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terça-feira, 2 de julho de 2019

LUGARES: Edifício da Reitoria da Universidade do Porto


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LUGARES: Edifício da Reitoria da Universidade do Porto
Open House Porto 2019
Visita comentada por Fátima Vieira
29 Jun 2019 | sab | 11:00


No âmbito da quinta edição do Open House Porto, o edifício da Reitoria da Universidade do Porto abriu as suas portas a esta verdadeira festa da arquitectura, conferindo a possibilidade a todos os interessados de conhecerem um pouco mais da sua história e, naturalmente, algumas estórias a ele associadas. Comentada por Fátima Vieira, Vice-Reitoria da Universidade do Porto para as áreas da Cultura, Museus e U.Porto Edições, com o valioso contributo de Alexandre Lourenço, da Unidade de Cultura, a visita levou as cerca de duas dezenas de participantes através dos espaços mais significativos da Reitoria, resultando num momento com tanto de agradável como de enriquecedor.

Outrora ocupada pelo Museu de Mineralogia, a dependência que se encontra imediatamente à esquerda de quem entra no edifício é agora a Casa Comum da Universidade do Porto, ali se organizando actividades culturais diárias, totalmente gratuitas e abertas à comunidade. Assumindo-se como um espaço de acolhimento da cidade, foi ali que Fátima Vieira recebeu o grupo, partindo para a visita que teve o átrio principal como primeiro ponto de paragem. Recuando meio século no tempo, foram recordadas as lutas académicas e a forma corajosa como os estudantes desafiaram o poder político do Estado Novo, acabando por contribuir decisivamente para a sua descredibilização e posterior queda, em Abril de 1974. Também aqui se falou da “Santa”, que tivemos a oportunidade de ver mais tarde, uma estátua da autoria de João da Silva, erigida em 1937 por altura das comemorações do centenário da Academia Politécnica do Porto e da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Trata-se duma escultura composta por uma figura feminina coberta integralmente por um véu e segurando uma folha de palma, que recorda os estudantes tombados em combate no decurso da Primeira Guerra Mundial. No seu pedestal pode ler-se, numa dedicatória em latim: “Aos filhos da Universidade tão depressa arrebatados pela Pátria a uma vida de sabedoria e esperança”

Subindo a escadaria, breve paragem junto ao busto de Francisco Gomes Teixeira, lembrando aquele que foi o primeiro Reitor da Universidade do Porto, tendo tomado posse em 1911. De seguida, tempo para apreciar dois óleos sobre tela de Veloso Salgado, datados de 1917 e assinados, e que representam “A Matemática” e “as Ciências Físico-naturais”. Neles pontificam as figuras femininas (a Matemática, a Álgebra, a Geometria, a Engenharia, a Física, a Química e a Biologia) em absoluto contrate com a galeria de retratos que ocupa o Salão Nobre, dependência seguinte no curso da visita, na qual figuram apenas homens. É aqui que vamos encontrar, entre muitos outros, o retrato de D. João VI, fundador da Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto, mas também Manuel da Silva Passos, que todos conhecemos pelo nome de Passos Manuel e que foi um enorme renovador do sistema educativo com a criação dos liceus e a reorganização do ensino superior, ou ainda António José de Almeida, criador das Universidades do Porto e de Lisboa e a figura que elaborou a Constituição Universitária.

Espreitando ao de leve a renovada Sala do Conselho, foi tempo de subir mais dois lanços de escadas ao encontro da Sala do Fundo Antigo, que acolhe neste momento uma exposição designada “Os Mapas da Academia”, revelando uma parte do espólio cartográfico à guarda da Universidade do Porto. Para além dos muitos mapas expostos – entre os quais um precioso pergaminho da autoria de José Monteiro Salazar (1715-1789) com o desenho da “planta de toda a costa de Portugal e Africa athe o cabo de boa Esperansa e costa do Brasil...”, destacam-se pela sua importância e valor científico dois globos Addison (um celeste e um terrestre), construídos em 1825 pelos fornecedores oficiais da Casa Real britânica, instrumentos de navegação marítima, guias de viagem, atlas e outros tesouros da cartografia.

Encetando o regresso ao ponto de partida, fez-se uma paragem no lindíssimo Laboratório Ferreira da Silva, onde Fátima Vieira falou do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, actualmente a ser sujeito a uma profunda intervenção de reabilitação, não só ao nível da requalificação infraestrutural, mas também no que diz respeito ao tratamento e reacondicionamento das suas colecções e à redefinição do seu discurso museográfico, com abertura ao público prevista para 2021. Com um brilhozinho nos olhos, a Vice-Reitora contou que uma das jóias do renovado museu será a colecção egípcia, originalmente da Faculdade de Letras, e que esteve na origem da entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial. Antes de prosseguirmos, ainda uma recomendação a que visitemos sem demora a Galeria da Biodiversidade e o Jardim Botânico, o outro pólo do MHNC-UP.

De regresso à Sala Comum, o último acto consistiu na passagem de vários diapositivos que narram a história deste edifício, originalmente uma Capela remontando a 1153, ano em que D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, tendo caído da égua em que viajava para Guimarães, fez a promessa de que, se Nossa Senhora da Graça a salvasse, mandaria construir aqui uma ermida, o que viria a acontecer. Na segunda metade do século XVII, o edifício seria ocupado pelo Colégio dos Meninos Órfãos da Senhora da Graça. O projecto da Academia Politécnica, que viria a estar na origem da criação da Universidade do Porto em 1911, data de 1803. O actual edifício da Reitoria demorou 100 anos a ser construído, sempre em perfeita convivência com o edifício da capela, que só foi demolido em 1899. Mais palavras para quê? Uma visita fenomenal!

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