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quinta-feira, 14 de novembro de 2019

EXPOSIÇÃO DE PINTURA: "À Flor da Pele"


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EXPOSIÇÃO DE PINTURA: “À Flor da Pele”,
de Rosa Bela Cruz
Cooperativa Árvore
31 Out > 30 Nov 2019


Nunca é fácil controlar as emoções quando é de corações dilacerados que falamos. Quando, no recolhimento de uma sala, olhamos nos olhos a tristeza e a dor, o sofrimento e a morte. Quando vemos, num véu de noivado e em três rosas brancas, o amor adiado, os sonhos sufocados, as vidas desfeitas. Quando, naquela sala, percebemos que não estamos sós, que há olhares interrogativos que sobre nós se derramam: “Porquê eu?”. É de violência doméstica, verdadeira praga social do nosso tempo, que nos fala “Pesadelo”, a obra que domina o espaço da sala 2 da galeria de exposições da Cooperativa Árvore, um coração ferido bem no centro da tela, as vinte e oito facas a ele apontadas carregando em si os corpos das vinte e oito mulheres assassinadas, neste contexto, no ano findo.

O nó na garganta não se desfez ainda quando franqueamos a porta da sala 3. São muito belas as mulheres que nos recebem. À medida que nos aproximamos, não se adivinham, no rosto e na pose, sinais de intranquilidade, desconfiança ou medo. Sob um par de olhos que, intensos, perseguem os nossos passos, é por caminhos seguros que vamos ao encontro de cada uma destas obras. A complexidade inerente à figura feminina é aqui realçada pela forma como Rosa Bela Cruz trabalha as suas mulheres. O extraordinário domínio das colagens e texturas gráficas, aliado a um inegável bom gosto na combinação de tons e cores, confere ao conjunto uma nota, simultaneamente, de complexidade e leveza, neste paradoxo residindo, afinal, o mistério e fascínio do “eu” feminino.

Na forma, como na mensagem, “À Flor da Pele” não é propriamente uma surpresa. À excelente artista que é, junta Rosa Bela Cruz o facto de ser uma mulher de causas, não cessando de reflectir sobre a origem e consequência dos nossos actos e de exprimir as suas preocupações em telas delicadas e de uma enorme beleza. Elo mais fraco numa sociedade conservadora e machista, a mulher é, em Rosa Bela Cruz, sujeito primordial, figura central de um discurso de afirmação de princípios e valores que a distinguem como sublime e única, ao mesmo tempo reclamando igualdade, exigindo respeito, gritando justiça. Na sua mensagem simples mas extraordinariamente eficaz, é disso que esta exposição nos fala. À flor da pele ficam as emoções. No coração, bem fundo cravadas, as facas que ferem e matam.

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