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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

TEATRO: "Breu"



TEATRO: “Breu”
Direcção artística, criação e texto | Joana Moraes
Cenografia | Colectivo Monte
Figurinos | Inês Mariana Moita
Interpretação e co-criação | Ana Vargas, Gilberto Oliveira, Joana Moraes, João Pamplona, Pedro Roquette, Sara Costa
Artistas circenses | Margarida Monteny, Maria Brunale, Sara Sabina Arizmendi, Valentina Quargemtam
Produção | Musgo, Teatro Nacional S. João
80 Minutos | M/12
Teatro Carlos Alberto
20 Fev 2019 | qua | 19:00


Em jeito de “aperitivo”, o público tem a oportunidade de apreciar, na Sala de Vidro do TeCA, um conjunto de belíssimas fotografias (infelizmente muito pouco valorizadas pela solução expositiva encontrada), da autoria de Paulo Pimenta, captadas nas inúmeras deambulações pelos circos do Grande Porto, nos passados meses de Novembro, Dezembro e Janeiro. São imagens que nos falam da vida das pessoas do circo “do lado de fora da tenda”, que deixam adivinhar um mundo de carências, precariedade e discriminação, mas que são reveladoras da extraordinária resiliência e de um enorme apego à vida de artista que cada um escolheu. Os apoios básicos são certamente insuficientes, o trabalho é manifestamente duro, mas a maquilhagem, os fatos brilhantes e coloridos, as luzes e as palmas, os sorrisos das crianças, fazem com que “o mundo pule e avance” graças ao sonho e à magia do circo.

Comecei por referir as fotografias de Paulo Pimenta porque o seu valor e significado ampliam “Breu” na sua mensagem de vidas simples de gente simples. É uma peça que nos diz não haver grandes diferenças entra a vida de artista de circo e a da maioria das pessoas: lavar e estender a roupa, ir às compras, cozinhar e ir contando os tostões. Remediando o que pode ser remediado (tocante a história em torno da cabeça da vaca). Procurando compreender e ser compreendido no cerne de uma comunidade que se funde na própria família, o amor na corda bamba, sempre, a ausência de rede, por regra. Mas que nos diz também que o sonho é a última coisa a morrer, ainda que o sonho possa residir apenas no ir um pouco mais longe em cada número ou, quem sabe, num contrato noutra companhia com mais nome e projecção. Porque abandonar o circo, nunca!

Extraordinariamente simples na sua concepção cenográfica, “Breu” afirma-se pleno de sinceridade num texto construído de forma sensível e num conjunto de interpretações que se pautam pela verdade e pela autenticidade na forma como cada actor incarna o seu papel. É nos bastidores desta tenda de circo que tudo se passa, o espaço utilizado de forma inteligente para mostrar ao espectador o quão ténue é a cortina que separa o real do que é ilusório. Apenas as três artistas circenses que reforçam o elenco parecem estar a mais num conjunto de actores com tanto de juventude como de talento. Lúcida e duma enorme ternura, “Breu” é uma peça que nos devolve o teatro como espaço aprazível de entretenimento mas também de reflexão profunda sobre os pequenos mundos dos quais o nosso mundo se faz.

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