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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA:
“Finitude”,
de Manuela Vaz
iNstantes 2019 – Festival
Internacional de Fotografia de Avintes
Casa da Cultura Francisco Marques
Rodrigues Junior
01 Fev > 03 Mar 2019
“Era uma vez um bloco de notas que
cabia na palma da mão. Castanho pardo, de folha encorpada. Meio
século depois nem uma letra havia nas suas páginas. No entanto, o
número de folhas duplicara, triplicara… Cada folha do caderno
abrigava pelo menos uma outra folha, a de uma planta. Ali foram sendo
colocadas e ali foram sendo esquecidas. Resistiram as nervuras, agora
teias, ou rendas, delicadas. Mereciam ser eternizadas, ser objetos de
arte (...)”
Manuela Vaz, in “Finitude, Memória
Descritiva”
“Cada imagem é única, tal como cada
folha é única, tal como cada amizade é única”. Deixada por
Manuela Vaz, esta frase resume todo um trabalho ao qual decidiu dar o nome de “Finitude”. Num universo de 26 exposições
que integram a sexta edição do iNstantes – Festival Internacional
de Fotografia de Avintes, este trabalho da artista é dos que mais toca o
visitante, quer pela beleza assente no processo técnico de impressão
de imagens que lhe está subjacente, quer pela riqueza da história
que se abriga à sombra destas imagens, uma amiga de longa data a
confiar-lhe um bloco de notas cheio de folhas secas nas mãos,
dizendo-lhe: “Com isto eu sei que vais fazer algo de belo.” Assim
se dava início a um projecto delicado e minucioso e que constitui,
no limite, um significativo tributo ao valor da amizade!
Com o precioso bloco nas mãos, Manuela
Vaz começou por digitalizar cada uma das folhas por inteiro,
partindo, de seguida, em busca dos pormenores. À medida que
avançava, a artista descobria vida própria em cada imagem gerada,
devolvendo à vida cada folha seca até então aprisionada. Procurou-lhes as texturas, reduziu-as aos seus ínfimos detalhes e libertou-as da
forma convencional e reconhecível no imediato. Imagens geram
imagens. Cada uma vale por si. Lado a lado constroem painéis com o
tamanho que a criação entender. Mas Manuela Vaz queria mais,
insatisfeita que estava com a impressão “convencional”. Era
necessário algo ímpar e a cianotipia viria a tornar possível um trabalho
singular e irrepetível.
Processo de impressão de imagens que
data do século XIX, a cianotipia implica a sensibilização de papel
com sais de ferro. A impressão é feita por contacto directo – o
negativo é aposto directamente em cima do papel a imprimir e
colocado ao Sol para que a luz ultravioleta revele a imagem no
papel. E foi este o recurso técnico do qual Manuela Vaz lançou mão
para perpetuar legado tão precioso, numa combinação das
tecnologias mais actuais com um processo de impressão fotográfica
centenário. Finalmente, construiu um conjunto de painéis,
inspirando-se nas inúmeras constantes algébricas que regulam o
Universo, do qual as folhas fazem parte, o tamanho das imagens
respeitando a proporção áurea, a sua aplicação na tela feita com
um bordado em fio de algodão. O resultado é sublime, não só pela
poética visual que emana destas imagens, como pela ousadia em desafiar
o tempo, respeitando a “finitude” das folhas secas que serviram
de base a este trabalho, mas conferindo-lhes uma transmutação
temporal que eterniza a sua existência. Tal qual uma amizade forte e
verdadeira!
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