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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Like a
Bird”,
de Johanna-Maria Fritz
Encontros da Imagem de Braga 2019
Nova Galeria do Largo do Paço
14 Set > 27 Out 2019
“(...) Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
E canta por tudo e por nada
Mesmo com a boca fechada (...)”
[in, “O Pássaro da Cabeça”, de
Manuel António Pina]
No âmbito da mais recente edição dos
Encontros da Imagem, Johanna-Maria Fritz trouxe à cidade de Braga
uma exposição foto-documental onde mostra como a população de
regiões em difícil situação política - Irão, Afeganistão,
Palestina, Daguestão, Indonésia e Rajastão (Índia) – encontram
nas artes circenses uma forma de amenizar o seu conturbado
quotidiano. Numa altura em que são mais de 357 milhões as crianças
a viverem hoje em zonas de conflito ou muito próximo delas (um
aumento de 75% em relação aos 200 milhões de menores que estavam
vulneráveis em 1995), este testemunho que nos é trazido pela
fotógrafa alemã revela-se particularmente significativo, indo ao
encontro da grande interrogação colocada este ano pela organização
do certame: “What Now?”.
Em duas dezenas de imagens, Johanna-Maria Fritz documenta a criação de novos fundamentos de vida com
base nas capacidades individuais de cada um, no caso concreto
explorando o circo como base deste processo. E porquê o circo?
Certamente pelo fascínio gerado, de tal forma fecundo que
normalmente é tomado, no imaginário, como uma experiência de
liberdade. No espectáculo circense o fogo não queima, no trapézio
o homem voa, o funambulista vence distâncias equilibrando-se sobre
um fio, o equilibrista fica suspenso sobre objectos inusitados, que no
dia-a-dia não se prestam a esse fim e os animais selvagens são
dóceis. No caso dos acrobatas, a emoção da queda fatal é posta
por inteira, para ser superada, no momento seguinte, com o riso do
palhaço. O espectáculo circense desloca-se, assim, com facilidade e
maestria, entre o riso e a morte.
Carregando no título o testemunho de
um menino sobre a sua vida no circo, “Like a Bird” fala-nos sobre
palhaços políticos em Gaza, cujo desempenho reflecte o absurdo da
vida na linha de frente entre os pobres e o exército de Israel, ao
mesmo tempo que nos mostra as escolas de circo que dão às crianças
afegãs uma rota alternativa ou nos revela as antigas tradições de
andar na corda bamba no norte do Cáucaso. Este trabalho, porém, vai
mais longe, estendendo-se àqueles para quem os espectáculos são
preparados: o público. Particularmente significativa é a imagem de
um grupo de meninas, aguardando na fila pela sua entrada na tenda do
Circo Khalil Oghab, o “Hércules da Pérsia”, naquilo que para
elas representa uma oportunidade quase única de gozar um momento de
liberdade no estrito regime ditatorial islâmico do Irão. Uma
exposição que se vê com um nó na garganta, que denuncia,
questiona e clama por acções urgentes.
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