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sábado, 2 de novembro de 2019

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Black Diamond"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Black Diamond”,
de Sebastian Sardi
Encontros da Imagem de Braga 2019
Nova Galeria do Largo do Paço
14 Set > 27 Out 2019


Uma espessa camada de poeira fina cobre, como uma patine, a paisagem apocalíptica. O solo queima, libertando gases tóxicos, fogo e fumo. Neste cenário irreal, quase dantesco, há pessoas que escavam o solo com as próprias mãos. O local é Jharkhand, na Índia, onde o “diamante negro” é extraído por toda a parte. Os rostos são os das pessoas que se entregam a esta forma extenuante de subsistência a troco de quase nada. Os momentos são os de uma pausa, uma breve pausa no trabalho, que permita olhar para cima. Numa dezena de imagens extremamente fortes, o fotógrafo sueco Sebastian Sardi revela-nos as consequências ambientais devastadoras resultantes do uso do carvão, ao mesmo tempo que nos fala das pessoas que o extraem do solo no leste da Índia. Isto é “Black Diamond”, uma das mais impactantes exposições dadas a ver na recente edição dos Encontros da Imagem de Braga.

Sebastian Sardi começou a fotografar explorações mineiras em 2008, podendo o seu trabalho ser consubstanciado neste “Black Diamond”. O espectador está aqui perante um retrato íntimo das pessoas que se entregam à extracção do carvão, mergulhando, por seu intermédio, na dualidade da própria natureza humana. Intui-se que não é objectivo do artista, com este conjunto de imagens, mudar o curso duma paisagem devastada, mas é muito difícil não ver nelas um cunho activista, uma forma de agitar consciências e de influenciar a situação. Convidando-nos a fixar o olhar nos rostos destas pessoas, Sardi está a fomentar conexões cruciais, aproximando-nos delas em busca de um relacionamento, estabelecendo e mantendo um contacto visual. Em cada um destes retratos, o espectador é obrigado a olhar de frente, através da imagem e depois através da câmara, ao encontro dos rostos que, dignos, o fitam.

Citando o jornal “Público”, “em Portugal, 19,3% da energia produzida tem por matéria-prima o carvão. O país não dispõe de minas de carvão em funcionamento, mas importou, em 2017, cerca de 5,9 milhões de toneladas de carvão com origem na Colômbia, nos Estados Unidos da América e na Rússia”. Há um frágil equilíbrio entre a natureza e a humanidade. A incapacidade humana de quebrar padrões é meticulosamente visível nestas fotografias, pois continuamos conscientemente a exaurir os recursos que se abrigam por debaixo dos nossos próprios pés. Ao mesmo tempo, parece não nos darmos conta de que, enquanto apreciamos estas imagens, enquanto lemos este texto, há alguém, em algum lugar, a extrair carvão, fonte de energia para os nossos computadores portáteis, os nossos telemóveis, as nossas impressoras. Não haverá limites para o aceitável?

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