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domingo, 17 de março de 2019

TEATRO: "Afonso Henriques"



TEATRO: “Afonso Henriques”
Dramaturgia, encenação e espaço cénico | João Brites
Arranjo musical a partir de recolha de música tradicional portuguesa
Oralidade | Teresa Lima
Adereços | Isabel Carretas, Clara Bento, Fátima Santos
Interpretação | Juliana Pinho, João Neca, Miguel Jesus, Nicolas Brites, Rita Brito
Apoio à Direcção Artística | Guilherme Noronha
Operação de luz | Nicolas Manfredini
Produção | Teatro O Bando
Espectáculo estreado em Novembro de 1982, recriação estreada em Outubro de 2009 | 60 minutos | M/6
Cine-Teatro de Estarreja
16 Mar 2019 | sab | 21:30


Henrique: Filho, toda esta terra que eu te deixo de Astorga para além de Coimbra, não percas dela um palmo, pois a ganhei com grande pena e trabalho. E filho, toma do meu coração algum... outro tanto, com que sejas valente. E sê companheiro para os fidalgos. E dá-lhes sempre os seus dinheiros bem contados. E respeita as assembleias da cidade e faz com que tenham os seus direitos tanto os grandes como os pequenos. E nem por pedidos, cunhas ou cobiça deixes de fazer justiça. Pois se um dia deixares de fazer justiça um palmo, logo ao outro dia se afastará de ti uma braça. E por isso, meu filho, guarda sempre a justiça no teu coração.

Afonso: Mamã, o que é a justiça?

D. Teresa: Afonso Henriques!... Shiu!”


A partir de um poema épico de tradição oral e de crónicas da Idade Média, o Teatro O Bando subiu à cena em Estarreja para a enésima apresentação de “Afonso Henriques”, bem humorado “retrato do nosso primeiro rei com suas glórias e vicissitudes”, mas também “a desmistificação do herói ao som de gaita-de-foles e de tambores”. Foi esta a proposta para o final do segundo dia do ALAVANCA – Festival de Teatro de Avanca, uma organização da Companhia de Teatro Kopinxas e que chamou ao Cine-Teatro uma fatia apreciável de um público de todas as idades.

Energia transbordante, cadência intensa e imaginação inexcedível foram os ingredientes dos quais O Bando lançou mão para traçar este retrato de uma criança que herda um pedaço de terra lá para os lados de Astorga, de um adolescente que aprisiona a mãe, de um guerreiro que mata e que saqueia e que se zanga com o papa, de um conquistador temível que em nome do reino de Deus ataca sempre de surpresa, de um velho friorento que se liberta das mãos dos castelhanos e morre aprisionado nas memórias e nas imagens de todos nós.

Fundindo a história com a lenda, O Bando recria, ao seu jeito muito próprio, os passos do fundador da nacionalidade, envolvendo o público na trama e cativando-o pelo trocadilho, pelo ritmo e pelo humor. Neste sentido, o grupo faz mais pelo ensino da História em 60 minutos do que todos os manuais em infindáveis tempos lectivos. Dispositivos cénicos muito simples, a música sempre presente – com especial destaque para as percussões – e uma piscadela de olho ao teatro de marionetas, revelam-se recursos altamente eficazes e tornam “Afonso Henriques” numa peça absolutamente irresistível, tanto para miúdos como para graúdos. Mais do que uma lição de História, uma lição de Teatro!

[Foto gentilmente cedida por João Neca / Teatro O Bando]

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