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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “O
Olhar de Compromisso com os Filhos dos Grandes Descobridores”,
de Gérald Bloncourt
iNstantes 2019 – Festival
Internacional de Fotografia de Avintes
Junta de Freguesia de Avintes
01 Fev > 03 Mar 2019
“(...) Em vida vive-se a morte
Se
o trabalho não dá frutoMorre-se em cada minuto
Se o fruto nunca se alcança
Porque lhe foi dura a sorte
Vai para terras de França (...)”
Excerto de “Trova do Emigrante”, de Manuel Alegre
A emigração de portugueses para França, a partir de finais da década de 1950, é um dos episódios mais marcantes da nossa história. A sua natureza é determinada por uma profunda descrença nas capacidades de desenvolvimento do país, sob o jugo de uma ditadura que se prolonga no tempo e que mantém as condições dos que aqui vivem e trabalham em níveis degradantes. Entre 1958 e 1974, cerca de um milhão de portugueses instalam-se em França, dispostos a trabalharem no que lhes apareça, suportando a custo todo o tipo de humilhações. Com este acto de partir, em massa, clandestinamente, “a sua oposição é revolucionária, mesmo que a sua consciência não o seja”, como escreve Herbert Marcuse. Há, portanto, movimento. É o “salto”. Parte-se silenciosamente, às escondidas. Em primeiro lugar, os homens, sozinhos. Em seguida, as mulheres, depois as crianças. Em poucos anos despovoam-se regiões inteiras abrindo-se profundas rupturas na suas estruturas económicas, sociais e culturais. Nada voltará a ser como dantes!
Acompanhando gerações de portugueses que fugiam das condições miserabilistas que o país tinha para lhes oferecer, Gérald Bloncourt estabeleceu com eles um forte compromisso social. Mergulhando no coração dos gigantescos oceanos de lama em que os bidonvilles se convertem quando chove, Bloncourt mostra que aqueles homens que vemos caminhar com um passo vivo, a caminho do trabalho, estão, com toda a evidência, acima da lama com que tiveram de contemporizar durante demasiado tempo. Mas o fotógrafo não escolhe apenas denunciar a miséria em que viviam os imigrantes em França, apostando também em transmitir a sua determinação em sair dela. As suas imagens são disso a prova, retratando homens e mulheres que, apesar de viveram num despojamento quase total, ostentam uma enorme dignidade e orgulho na afirmação dessa vontade em oferecer um futuro melhor aos seus filhos.
Prodigioso poder esse, o da fotografia
de Bloncourt, que nos revela o mundo tal como ele é. No seu livro,
editado em 2004, “Le Regard Engagé”, escreve: “Lénine disse
que podemos acelerar a História. Esta seria a minha maneira de
tentar fazê-lo”. Este olhar comprometido de Bloncourt com os
portugueses, que o fotógrafo, agraciado com o grau de cavaleiro da
Ordem Nacional da Legião de Honra francesa e com o de Comendador da
Ordem do Infante D. Henrique, identifica como os descendentes dos
grandes descobridores do mundo, pode ser agora apreciado no edifício
da Junta de Freguesia de Avintes. No seu conjunto, são duas dezenas
de preciosos documentos que nos devolvem imagens duras, mas de uma
enorme determinação e firmeza no coração daqueles que, lá fora,
foram ainda e sempre Portugal. A não perder!
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