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sexta-feira, 18 de maio de 2018

TEATRO: "Correspondência - Projecto Artístico de J. D."




TEATRO: “Correspondência - Projecto Artístico de J. D.”
Dramaturgia | Leandro Ribeiro com a comunidade ovarense, a partir de cartas de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (pseudónimo Júlio Dinis e heterónimo Diana de Aveleda)
Autoria e Encenação | Leandro Ribeiro
Interpretação | Clara Oliveira e Leandro Ribeiro
Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense
17 Mai 2018 | qui | 19:00


Assumindo-se como “uma performance teatral em que a troca de correspondência gera dramaturgia”, “Correspondência – Projecto Artístico de J. D.” surge no âmbito dum Mestrado em Artes Cénicas da ESMAE e constrói-se a partir de cartas de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (pseudónimo Júlio Dinis e heterónimo Diana de Aveleda). Em formato de visita guiada, o espectáculo convida o público a percorrer a casa onde, no verão de 1863, o escritor se instalou por motivos de saúde. Uma casa onde Júlio Dinis, vencida a estranheza dos momentos iniciais, terá sido feliz, rendendo-se à pacatez rural de Ovar, observando em detalhe os vareiros e procurando saber as histórias das suas vidas, para mais tarde vir a inspirar-se no material recolhido para compor episódios dos seus romances, o primeiro dos quais, “As Pupilas do Senhor Reitor”, foi publicado em 1866.

Se as cartas escritas por Júlio Dinis desempenham um papel primordial na construção dramatúrgica da peça, não menos importantes são as mensagens resultantes da troca de correspondência com cerca de três dezenas de ovarenses, tantos quantos aceitaram o repto de responder a Leandro Ribeiro, escudado no anonimato sob as figuras dum angustiado “Joaquim” e duma revolucionária “Diana”. Em termos da narrativa, o resultado é surpreendente, não apenas pela maneira inteligente como a correpondência (a actual e a antiga) se articula entre si, como pela forma como os temas são tratados – Ovar e as suas gentes, por um lado e, por outro, o estado da arte. Leandro Ribeiro mostra-se exímio neste exercício de aproximação de temas e épocas, obrigando o espectador a recuar no tempo para lhe mostrar quão ténue é a linha que separa as preocupações de agora daquelas de há 150 anos atrás.

Percorrendo todo o espaço do Museu Júlio Dinis – Uma Casa Ovarense, o espectáculo lança mão duma série de possibilidades cénicas de enorme criatividade e impacto visual, do simples monólogo ao pedido de colaboração do público na construção dum castelo de cartas, na recriação da sequência da chegada do correio à vila ou, já na parte final, a privar com o escritor / actor na intimidade do seu leito. A intensidade dramática cresce na proporção directa da cumplicidade que se vai estabelecendo com o público, sendo o final – sob a forma de conversa – um momento de enorme emoção, pela adesão total do público. Um momento que suscita uma reflexão séria sobre o papel das cartas nos dias de hoje, esses objectos agradáveis, que nos falam das coisas do coração, mas cujo desuso nos leva cada vez mais a olhar para elas com os olhos da desconfiança e da suspeição.

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