TEATRO: “Uma Noite no Futuro”,
Com Samuel Beckett e Gil Vicente
Encenação, cenografia e figurinos
| Nuno Carinhas
Conceito e dramaturgia | Nuno
Carinhas e Pedro Sobrado
Interpretação | Alberto Magassela,
João Cardoso, João Delgado Lourenço, Paulo Freixinho, Sara Barros
Leitão
Produção | TNSJ
Teatro Carlos Alberto | 100 minutos
| Maiores de 12
19 Dez 2018 | qua | 19:00
Última produção de Nuno Carinhas
enquanto director artístico do Teatro Nacional de São João, “Uma
Noite no Futuro” é uma peça que aborda a memória em múltiplas
dimensões. Recuperando excertos de “Velha Toada” e “A Última
Gravação de Krapp”, de Samuel Beckett, e o “Auto da Fé”, de
Gil Vicente, a peça dá-nos a ver, em sequências distintas, o
desfiar das lembranças de outrora no reencontro de dois amigos, o
monólogo de um homem à volta das suas gravações para memória
futura e ainda a aproximação de dois pastores aos mistérios da fé.
À ousadia de cruzar as obras de duas
personalidades ímpares da dramaturgia universal, acrescenta Nuno
Carinhas as memórias de algumas das suas encenações anteriores,
sob a forma dum tapete (“O Tio Vânia”, 2005) ou dum beliche
(“Breve Sumário da História de Deus”, 2009), duma porta
(“Exactamente Antunes”, 2011) ou dum alguidar (“Alma”, 2012).
O realejo que pontua a cena inicial, o velho gravador de bobines que
se assume como personagem na cena seguinte ou os diálogos entre os
pastores Brás e Benito que fecham a peça são, também eles,
referentes que, no apelo à memória, mais não fazem do que pontuar
a inexorável marcha do tempo e as marcas que daí sobram.
Se é verdade que a proposta de Nuno
Carinhas encerra um conjunto de aliciantes que não podem ser
descurados, não é menos verdade que, em palco, as coisas não
funcionam como seria expectável. Embora se perceba o esforço em
tornar coerente o fio narrativo, “Uma Noite no Futuro”
transforma-se num exercício de teatro desgarrado, exigindo do
espectador uma enorme dose de imaginação e muito boa vontade para
encontrar algum sentido no suposto encontro entre os teatros de
Beckett e Gil Vicente. Embalados em sequências repetitivas ou em
diálogos ininteligíveis (felizmente havia a tradução para inglês,
já que o espectador não é obrigado a ser fluente em saiaguês), da
frustração ao tédio vai um pequenino passo. Num ano repleto de bom
teatro, esta é daquelas peças que rapidamente se perde no espaço
da memória!
[Foto: Adriano Miranda / publico.pt]
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