LIVRO: “Burgueses Somos Nós Todos
Ou Ainda Menos”,
de Mário de Carvalho
Ed. Porto Editora, Abril de 2018
“Burgueses somos nós todos
ou ainda menos.
Burgueses somos nós todos
desde pequenos.”
A um verso de Mário Cesariny foi Mário
de Carvalho buscar o título deste livro, conjunto de onze contos
onde se abrigam, sob o rotundo rótulo de “burgueses”,
personagens para todos os gostos (ou talvez nem tanto). Narradas na
primeira pessoa, cada uma destas pequenas histórias revela um olhar
atento e profundamente cásutico sobre a sociedade actual, os tiques
do novo-riquismo colocados a nu de forma crua, o luxo reduzido a lixo
a cada volta da vida.
“Burgueses Somos Nós Todos Ou Ainda
Menos” é o livro ideal para uma tarde de leitura. Nas suas pouco
mais de cem páginas, oferece ao leitor um conjunto de imagens que se
tocam subtilmente, formando assim um retrato duma certa “estirpe”
onde o cinismo refoga em lume brando, o riso é alto e desempoeirado,
a infidelidade é um lugar comum e a escola mais frequentada é a da
indiscrição.
Mário de Carvalho faz-nos ver “as calvas, as brancas, os ventres, as rugas, as placas dentárias e o descaimento geral” de par com “movimentos, gestos, sorrisos, frases,
imagens e um quotidiano ameno e sem história”. Nos salões há “soldados de Napoleão argilosos, pombinhos de mármore a beber na
fonte, rodelas chinesas em caretas de monstro, (...) canecas alemãs e
moinhos de vento”, enquanto as casas de banho têm “cores feminis,
rosas e roxos, traços langorosos, ondeantes e instáveis que
agridem, ameaçam, desfeiam e, em não lacerando a pele, ferem a
vista”. Por todo o lado há bancos falidos, sinistros corvos pairando sobre as heranças, hospitais e cemitérios, putas e hotéis. Vale a pena ler!
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