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LUGARES: Mosteiro da Serra do
Pilar
Open House Porto 2019
Visita comentada por Márcia Santos
30 Jun 2019 | dom | 15:00
O claustro do Mosteiro da Serra do Pilar serviu de ponto de acolhimento ao grupo de vinte e cinco pessoas que, na tarde do passado domingo, teve a oportunidade de participar na visita guiada a um dos mais notáveis edifícios da arquitectura clássica europeia. Comentada por Márcia Santos, a iniciativa decorreu no âmbito da quinta edição do Open House Porto e permitiu aos participantes conhecerem um espaço com quase cinco séculos de existência e que figura, desde 1996, na lista do Património Mundial da UNESCO, juntamente com o Centro Histórico do Porto.
O claustro do Mosteiro da Serra do Pilar serviu de ponto de acolhimento ao grupo de vinte e cinco pessoas que, na tarde do passado domingo, teve a oportunidade de participar na visita guiada a um dos mais notáveis edifícios da arquitectura clássica europeia. Comentada por Márcia Santos, a iniciativa decorreu no âmbito da quinta edição do Open House Porto e permitiu aos participantes conhecerem um espaço com quase cinco séculos de existência e que figura, desde 1996, na lista do Património Mundial da UNESCO, juntamente com o Centro Histórico do Porto.
Tirando partido da sua formação de
base, Márcia Santos deu aos presentes uma verdadeira aula de
História, contextualizando a implantação do mosteiro e algumas
características invulgares do ponto de vista arquitectónico,
nomeadamente no que se refere ao carácter singular da sua igreja e
do seu claustro, ambos circulares e da mesma dimensão em planta. O
facto de o claustro ter esta configuração faz dele um exemplar
único na Península Ibérica e um dos poucos existentes no mundo.
Uma observação mais atenta das sua principais linhas revela que a
concepção, no seu todo, obedece a uma das relações métricas de
maior significado no Renascimento, percebendo-se um paralelo claro
entre a largura e o comprimento do rectângulo que define os
edifícios monásticos no terreno e aquele virtual do alçado do
corpo humano canonicamente definido, que resulta de uma razão
numérica precisa entre as suas principais dimensões e que remete
para Vitrúvio e para o seu “De architectura libri decem” (século
I a.C.).
Com esta metáfora arquitectónica sempre presente,
Marcia Santos recentrou a sua abordagem na cronologia da construção
deste mosteiro, erguido em torno de 1545 para abrigar a Ordem dos
Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, até então sediada no
Mosteiro de Grijó. É neste enquadramento que são introduzidos os
nomes de Diogo de Castilho e João de Ruão como sendo os autores de
uma obra fortemente inspirada no tratado “Architettura civile e
militare” (c. 1492) de Francesco di Giorgio Martini. O pequeno
templo original viria a ser substituído pelo actual, de forma
circular e abobadado, fruto de empreendimento datado de 1590 e que só
quase um século depois, em 1672, viria a ser concluído. Em 1690
abriu-se espaço à construção de um retro coro anexo à
capela-mor, o que implicou o desmonte e reconstrução do claustro
renascentista. Os trabalhos desta última fase foram rápidos e
levaram, no essencial, à actual configuração do mosteiro.
Antes
de abandonar o claustro, o grupo prestou atenção às quatro
pequenas capelas circulares que se abrem para a galeria envolvente,
abobadada, sustentada por 36 colunas com capitéis jónicos dispostas
em grupos de nove e encimadas por platibanda onde se lê “ANNO /
DOMINI / NOTRI / 1672”, a data da segunda deslocação do claustro;
no espaço entre os quatro grupos de colunas abrem-se os acessos ao
pátio, descoberto, pontuado ao centro por um fontanário de taça
derivado de modelos de chafarizes quinhentistas. A denominação de
Claustro do Silêncio prende-se com o facto de ser este o lugar de
enterramento dos cónegos, contando-se no pavimento da galeria
setenta e duas sepulturas. No acesso ao templo, passagem pela Sala do
Capítulo que acolhe uma estátua de D. Afonso Henriques da autoria
de Soares dos Reis.
Foi já no interior da igreja, sob o olhar
dos quatro evangelistas dispostos em nichos e de Santo Agostinho, que
Márcia Santos falou da relevância geo-militar do mosteiro
resultante da sua localização privilegiada sobre o rio Douro. Para
a historiadora, o facto dos liberais terem conseguido defender este
baluarte durante o Cerco do Porto foi decisivo no resultado do
conflito a seu favor, lembrando que a bravura com que os militares
fiéis a D. Pedro IV se bateram lhes valeu o título de “polacos da
Serra”. Outras provas da importância militar do sítio da Serra do
Pilar foram manifestas durante as invasões francesas e na revolta da
Maria da Fonte. As guerras ocorridas ao longo dos anos deixaram
várias edificações arruinadas, em particular a ala sul, e em 1927
era dado início à sua reconstrução. Em 1947 parte das instalações
foram cedidas ao Regimento de Artilharia Pesada nº2 para aí ser
instalado um pequeno museu; dez anos mais tarde a igreja abriu ao
culto e a partir do final do século XX foram realizadas novas obras
de manutenção. Em 2012 foi aqui aberto um espaço de divulgação
do Património Monumental classificado da Região Norte, viabilizando
a abertura ao público de parte dos edifícios do mosteiro.
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