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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Terra
de Sonhos”,
de Cristina Garcia Rodero
Arte na Rua
Rossio, Aveiro
18 Jun > 24 Jul 2019
Foi no Mosteiro de Tibães, no âmbito
da 4ª edição dos Encontros da Imagem de Braga, que me cruzei pela
primeira vez com Cristina Garcia Rodero. Estávamos em 1990 e a
mostra “España Oculta”, inaugurada no ano
anterior no Museo de Arte Contemporáneo de Madrid e sendo, de seguida, apresentada na
vigésima edição dos Encontros Internacionais de Fotografia de Arles, foi de tal forma
impactante que o nome da fotógrafa espanhola passou a figurar ao
lado de René Burri, Henri Cartier-Bresson e Pierre de Fenoyl como as
minhas maiores referências neste campo tão particular da
fotografia. Depois disso cruzei-me ao de leve com outros trabalhos
seus – no Musée de l'Élysée, em Lausanne, ou ainda recentemente
no Centro Português de Fotografia, no Porto -, mas nunca mais tive a
oportunidade de ver outra mostra da artista. A oportunidade surge
agora, quase ao fim de três décadas, através de “Terra de
Sonhos”, conjunto de 40 fotografias patente ao público no Rossio
de Aveiro e que é obrigatório ver.
Dedicada às mulheres de Anantapur,
“Terra de Sonhos” lança um olhar sobre a vida quotidiana dos
habitantes desta cidade no Estado de Andhra Pradesh, considerada uma
das zonas mais pobres da Índia. Durante mês e meio, Cristina García
Rodero visitou hospitais, centros de acolhimento de mulheres vítimas
de violência, oficinas, escolas e casas, realizando fotografias que procuram dar voz a pessoas que são, muitas vezes, esquecidas.
Crianças, pessoas com deficiência, mães, camponesas, costureiras,
noivas de diferentes religiões, professoras, enfermeiras e
estudantes têm um papel de destaque no projecto de Cristina Garcia Rodero. “A
exposição entra no mais sensível e mágico do mundo feminino e na
força e capacidade de superação das mulheres em Anantapur, através
de uma selecção de imagens que cativam pela sua qualidade de
composição e de vivência”, refere um texto alusivo da Fundação
“la Caixa”, promotora do evento.
Cruzar “España Oculta” com “Terra
de Sonhos” é tarefa ingrata. Embora em ambos os casos haja a
preocupação da fotógrafa em dar a ver aquilo que normalmente não
se vê, há aspectos culturais demasiado díspares entre as duas
realidades que impedem qualquer tipo de aproximação. Ou talvez não.
Um dos traços mais marcantes da fotografia de Cristina Garcia Rodero
em “España Oculta” era a genuinidade e espontaneidade do gesto e
da pose, de par com um certo exibicionismo, que os retratados
apresentavam e que fazia deles personagens quase grotescos. Impresso
em cada imagem, havia ali um profundo choque entre o sagrado e o
profano, com uma mensagem muito clara sobre quem somos e quais os
nossos limites. E essa é uma mensagem muito presente neste “Terra
de Sonhos”, embora o retrato seja aqui muito menos espontâneo,
nalguns casos mesmo encenado (veja-se, por exemplo, a magnífica imagem de Nandini, de 8 anos, em frente à lição do dia escrita no
quadro negro da sua escola ou a pequenina Nissi Rachel, convidada a
um casamento cristão). De qualquer forma, esta exposição é
absolutamente tocante, no que encerra de verdade sobre um conjunto de
realidades que têm na pobreza o denominador comum. A não perder!
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