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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA:
“Robert Mapplethorpe Pictures”,
Museu de Arte Contemporânea de
Serralves, Porto
20 Set > 06 Jan 2018
Com tanto ruído à volta de Robert
Mapplethorpe e da exposição de fotografia patente no Museu de
Serralves - “fotos explícitas, salas interditadas, director
demissionário”, anuncia o Diário de Notícias -, fácil será
deixarmo-nos dominar pelo acessório, desviando a atenção do
essencial. E o essencial é, neste caso, estarmos perante um dos mais
notáveis artistas do século XX, um fotógrafo cujo trabalho
redefiniu os limites do erotismo, expondo a beleza daquilo que por
muitos era – desgraçadamente ainda é – considerado simplesmente
inaceitável. Essencial esse que esta exposição não só confirma como amplia, nomeadamente pela afirmação das diferenças, tanto da identidade de género como das orientações sexuais, resultando numa experiência impactante e deveras enriquecedora.
Organizada em estreita colaboração
com a Robert Mapplethorpe Foundation, “Robert Mapplethorpe Pictures” reúne 159
obras que cobrem toda a carreira artística do fotógrafo, desde as primeiras
colagens e polaroides até às fotografias de flores, nus, retratos e
imagens de cariz sexual. Particularmente belas, as obras
correspondentes ao período a partir de 1975 – altura em que começa
a trabalhar com uma câmara Hasselblad totalmente manual, cujo visor
delimita o mundo num quadrado – resultam de exposições longas e
de composições metodicamente dispostas e ordenadas em estúdio,
cujos equilíbrio, ordem e conteúdo redefiniram a fotografia como
forma artística. São, no essencial, obras depuradas do ponto de vista estético, que ajudam a contextualizar socialmente uma época e, sobretudo, cumprem um dos mais importantes desígnios da arte, no seu todo, o de aniquilar o preconceito.
Mantendo o foco no essencial desta
exposição, o nosso olhar recai sobre o rosto doce de Isabella Rossellini e percebemos o quão sensível é o
olhar do artista para nos oferecer uma imagem de tamanha dimensão
estética, com tanta pureza. E que dizer da imagem que sobrepõe as
cabeças de Ken Moody e Robert Sherman, preto e branco unidos numa só cor? Ou das mãos de Lowell
Smith que abraçam aquilo que parece
ser a porta dum armário? Ou do olhar de Dennis Speight, a mão erguida à altura do rosto, uma sombra
na diagonal por detrás da composição? (Ou das icónicas imagens de
Patti Smith, Arnold Schwarzenegger, Marianne Faithfull, Iggy Pop,
Andy Warhol, Richard Gere, Susan Sarandon ou William Burroughs, entre
muitas outras?). Julgo que não há muito mais a dizer. “Robert Mapplethorpe Pictures”
é uma exposição notável, que nos permite perceber, em toda a sua
dimensão, um artista e uma obra notáveis. Vale bem a deslocação a Serralves!
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