CONCERTO: Brad Mehldau Trio
Centro Cultural e de Congressos das
Caldas da Rainha
04 Out 2019 | sex | 21:30
Tudo o que possa ser dito sobre o génio
de Brad Mehldau será sempre redundante. Soberbo na sua formação e
técnica clássica, Mehldau é alguém que tem o dom de replicar os mais renomados
standards de Jazz em fugas Bachianas; que transforma os êxitos do
Rock nas mais brilhantes composições de Jazz; que tem uma mão
esquerda capaz dos mais intrínsecos arpeggios; cuja mão direita
executa complexos exercícios; que tem dois cérebros; que não é
deste mundo. Prodígio impressionista, Mehldau acerca-se de uma vasta
gama de músicas, tornando-as totalmente próprias, isolando um
momento ou um tema forte de cada uma das peças, expandindo-o para
uma exploração lírica, absolutamente fascinante. A sua abordagem
coesa e emocionalmente vibrante a uma variedade tão grande de
influências constitui, mesmo para o espectador menos familiarizado
com o fenómeno do Jazz, uma experiência refrescante e profundamente
catártica.
Foi precisamente Brad Mehldau, nome
consensual do Jazz contemporâneo e um dos mais brilhantes
compositores e executantes das últimas décadas, que se apresentou
ao público das Caldas da Rainha, numa sala completamente esgotada,
com ele partilhando gostos e sonoridades arrebatadoras. Acompanhado
pelo contrabaixista Larry Grenadier e pelo baterista Jeff Ballard,
Mehldau mostrou em temas como “For David Crosby”, “Good Old
Days”, “Father”, “Ode”, “Into the City” ou nos sublimes
“When I Fall In Love” ou “Besame Mucho”, o porquê de ter em
Oscar Peterson, Keith Jarrett, Miles Davis e John Coltrane, mas
também em grandes nomes da música clássica como Franz Schubert ou
Johann Sebastian Bach as suas principais referências.
Foram 80 minutos arrebatadores, onde
sobressairam a sua técnica destemida e um lirismo fluente, as linhas
melódicas suavizadas com tréguas generosas, como serenas
respirações, pairando no ar à espera de uma resolução, as mais
das vezes primorosa. É certo que o lado obsessivo esteve sempre lá,
no dedilhar implacável dos mesmos acordes, modulando-os e a eles
retornando de forma incessante. Uma palavra ainda para Larry
Grenadier e Jeff Ballard, companheiros de Mehldau em palco há mais
de duas décadas. Foram eles o garante dum equilíbrio perfeito, cada
um dos instrumentistas alternando entre primeiro e segundo plano com
uma naturalidade surpreendente, esbatendo a distinção entre
acompanhamento e solo. Um concerto ao nível do melhor que alguma vez
me foi dado escutar, um momento para guardar no precioso baú das
mais belas recordações.
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