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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

CONCERTO: Elisa Rodrigues



CONCERTO: Elisa Rodrigues
Sons no Património
Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, Porto
28 Set 2018 | sex | 18:00


É sexta feira e mais uma semana de trabalho chega ao fim. O trânsito rasga com fúria a Rua de Nossa Senhora de Fátima em ambos os sentidos mas ali, nos jardins da Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, tudo é tranquilidade. As pessoas instalam-se sem pressas à medida que vão chegando e reparam na magnífica e centenária magnólia que abriga sob os seus ramos um palco improvisado pronto a receber Elisa Rodrigues. Sopra uma fresca brisa neste final de tarde, como que a querer lembrar-nos que o Outono já chegou. De súbito, o silêncio faz-se maior e uma voz irrompe, serena, límpida, poderosa, no meio de todo aquele verde. Sem acompanhamento. “Just Start a Fire” faz-se escutar, remetendo para os espirituais negros, para os cânticos de trabalho na vastidão dos campos de algodão do Mississippi ou do Alabama, as palavras fortíssimas - “(...) and this war is an illusion, nobody ever won / so start a fire” - a marcarem o início dum concerto que viria a ser uma revelação.

A este tema – que é também a faixa de abertura do seu segundo álbum, “As Blue As Red”, editado este ano -, seguiu-se “Run”, do álbum de estreia “Heart Mouth Dialogues” (2011). Esta alternância entre os seus álbuns manter-se-ia apenas nos dois temas seguintes, primeiro com “Little Heart”, escrito por Joana Espadinha e depois com o fabuloso “Ain't no Sunshine”, aqui numa nova roupagem, a fazer vir ao de cima o potencial duma voz que parece ter um pedacinho do fascínio de Liza Minelli, da sensualidade de Marilyn Monroe e do carisma de Doris Day. A partir daqui só deu “As Blue As Red”, a cantora a interpretar as restantes nove faixas do álbum, todo ele de originais à excepção de “If You Could Read My Mind”, canção de 1970 do canadiano Gordon Lightfoot, da qual Johnny Cash gravou uma versão única e arrebatadora, já na fase final da sua carreira.

Desta parte do concerto, com tanto de azul como de vermelho, gostaria de destacar “Words”, um tema duma beleza esmagadora escrito a meias com Luisa Sobral, a guitarra de João Firmino a servir de contraponto perfeito à voz de Elisa Rodrigues, música e letra a transportarem-nos para oásis distantes, paraísos de calma e felicidade. “In and Around You”, o primeiro single deste novo disco, é igualmente uma delícia, assim como “Other Men”, o contrabaixo de Martim Torres a vir ao de cima, a cantora a puxar pela sua veia fadista. Há ainda “Pontinho” - “e quando o dia vem / e deixo de o ver bem / cresce enfim em mim / brilha lá no céu / um pontinho que é meu / não dou a ninguém” -, como uma canção de embalar, uma composição preciosa de Luisa Sobral, interpretada de forma emotiva, sensível e plena de ternura por Elisa Rodrigues, a lembrar-nos aqueles que, mesmo tão longe, estão sempre connosco. Tudo termina em apoteose com “Justine”, tema escrito igualmente a meias com Luisa Sobral - “cause I'm waiting for / my love to come / and make me dance / oh I know that she is my only chance” - o final mais que perfeito para um concerto fantástico.

Uma última palavra para a banda que acompanhou a cantora – Margarida Campelo nos teclados e na voz, João Firmino na guitarra, Martim Torres no contrabaixo e no baixo e Alexandre Alves na bateria -, consistente e particularmente sóbria, a deixar todo o espaço à voz da cantora e a surgir no momento certo em apontamentos individuais de elevado nível. É possível que, “nesta altura do campeonato”, Elisa Rodrigues não dispense apresentações. Por aquilo que mostrou, porém, não tardará muito a conseguir impor-se como uma das nossas maiores vozes que já o é. Vale a pena estar atentos!

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