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quinta-feira, 4 de julho de 2019

LUGARES: Mosteiro da Serra do Pilar


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LUGARES: Mosteiro da Serra do Pilar
Open House Porto 2019
Visita comentada por Márcia Santos
30 Jun 2019 | dom | 15:00


O claustro do Mosteiro da Serra do Pilar serviu de ponto de acolhimento ao grupo de vinte e cinco pessoas que, na tarde do passado domingo, teve a oportunidade de participar na visita guiada a um dos mais notáveis edifícios da arquitectura clássica europeia. Comentada por Márcia Santos, a iniciativa decorreu no âmbito da quinta edição do Open House Porto e permitiu aos participantes conhecerem um espaço com quase cinco séculos de existência e que figura, desde 1996, na lista do Património Mundial da UNESCO, juntamente com o Centro Histórico do Porto.

Tirando partido da sua formação de base, Márcia Santos deu aos presentes uma verdadeira aula de História, contextualizando a implantação do mosteiro e algumas características invulgares do ponto de vista arquitectónico, nomeadamente no que se refere ao carácter singular da sua igreja e do seu claustro, ambos circulares e da mesma dimensão em planta. O facto de o claustro ter esta configuração faz dele um exemplar único na Península Ibérica e um dos poucos existentes no mundo. Uma observação mais atenta das sua principais linhas revela que a concepção, no seu todo, obedece a uma das relações métricas de maior significado no Renascimento, percebendo-se um paralelo claro entre a largura e o comprimento do rectângulo que define os edifícios monásticos no terreno e aquele virtual do alçado do corpo humano canonicamente definido, que resulta de uma razão numérica precisa entre as suas principais dimensões e que remete para Vitrúvio e para o seu “De architectura libri decem” (século I a.C.).

Com esta metáfora arquitectónica sempre presente, Marcia Santos recentrou a sua abordagem na cronologia da construção deste mosteiro, erguido em torno de 1545 para abrigar a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, até então sediada no Mosteiro de Grijó. É neste enquadramento que são introduzidos os nomes de Diogo de Castilho e João de Ruão como sendo os autores de uma obra fortemente inspirada no tratado “Architettura civile e militare” (c. 1492) de Francesco di Giorgio Martini. O pequeno templo original viria a ser substituído pelo actual, de forma circular e abobadado, fruto de empreendimento datado de 1590 e que só quase um século depois, em 1672, viria a ser concluído. Em 1690 abriu-se espaço à construção de um retro coro anexo à capela-mor, o que implicou o desmonte e reconstrução do claustro renascentista. Os trabalhos desta última fase foram rápidos e levaram, no essencial, à actual configuração do mosteiro.

Antes de abandonar o claustro, o grupo prestou atenção às quatro pequenas capelas circulares que se abrem para a galeria envolvente, abobadada, sustentada por 36 colunas com capitéis jónicos dispostas em grupos de nove e encimadas por platibanda onde se lê “ANNO / DOMINI / NOTRI / 1672”, a data da segunda deslocação do claustro; no espaço entre os quatro grupos de colunas abrem-se os acessos ao pátio, descoberto, pontuado ao centro por um fontanário de taça derivado de modelos de chafarizes quinhentistas. A denominação de Claustro do Silêncio prende-se com o facto de ser este o lugar de enterramento dos cónegos, contando-se no pavimento da galeria setenta e duas sepulturas. No acesso ao templo, passagem pela Sala do Capítulo que acolhe uma estátua de D. Afonso Henriques da autoria de Soares dos Reis.

Foi já no interior da igreja, sob o olhar dos quatro evangelistas dispostos em nichos e de Santo Agostinho, que Márcia Santos falou da relevância geo-militar do mosteiro resultante da sua localização privilegiada sobre o rio Douro. Para a historiadora, o facto dos liberais terem conseguido defender este baluarte durante o Cerco do Porto foi decisivo no resultado do conflito a seu favor, lembrando que a bravura com que os militares fiéis a D. Pedro IV se bateram lhes valeu o título de “polacos da Serra”. Outras provas da importância militar do sítio da Serra do Pilar foram manifestas durante as invasões francesas e na revolta da Maria da Fonte. As guerras ocorridas ao longo dos anos deixaram várias edificações arruinadas, em particular a ala sul, e em 1927 era dado início à sua reconstrução. Em 1947 parte das instalações foram cedidas ao Regimento de Artilharia Pesada nº2 para aí ser instalado um pequeno museu; dez anos mais tarde a igreja abriu ao culto e a partir do final do século XX foram realizadas novas obras de manutenção. Em 2012 foi aqui aberto um espaço de divulgação do Património Monumental classificado da Região Norte, viabilizando a abertura ao público de parte dos edifícios do mosteiro.

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