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terça-feira, 15 de outubro de 2019

CONCERTO: Brad Mehldau Trio



CONCERTO: Brad Mehldau Trio
Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha
04 Out 2019 | sex | 21:30


Tudo o que possa ser dito sobre o génio de Brad Mehldau será sempre redundante. Soberbo na sua formação e técnica clássica, Mehldau é alguém que tem o dom de replicar os mais renomados standards de Jazz em fugas Bachianas; que transforma os êxitos do Rock nas mais brilhantes composições de Jazz; que tem uma mão esquerda capaz dos mais intrínsecos arpeggios; cuja mão direita executa complexos exercícios; que tem dois cérebros; que não é deste mundo. Prodígio impressionista, Mehldau acerca-se de uma vasta gama de músicas, tornando-as totalmente próprias, isolando um momento ou um tema forte de cada uma das peças, expandindo-o para uma exploração lírica, absolutamente fascinante. A sua abordagem coesa e emocionalmente vibrante a uma variedade tão grande de influências constitui, mesmo para o espectador menos familiarizado com o fenómeno do Jazz, uma experiência refrescante e profundamente catártica.

Foi precisamente Brad Mehldau, nome consensual do Jazz contemporâneo e um dos mais brilhantes compositores e executantes das últimas décadas, que se apresentou ao público das Caldas da Rainha, numa sala completamente esgotada, com ele partilhando gostos e sonoridades arrebatadoras. Acompanhado pelo contrabaixista Larry Grenadier e pelo baterista Jeff Ballard, Mehldau mostrou em temas como “For David Crosby”, “Good Old Days”, “Father”, “Ode”, “Into the City” ou nos sublimes “When I Fall In Love” ou “Besame Mucho”, o porquê de ter em Oscar Peterson, Keith Jarrett, Miles Davis e John Coltrane, mas também em grandes nomes da música clássica como Franz Schubert ou Johann Sebastian Bach as suas principais referências.

Foram 80 minutos arrebatadores, onde sobressairam a sua técnica destemida e um lirismo fluente, as linhas melódicas suavizadas com tréguas generosas, como serenas respirações, pairando no ar à espera de uma resolução, as mais das vezes primorosa. É certo que o lado obsessivo esteve sempre lá, no dedilhar implacável dos mesmos acordes, modulando-os e a eles retornando de forma incessante. Uma palavra ainda para Larry Grenadier e Jeff Ballard, companheiros de Mehldau em palco há mais de duas décadas. Foram eles o garante dum equilíbrio perfeito, cada um dos instrumentistas alternando entre primeiro e segundo plano com uma naturalidade surpreendente, esbatendo a distinção entre acompanhamento e solo. Um concerto ao nível do melhor que alguma vez me foi dado escutar, um momento para guardar no precioso baú das mais belas recordações.

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