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LUGARES: Edifício da Reitoria da
Universidade do Porto
Open House Porto 2019
Visita comentada por Fátima Vieira
29 Jun 2019 | sab | 11:00
No âmbito da quinta edição do Open
House Porto, o edifício da Reitoria da Universidade do Porto abriu
as suas portas a esta verdadeira festa da arquitectura, conferindo a
possibilidade a todos os interessados de conhecerem um pouco mais da
sua história e, naturalmente, algumas estórias a ele associadas.
Comentada por Fátima Vieira, Vice-Reitoria da Universidade do Porto
para as áreas da Cultura, Museus e U.Porto Edições, com o valioso
contributo de Alexandre Lourenço, da Unidade de Cultura, a visita
levou as cerca de duas dezenas de participantes através dos espaços
mais significativos da Reitoria, resultando num momento com tanto de
agradável como de enriquecedor.
Outrora ocupada pelo Museu de
Mineralogia, a dependência que se encontra imediatamente à esquerda
de quem entra no edifício é agora a Casa Comum da Universidade do
Porto, ali se organizando actividades culturais diárias, totalmente
gratuitas e abertas à comunidade. Assumindo-se como um espaço de
acolhimento da cidade, foi ali que Fátima Vieira recebeu o grupo,
partindo para a visita que teve o átrio principal como primeiro
ponto de paragem. Recuando meio século no tempo, foram recordadas as
lutas académicas e a forma corajosa como os estudantes desafiaram o
poder político do Estado Novo, acabando por contribuir decisivamente
para a sua descredibilização e posterior queda, em Abril de 1974.
Também aqui se falou da “Santa”, que tivemos a oportunidade de
ver mais tarde, uma estátua da autoria de João da Silva, erigida em
1937 por altura das comemorações do centenário da Academia
Politécnica do Porto e da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Trata-se duma escultura composta por uma figura feminina coberta
integralmente por um véu e segurando uma folha de palma, que recorda
os estudantes tombados em combate no decurso da Primeira Guerra
Mundial. No seu pedestal pode ler-se, numa dedicatória em latim:
“Aos filhos da Universidade tão depressa arrebatados pela Pátria
a uma vida de sabedoria e esperança”
Subindo a escadaria, breve paragem
junto ao busto de Francisco Gomes Teixeira, lembrando aquele que foi
o primeiro Reitor da Universidade do Porto, tendo tomado posse em
1911. De seguida, tempo para apreciar dois óleos sobre tela de
Veloso Salgado, datados de 1917 e assinados, e que representam “A
Matemática” e “as Ciências Físico-naturais”. Neles
pontificam as figuras femininas (a Matemática, a Álgebra, a
Geometria, a Engenharia, a Física, a Química e a Biologia) em
absoluto contrate com a galeria de retratos que ocupa o Salão Nobre,
dependência seguinte no curso da visita, na qual figuram apenas
homens. É aqui que vamos encontrar, entre muitos outros, o retrato
de D. João VI, fundador da Academia Real de Marinha e Comércio da
Cidade do Porto, mas também Manuel da Silva Passos, que todos
conhecemos pelo nome de Passos Manuel e que foi um enorme renovador
do sistema educativo com a criação dos liceus e a reorganização
do ensino superior, ou ainda António José de Almeida, criador das
Universidades do Porto e de Lisboa e a figura que elaborou a
Constituição Universitária.
Espreitando ao de leve a renovada Sala
do Conselho, foi tempo de subir mais dois lanços de escadas ao
encontro da Sala do Fundo Antigo, que acolhe neste momento uma
exposição designada “Os Mapas da Academia”, revelando uma parte
do espólio cartográfico à guarda da Universidade do Porto. Para
além dos muitos mapas expostos – entre os quais um precioso
pergaminho da autoria de José Monteiro Salazar (1715-1789) com o
desenho da “planta de toda a costa de Portugal e Africa athe o cabo
de boa Esperansa e costa do Brasil...”, destacam-se pela sua
importância e valor científico dois globos Addison (um celeste e um
terrestre), construídos em 1825 pelos fornecedores oficiais da Casa
Real britânica, instrumentos de navegação marítima, guias de
viagem, atlas e outros tesouros da cartografia.
Encetando o regresso ao ponto de
partida, fez-se uma paragem no lindíssimo Laboratório Ferreira da
Silva, onde Fátima Vieira falou do Museu de História Natural e da
Ciência da Universidade do Porto, actualmente a ser sujeito a uma
profunda intervenção de reabilitação, não só ao nível da
requalificação infraestrutural, mas também no que diz respeito ao
tratamento e reacondicionamento das suas colecções e à redefinição
do seu discurso museográfico, com abertura ao público prevista para
2021. Com um brilhozinho nos olhos, a Vice-Reitora contou que uma das
jóias do renovado museu será a colecção egípcia, originalmente da
Faculdade de Letras, e que esteve na origem da entrada de Portugal na
Primeira Guerra Mundial. Antes de prosseguirmos, ainda uma
recomendação a que visitemos sem demora a Galeria da
Biodiversidade e o Jardim Botânico, o outro pólo do MHNC-UP.
De regresso à Sala Comum, o último
acto consistiu na passagem de vários diapositivos que narram a
história deste edifício, originalmente uma Capela remontando a
1153, ano em que D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques,
tendo caído da égua em que viajava para Guimarães, fez a promessa
de que, se Nossa Senhora da Graça a salvasse, mandaria construir aqui uma
ermida, o que viria a acontecer. Na segunda metade do século XVII, o edifício seria ocupado
pelo Colégio dos Meninos Órfãos da Senhora da Graça. O projecto da
Academia Politécnica, que viria a estar na origem da criação da
Universidade do Porto em 1911, data de 1803. O actual edifício da
Reitoria demorou 100 anos a ser construído, sempre em perfeita
convivência com o edifício da capela, que só foi demolido em 1899.
Mais palavras para quê? Uma visita fenomenal!
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