CONCERTO: “Joanthology”,
por Joan As Police Woman
Auditório de Espinho – Academia
14 Jun 2019 | sex | 21:30
Na sua digressão de apresentação de
“Joanthology” - colectânea de quarenta e três temas,
distribuídos por três CD's e que repassa a carreira da cantora
desde o inicial “Joan As Police Woman” (2004), até ao recente
“Damned Devotion”, lançado no ano transacto -, Joan As Police Woman esteve no Auditório da Academia de Música de Espinho para um
concerto absolutamente surpreendente. Sozinha em palco, apenas o
piano ou a viola por companhia, a artista norte-americana estendeu o
alinhamento por quinze canções e alguns momentos mais descontraídos
de conversa com o público. Quinze canções que a “mulher polícia”
interpretou sublimemente e que “algemaram” os presentes à sua
música e ao seu carisma.
Abrindo ao piano a sua apresentação
do novo trabalho, Joan As Police Woman teve com “To Be Lonely”,
um primeiro momento de enorme emoção - “Anything for you / Anything I'd do / Shameless / I'll brave the night alone / The
darkened sky, uncertain skies” - as palavras a derramarem-se da sua
voz única, plenas de emoção e sensualidade. Seguiram-se
“Wonderful” e “Warning Bell”, e logo o primeiro câmbio, os
acordes de guitarra a fazerem-se agora ouvir, não que sem antes a
expressão da sua fúria ante um microfone que teimava em não
colaborar arrancasse à assistência uma sonora gargalhada. “Forever
And A Year”, “Flash” e “Start Of My Heart” viriam a confirmar as primeiras impressões, reforçando a ideia de uma enorme
qualidade musical da cantora e adensando uma questão
crucial: “Onde tenho andado eu para nunca ter prestado atenção a este
nome?”
É verdade que a História nem sempre é
justa com os audazes e nem sempre recompensa quem efectivamente
merece. No auge da sua carreira, Peter Frampton era ouvido em toda
parte, enquanto quase ninguém escutava os Velvet Underground nos
melhores momentos da banda, ao passo que agora sucede exactamente o
contrário. Prever quem desaparecerá do imaginário cultural ou quem
será consagrado será um exercício inútil, mas se a justiça
prevalecer o nome de Joan As Police Woman virá a superar o de muitos
dos seus contemporâneos mais conhecidos actualmente.
O concerto prosseguiria de novo
ao piano com novas belíssimas composições. Nos intimistas
“Christobel” ou “Real Life” ou nos expressivos “What A
World” ou “Human Condition”, o público a juntar a sua voz à
da cantora neste último tema, Joan As Police Woman mostrou o quanto
a sua música bebe do “soul” e da “folk”, o quanto faz
lembrar o melhor de Nina Simone ou de Joni Mitchell. Tudo viria a terminar sob o signo da
guitarra: “Tell Me”, “Kiss” - a “cover” que a cantora fez
do mítico tema de Prince e que terá colhido a mais forte ovação
da noite – e “The Magic” foram os últimos temas escutados no
alinhamento preparado para esta noite, prolongado por uma vinda ao
palco para, ao piano, se escutar “Ride” e “Your Song”, num
muito saudado “encore”. A elegância da música, a riqueza dos
poemas e um misto de inocência e liberdade que se desprende dum
espírito indomável, foram as marcas fortes duma noite que, repito,
foi uma bela surpresa.
[Foto: facebook.com/auditoriodeespinhoacademia/]
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