TEATRO: “Afonso Henriques”
Dramaturgia, encenação e espaço
cénico | João Brites
Arranjo musical a partir de recolha de música tradicional portuguesa
Oralidade | Teresa Lima
Oralidade | Teresa Lima
Adereços | Isabel Carretas, Clara
Bento, Fátima Santos
Interpretação | Juliana Pinho,
João Neca, Miguel Jesus, Nicolas Brites, Rita Brito
Apoio à Direcção Artística | Guilherme Noronha
Operação de luz | Nicolas Manfredini
Produção | Teatro O Bando
Operação de luz | Nicolas Manfredini
Produção | Teatro O Bando
Espectáculo estreado em Novembro de
1982, recriação estreada em Outubro de 2009 | 60 minutos | M/6
Cine-Teatro de Estarreja
16 Mar 2019 | sab | 21:30
“Henrique: Filho, toda esta
terra que eu te deixo de Astorga para além de Coimbra, não percas
dela um palmo, pois a ganhei com grande pena e trabalho. E filho,
toma do meu coração algum... outro tanto, com que sejas valente. E
sê companheiro para os fidalgos. E dá-lhes sempre os seus dinheiros
bem contados. E respeita as assembleias da cidade e faz com que
tenham os seus direitos tanto os grandes como os pequenos. E nem por
pedidos, cunhas ou cobiça deixes de fazer justiça. Pois se um dia
deixares de fazer justiça um palmo, logo ao outro dia se afastará
de ti uma braça. E por isso, meu filho, guarda sempre a justiça no
teu coração.
Afonso: Mamã, o que é a
justiça?
D. Teresa: Afonso Henriques!...
Shiu!”
A partir de um poema épico de tradição
oral e de crónicas da Idade Média, o Teatro O Bando subiu à cena em Estarreja para a enésima apresentação de “Afonso Henriques”, bem
humorado “retrato do nosso primeiro rei com suas glórias e
vicissitudes”, mas também “a desmistificação do herói ao som
de gaita-de-foles e de tambores”. Foi esta a proposta para o final
do segundo dia do ALAVANCA – Festival de Teatro de Avanca, uma
organização da Companhia de Teatro Kopinxas e que chamou ao
Cine-Teatro uma fatia apreciável de um público de
todas as idades.
Energia transbordante, cadência
intensa e imaginação inexcedível foram os ingredientes dos quais O
Bando lançou mão para traçar este retrato de uma criança que
herda um pedaço de terra lá para os lados de Astorga, de um
adolescente que aprisiona a mãe, de um guerreiro que mata e que
saqueia e que se zanga com o papa, de um conquistador temível que em
nome do reino de Deus ataca sempre de surpresa, de um velho friorento
que se liberta das mãos dos castelhanos e morre aprisionado nas
memórias e nas imagens de todos nós.
Fundindo a história com a lenda, O
Bando recria, ao seu jeito muito próprio, os passos do fundador da
nacionalidade, envolvendo o público na trama e cativando-o pelo
trocadilho, pelo ritmo e pelo humor. Neste sentido, o grupo faz mais
pelo ensino da História em 60 minutos do que todos os manuais em
infindáveis tempos lectivos. Dispositivos cénicos muito simples, a
música sempre presente – com especial destaque para as percussões
– e uma piscadela de olho ao teatro de marionetas, revelam-se
recursos altamente eficazes e tornam “Afonso Henriques” numa peça absolutamente irresistível, tanto para miúdos como para
graúdos. Mais do que uma lição de História, uma lição de
Teatro!
[Foto gentilmente cedida por João Neca / Teatro O Bando]
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