CONCERTO: Tó Trips & João Doce
WOOL – Festival de Arte Urbana da
Covilhã
Escadinhas do Castelo, Covilhã
09 Jun 2019 | dom | 22:30
Foi em casa do tio Francisco, ali
mesmo, na Covilhã, que Tó Trips terá tido um primeiro contacto com
a guitarra, “quando era puto e vinha aqui passar as férias grandes”.
Se isto é verdade ou não e que importância poderá ter tido no seu
percurso musical, não o sabemos. Sabemos, isso sim, que o domínio
que hoje tem do instrumento, a sua capacidade de lhe arrancar sonoridades
únicas e distintas, é absolutamente ímpar. O que faz dele um
músico muito especial na cena musical portuguesa, desde os tempos
convulsivos dos “Amen Sacristi”, ainda no Liceu Pedro V, e dos
“Santa Maria Gasolina em Teu Ventre!”, até ao recente “Dead
Combo”, com Pedro Gonçalves, passando pelos “Lulu Blind”, nos
anos 90, e por uma série de projectos a solo.
Na Covilhã, Tó Trips apresentou-se em
palco ao lado do percussionista João Doce, músico angolano que
reside actualmente em Esmoriz e que é sobejamente conhecido por
integrar projectos como os Wray Gunn ou Legendary Tigerman. Do
entendimento, cumplicidade e profunda amizade entre os dois músicos
– que vem desde um primeiro encontro, durante uma tour dos Wray
Gunn, em 2004 – nasceu e cresceu este espectáculo entusiasmante,
oferecido ao público em noite de festa, “à boleia” do WOOL –
Festival de Arte Urbana da Covilhã. Assente nos trabalhos “Guitarra
Makaka – Danças A Um Deus Desconhecido”, que Tó Trips gravou a
solo em 2015, e “Sumba”, registo de 2016 em parceria com João
Doce, o concerto propôs uma viagem exploratória pelos recantos
desta imensa ilha que habitamos, ao encontro das suas peculiaridades
sonoras, da sua musicalidade intrínseca, dos segredos e enigmas que
esconde e que só a música permite desvendar.
Tocadas em sequência, “Danças a Um
Deus Desconhecido”, “Baía das Negras”, “Cuca”, “Makumba
das Foncas”, “Pedra Lume” e “Migratória”, músicas
extraídas de “Guitarra Makaka”, levaram o público a viajar por
Bolonha e pelo intenso repicar dos seus sinos num quente final de
tarde, a ser “heróis do mar” a caminho do Oriente, a assistir à
vingança do forasteiro de “Era Uma Vez no Oeste” sobre um
renegado Frank, a viúva Jill McBain à espreita, a dançar em êxtase
no terreiro da macumba ou a contemplar do alto Lisboa com as suas sete colinas. “Primitiva” e “Suva Blues”, do recente
trabalho da dupla, encerraram o concerto e reforçaram o fascínio da
viagem, uma viagem profundamente interior e imaginária, tornada real
pelas memórias convocadas e pela certeza da melodia e dos ritmos que
abraçam os cinco continentes. Genial!
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