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domingo, 6 de maio de 2018

ARTES CIRCENSES: "Plaina"



ARTES CIRCENSES: “Plaina”
Interpretação | Ariana Silva, Douglas Melo, Fábio Constantino, Mauricio Jara e Telma Pinto
Direcção Artística | Jorge Lix
Cenografia | Arnold Von Rossum
Música Original | Luca Argel
Produção | Cia Umpor1
Cine-Teatro de Estarreja
06 Mai 2018 | dom | 17:00


Encerrando um fim de semana recheado de propostas inovadoras e de enorme qualidade, as Artes Circenses subiram ao palco do Cine-Teatro de Estarreja com o espectáculo “Plaina”, da Companhia Umpor1. Inserida na Programação Cultural em Rede da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro, a peça foi construída num pressuposto de relação entre território, identidade e património, conjugando pessoas, saberes e tradições e permitindo, desta forma, a construção de novas memórias sob perspectivas artísticas contemporâneas.

Partindo das histórias e memórias ligadas à ria e aos seus esteiros, Jorge Lix, o Director Artístico da Cia Umpor1, constrói um espectáculo cuja linha dramatúrgica persegue a construção naval como arte em vias de extinção, encontrando no desaparecimento do moliço a razão para a morte dos estaleiros. Neste trabalho de reconstrução da memória – a remeter para os ambientes dum velho estaleiro nas margens da ria -, “Plaina” serve-se dum dispositivo cénico versátil e dum desenvolvimento inteligente para deixar uma mensagem de cariz marcadamente ecológico, evocativa da importância da preservação da natureza.

Fundindo as Artes Circenses com o Teatro e a Dança, o espectáculo vive muito da enorme plasticidade dos elementos cénicos – o contraste entre o “rijo” da madeira e o “mole” do moliço proporciona momentos de grande beleza -, mas vive sobretudo das prestações de cinco jovens em palco que interpretam, de forma tocante, os dilemas, frustrações e contradições daqueles que viram a vida no imenso manto de água extinguir-se a cada dia, o mundo a desabar à sua volta, o futuro carregado de incertezas. De todos eles, permito-me destacar Ariana Silva numa estreia auspiciosa, rosto fechado sob um barrete de lã, uma teatralidade invulgar, o palco cheio com a sua presença.

Adereços dum estaleiro que se desmorona, varas, cordas, tábuas e redes voltam a ganhar vida através do olhar e do gesto dos actores. São eles os arautos da mudança. Saibamos nós – todos nós (!) - ser dignos depositários da sua mensagem de esperança e agentes interventivos na reposição dum mundo mais justo e equilibrado, mais digno e melhor!

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