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segunda-feira, 10 de junho de 2019

CERTAME: Festival Internacional de Marionetas de Ovar FIMO 2019


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CERTAME: Festival Internacional de Marionetas de Ovar FIMO 2019
Ovar, vários locais
07 > 09 Jun 2019


Ao longo de três dias, o Festival Internacional de Marionetas de Ovar FIMO 2019 voltou a espalhar magia, colorido e muita animação pelas salas, praças e fontes da cidade, oferecendo ao público um total de 65 espectáculos por 21 companhias de 14 diferentes países. Promovido pela União de Freguesias de Ovar, São João de Ovar, Arada e São Vicente de Pereira Jusã, o certame arrancou na noite de sexta-feira com “Chinese Tradition”, um espectáculo da companhia Sky Bird Puppet Group que ofereceu ao público alguns belíssimos exemplos de diversidade de marionetas e das técnicas inerentes à sua animação existente em Hong Kong. O momento em que Cheung Chun Fai mostrou à plateia um vislumbre do que está por detrás da manipulação - partilhando com os espectadores alguns exercícios de aquecimento a exigirem destreza, coordenação e uma enorme concentração -, revelou-se único, tanto pela interacção com a assistência como pelo seu carácter formativo.

No átrio da Escola dos Combatentes, Maru Fernández e Gerardo Martínez, do colectivo uruguaio Coriolis, apresentaram “Tropo”, uma peça na qual Julián e Ramiro, dois intrépidos amigos, tratam de devolver aos habitantes de uma comunidade rural tudo quanto perderam numa devastadora tempestade. De manipulação directa, marionetas de luva, luz negra e sombras se fez este espectáculo, recriando um ambiente quixotesco e oferecendo algumas rábulas deveras divertidas. Para o final deixo propositadamente “Hullu”, a peça que os franceses do Blick Theatre levaram ao Centro de Artes de Ovar. Tratou-se dum espectáculo absolutamente à parte neste Festival, destacando-se de todos os outros pela sua inventividade, qualidade técnica e momentos absolutamente surpreendentes, oferecidos ao longo de uma hora de pura magia. A “Hullu” e ao Blick Theatre voltarei brevemente neste espaço, em análise crítica separada.

O segundo dia do FIMO – para mim o último - teve início ainda durante a manhã, no belíssimo espaço verde do Parque Urbano, com três espectáculos sequenciais e todos eles tendo nas marionetas de fio o elemento em comum. Do Brasil, a Cia Tu Mateixa - cujo nome constitui uma homenagem à casa-oficina de marionetas de Pepe Otal, em Barcelona, onde a actriz Júlia Barnabé fez uma parte significativa da sua formação – trouxe-nos “Laia e o Voo da Imaginação”, um espectáculo delicado e sensível, assente na enorme cumplicidade entre marioneta e marionetista e que nos diz que não precisamos de sair do nosso quarto para viajarmos até muito longe, até onde nos deixarmos levar pelo sonho. Acrescentaria apenas que, se houvesse um prémio para a melhor marioneta, era para Laia que iria com inteira justiça, toda ela trabalhada em madeira, os movimentos assentes num impressionante conjunto de 18 fios, olhos articulados e uma “dimensão humana” verdadeiramente única.

Menos profundo, mas não menos divertido, The Gipsy Marionettist”, do bósnio Rasid Nikolic, teve na interacção com o público um dos seus grandes trunfos, misturando esqueletos que cantam jazz com tigres ferozes, dançarinas do ventre com o homem mais forte do mundo, o mais charmoso e sedutor e ainda o maior acrobata, estes três últimos “voluntários” recrutados entre a assistência. A manhã terminou com “Hanging by a Thread”, dos Di Filippo Marionette, dupla constituída por Remo Di Filippo e Rhoda Lopez. Através dele, ao longo de meia hora, vimos evoluir um violinista, um dançarino de sapateado, uma dona de casa empunhando uma vassoura, dois rappers, um ciclista acrobata e ainda Gino, um menino débil e um tanto envergonhado que encontra um nenúfar. Com um domínio da técnica particularmente apurado e uma presença de enorme expressividade, Rhoda e Remo ofereceram um espectáculo que encantou miúdos e graúdos e viria a conquistar o Prémio do Público deste FIMO 2019.

“A Árvore Cantada”, dos portugueses Cia Bipolar, foi um dos espectáculos que abriu a tarde, trazendo as questões ambientais para a ordem do dia. Lançando mão de um dispositivo cénico muito simples e eficaz e usando a técnica da manipulação directa, Cátia Vieira falou-nos o papel da água ao longo das estações do ano e a sua importância para que os ciclos ligados à natureza se possam repetir e perpetuar. No espaço fronteiro ao edifício da Câmara Municipal, Marta Lorente e Raquel Batet, da Cía. eLe, de Barcelona, ofereceram-nos uma visão possível do eterno conflito de gerações e de como um velho recupera um pouco da sua meninice depois de se cruzar na rua com um rapaz traquinas e de com ele se travar de razões. Da República Checa, Pavel Vangeli apresentou na Fonte dos Combatentes “The Swinging Marionettes”, espectáculo que recorre à técnica do fio para levar o espectador ao encontro dos anjos e demónios que habitam a cidade de Praga, de um espectáculo de circo, de um naufrágio no mar ou de um concerto de esqueletos em pleno cemitério. Quatro histórias divertidas, assentes em marionetas muito belas e numa enorme qualidade técnica do marionestista checo. Finalmente, no Auditório do Orfeão de Ovar, o chileno David Zuazola apresentou “El Juego Del Tempo”, conjunto de “sete peças, de sete minutos cada, de sete realizadores de sete diferentes países”, e que nos fala de bullying duma forma imaginativa e com uma linguagem narrativa que cruza as marionetas com o cinema de terror.

Para a noite do segundo dia estavam reservados dois dos melhores espectáculos deste FIMO. Primeiramente, na Casa da Contacto, Javier Aranda partiu das suas memórias de infância - os tempos passados ao lado da mãe a vê-la costurar, a cesta com agulhas, tesouras, meias velhas e todo um arsenal de sonho e magia -, para nos oferecer “Vida”, uma história muito simples tornada apelativa e particularmente eficaz graças à expressividade, à mímica e à capacidade técnica do espanhol na forma como emprega as mãos para contar a sua história. São mãos que distribuem magia quando se unem para dar vida a formas com as quais nos identificamos, com quem rimos e choramos. Por último, a companhia chinesa Yangzhou Puppetry Institute ofereceu ao muito público presente no Largo do Tribunal o espectáculo “Puppet Collection Highlight”, no qual oito marionetistas fizeram uma demonstração alargada do que de melhor a companhia tem para oferecer no campo das marionetas, manipuladas com a técnica da vara. Um espectáculo que, complementando todos os restantes, permitiu que o público tomasse contacto com a realidade das marionetas a um nível mais alargado e que se mostrou decisivo para elevar esta edição do FIMO a níveis de qualidade nunca antes alcançados.

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