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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Black
Diamond”,
de Sebastian Sardi
Encontros da Imagem de Braga 2019
Nova Galeria do Largo do Paço
14 Set > 27 Out 2019
Uma espessa camada de poeira fina
cobre, como uma patine, a paisagem apocalíptica. O solo queima,
libertando gases tóxicos, fogo e fumo. Neste cenário irreal, quase
dantesco, há pessoas que escavam o solo com as próprias mãos. O
local é Jharkhand, na Índia, onde o “diamante negro” é
extraído por toda a parte. Os rostos são os das pessoas que se
entregam a esta forma extenuante de subsistência a troco de quase
nada. Os momentos são os de uma pausa, uma breve pausa no trabalho,
que permita olhar para cima. Numa dezena de imagens
extremamente fortes, o fotógrafo sueco Sebastian Sardi revela-nos as
consequências ambientais devastadoras resultantes do uso do carvão,
ao mesmo tempo que nos fala das pessoas que o extraem do solo no
leste da Índia. Isto é “Black Diamond”, uma das mais
impactantes exposições dadas a ver na recente edição
dos Encontros da Imagem de Braga.
Sebastian Sardi começou a fotografar
explorações mineiras em 2008, podendo o seu trabalho ser
consubstanciado neste “Black Diamond”. O espectador está aqui perante um
retrato íntimo das pessoas que se entregam à extracção do
carvão, mergulhando, por seu intermédio, na dualidade da própria
natureza humana. Intui-se que não é objectivo do artista, com este
conjunto de imagens, mudar o curso duma paisagem devastada, mas é muito difícil não ver nelas um cunho activista, uma forma de agitar consciências e de influenciar a situação. Convidando-nos a fixar o olhar nos rostos
destas pessoas, Sardi está a fomentar conexões cruciais,
aproximando-nos delas em busca de um relacionamento, estabelecendo e
mantendo um contacto visual. Em cada um destes retratos, o espectador
é obrigado a olhar de frente, através da imagem e depois através
da câmara, ao encontro dos rostos que, dignos, o fitam.
Citando o jornal “Público”, “em Portugal, 19,3% da energia produzida tem por matéria-prima o carvão. O país não dispõe de minas de carvão em funcionamento, mas importou, em 2017, cerca de 5,9 milhões de toneladas de carvão com origem na Colômbia, nos Estados Unidos da América e na Rússia”. Há um frágil equilíbrio entre a
natureza e a humanidade. A incapacidade humana de quebrar padrões é
meticulosamente visível nestas fotografias, pois continuamos
conscientemente a exaurir os recursos que se abrigam por debaixo dos nossos
próprios pés. Ao mesmo tempo, parece não nos darmos conta de que, enquanto
apreciamos estas imagens, enquanto lemos este texto, há alguém, em
algum lugar, a extrair carvão, fonte de energia para os nossos
computadores portáteis, os nossos telemóveis, as nossas
impressoras. Não haverá limites para o aceitável?
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