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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

TEATRO: "Uma Noite no Futuro"



TEATRO: “Uma Noite no Futuro”,
Com Samuel Beckett e Gil Vicente
Encenação, cenografia e figurinos | Nuno Carinhas
Conceito e dramaturgia | Nuno Carinhas e Pedro Sobrado
Interpretação | Alberto Magassela, João Cardoso, João Delgado Lourenço, Paulo Freixinho, Sara Barros Leitão
Produção | TNSJ
Teatro Carlos Alberto | 100 minutos | Maiores de 12
19 Dez 2018 | qua | 19:00


Última produção de Nuno Carinhas enquanto director artístico do Teatro Nacional de São João, “Uma Noite no Futuro” é uma peça que aborda a memória em múltiplas dimensões. Recuperando excertos de “Velha Toada” e “A Última Gravação de Krapp”, de Samuel Beckett, e o “Auto da Fé”, de Gil Vicente, a peça dá-nos a ver, em sequências distintas, o desfiar das lembranças de outrora no reencontro de dois amigos, o monólogo de um homem à volta das suas gravações para memória futura e ainda a aproximação de dois pastores aos mistérios da fé.

À ousadia de cruzar as obras de duas personalidades ímpares da dramaturgia universal, acrescenta Nuno Carinhas as memórias de algumas das suas encenações anteriores, sob a forma dum tapete (“O Tio Vânia”, 2005) ou dum beliche (“Breve Sumário da História de Deus”, 2009), duma porta (“Exactamente Antunes”, 2011) ou dum alguidar (“Alma”, 2012). O realejo que pontua a cena inicial, o velho gravador de bobines que se assume como personagem na cena seguinte ou os diálogos entre os pastores Brás e Benito que fecham a peça são, também eles, referentes que, no apelo à memória, mais não fazem do que pontuar a inexorável marcha do tempo e as marcas que daí sobram.

Se é verdade que a proposta de Nuno Carinhas encerra um conjunto de aliciantes que não podem ser descurados, não é menos verdade que, em palco, as coisas não funcionam como seria expectável. Embora se perceba o esforço em tornar coerente o fio narrativo, “Uma Noite no Futuro” transforma-se num exercício de teatro desgarrado, exigindo do espectador uma enorme dose de imaginação e muito boa vontade para encontrar algum sentido no suposto encontro entre os teatros de Beckett e Gil Vicente. Embalados em sequências repetitivas ou em diálogos ininteligíveis (felizmente havia a tradução para inglês, já que o espectador não é obrigado a ser fluente em saiaguês), da frustração ao tédio vai um pequenino passo. Num ano repleto de bom teatro, esta é daquelas peças que rapidamente se perde no espaço da memória!

[Foto: Adriano Miranda / publico.pt]

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