CONCERTO: Patxi Andión
Centro de Artes de Águeda
20 Set 2019 | sex | 21:30
Estórias, memórias, sensações e um
caudal de emoções marcaram o concerto de Patxi Andión na sua
apresentação no Centro de Artes de Águeda na noite de ontem. Na
hora de assinalar meio século sobre o lançamento do seu primeiro
álbum, “Retratos”, aquele que é considerado “um dos artistas
espanhóis mais portugueses de sempre” viajou pelos caminhos duma
carreira intensa, ligando passado e futuro como quem abre um livro e,
com amor, conta uma história. Fê-lo com a profundidade da sua voz e
a força dos seus poemas, tornando o palco numa tribuna e a palavra
no seu modo de clamar liberdade.
“Ai quando eu morrer não quero / Nem
coroas de cravos velhos / Nem ramos de lírios secos / Que me
flagelem os dedos”. Foi assim, em bom português, que Patxi Andión
deu início ao concerto, oferecendo a versão do seu poema “33
Versos a Mi Muerte” delicadamente traduzido por José Carlos Ary
dos Santos. E foi uma sensação indescritível, aquela voz cava e
única a entranhar-se no corpo, a pôr um aperto no peito e um
sorriso de felicidade na boca de quem sabe que está com os seus.
Porque Patxi é “um orgulhoso português mais”, desde a sua
passagem pelo programa Zip Zip, em 1969, tendo nesse mesmo dia sido
expulso do país pela PIDE que lhe condenava as amizades e certamente
as palavras que traduziam as suas ideias de igualdade e justiça.
Viajando entre “Retratos” - com
temas incontornáveis como “La Jacinta”, “Rogelio” ou
“Cancion Vieja” - e “La Hora Lobicán”, o seu mais recente
trabalho de estúdio, do qual mostrou “Que Venga el Olvido!”,
“Creer”, “Cae la Nieve en la Hoz del Huécar” e “La Hora
Lobicán”, Patxi Andión reservou um momento especial para apontar
o futuro, chamando ao palco o seu filho mais novo que cantou “Ser
Mortal”, um tema da sua autoria, e ainda, “Es Tan Difícil Dejar
de Pensar!”, a meias com o pai. Tempo ainda para uma sentida
homenagem ao fado e a um dos seus nomes maiores, “o grande António
dos Santos”, através desse incontornável “Minha Alma d'Amor
Sedenta”. E, naturalmente, “El Maestro”, “Si yo Fuera Mujer”,
“Canela Pura”, “María en el Corazón”, “Con Toda La Mar
Detrás” e “20 Aniversario (Palabras)”, esta última a grande
responsável pela bonita história de amor entre Patxi Andión e o
nosso País.
O concerto terminou mas as sensações
permanecem. Cá fora, o vento sopra de sul, trazendo consigo um
prenúncio de chuva. “Qué helada que está esta casa / Será que
está cerca el rio / O es que entramos en invierno / y están
llegando los fríos”. Inesquecível!
[Foto: Paulo Homem de Melo /
glam-magazine.pt]
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