encontra relegado à dimensão de excluído, como quem dispensa o desenho e o colorido da carpete para olhar o lixo que por debaixo dela se acoita. Uma belíssima escolha dos programadores do Centro de Artes a merecer visita atenta.

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