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terça-feira, 8 de maio de 2018

VISITA GUIADA: "Igreja Matriz de Válega, Cemitério de Válega e Capela de Nossa Senhora de Entráguas"



VISITA GUIADA: “Igreja Matriz de Válega, Cemitério de Válega e Capela de Nossa Senhora de Entráguas”
Orientada por | Sofia Vechina
Organizada por | Câmara Municipal de Ovar, Serviço de Turismo
05 Mai 2018 | sab | 10:00 – 12:30


Pelo segundo ano consecutivo, Maio é o mês do Azulejo na Cidade de Ovar. Visitas guiadas, exposições, oficinas, sessões de esclarecimento e actividades lúdicas estão entre as várias actividades preparadas pelo Serviço de Turismo da Câmara Municipal de Ovar para sublinhar a importância do azulejo como elemento diferenciador deste singular território e, ao mesmo tempo, sensibilizar para a importância da sua preservação e valorização. É neste âmbito que se insere a visita guiada à Igreja Matriz de Válega, Cemitério de Válega e Capela de Nossa Senhora de Entráguas, orientada pela historiadora Sofia Vechina e que reuniu, na estupenda manhã do passado sábado, duas dezenas de participantes para duas horas e meia de história, cultura e partilha de experiências.

A Igreja Matriz de Válega, com a sua exuberância policromática conferida pelos enormes painéis de azulejo que revestem tanto o exterior como o interior do templo, foi o primeiro ponto de paragem. Depois de apreciar o painel de Nossa Senhora do Amparo, obra do aguarelista Jorge Colaço e que Sofia Vechina considera “uma peça única” no Concelho de Ovar, o grupo dirigiu-se para o adro da Igreja onde tomou conhecimento da história do templo, desde o lançamento da primeira pedra, em 20 de Novembro de 1746, até à aplicação do azulejo da fachada em 1960, uma encomenda do Comendador António Maria Augusto da Silva.

Das referências à primitiva Igreja, remontando a 1150 e que a localizam, provavelmente, no lugar de Seixo Branco, às mais recentes intervenções, nomeadamente a construção do tecto de caixotões de madeira exótica, obra patrocinada pelos irmãos Oliveira Lopes, os vitrais assinados S. Cuadrado (Madrid) e o revestimento dos alçados laterais e posterior, com desenho do Arquitecto Januário Godinho, tudo foi passado a pente fino. Sofia Vechina fez questão de enfatizar a representação do programa mariano nos painéis do interior da Igreja, a presença de ilustres valeguenses – Cónego Dr. Joaquim Manuel Valente, D. António Valente da Fonseca, Monsenhor Miguel de Oliveira e o próprio Comendador António Maria Augusto da Silva – nos vitrais da Capela Mor, uma representação “raríssima no contexto da arte portuguesa” que evoca a morte de S. José, no Coro Alto e os painéis de azulejo do Baptistério (de 1958), que são uma cópia dos existentes na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Porto, da autoria de Dórdio Gomes. 

Particularmente interessante foi o confronto entre as várias representações azulejares e as obras originais, com destaque para a “Entrega das Chaves a S. Pedro”, de Pietro Perugino (1481-1482, fresco da Capela Sistina, Vaticano), a “Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição”, de Franceso Podesti (1854, Sala dell’Immacolata, Vaticano), os “Esponsais da Virgem”, de Rafael (1504, Pinacoteca de Brera, Milão), “A Anunciação”, de Bartolomé Esteban Murillo (c. 1660, Hermitage, S. Petersburgo) ou “Maternidade”, do mesmo Murillo e cujo original se encontra no Museu do Prado, em Madrid.

Já no Cemitério de Válega foi dada a oportunidade aos participantes nesta Visita Guiada de apreciarem um jazigo recoberto com belíssimos azulejos azuis com representações de anjos, flores e uma balaustrada a assinalar a transição entre o terreno e o celeste, a vida e a morte. Encomenda de um particular, o painel de azulejos apresenta um carácter semi-industrial e nele são evidentes irregularidades na superfície que têm a ver com o processo de fabrico por prensa e que não se encontram, por exemplo, nos azulejos da Igreja Matriz de Válega. Durante o trajecto entre o Cemitério e a Capela de Nossa Senhora de Entráguas, Sofia Vechina chamou a atenção para um conjunto de casas azulejadas com padrões de belo efeito, algumas delas seculares e que, sobressaindo das restantes, serviam de elemento distintivo do estatuto social dos seus habitantes. 

Última paragem desta visita, a Capela de Nossa Senhora de Entráguas impressiona pela sua traça - onde sobressai o conjunto de contrafortes, fazendo dela um exemplar arquitectónico único no Concelho - e também pela altura inusual do presbitério, elevado para que na sua base pudessem ser depositados os restos mortais de D. Diogo Lobo, Bispo da Guarda e encomendador desta Capela construída em 1628. A par da lenda que sustenta o levantamento do templo e da alusão a alguns ex-votos que, infelizmente, não foi possível observar, a historiadora realçou a importância dos azulejos originais que decoram uma parte do friso do presbitério, para a beleza do seu desenho e para o carácter estritamente artesanal da sua confecção. Foi uma excelente forma de fechar uma Visita Guiada de enorme valor e interesse, ligando o património religioso ao património azulejar e vincando, neste pequeno percurso, as diferentes datações e processos de fabrico associados aos azulejos.

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