VISITA GUIADA: “Igreja Matriz de
Válega, Cemitério de Válega e Capela de Nossa Senhora de
Entráguas”
Orientada por | Sofia Vechina
Organizada por | Câmara Municipal de Ovar, Serviço de Turismo
05 Mai 2018 | sab | 10:00 – 12:30
Organizada por | Câmara Municipal de Ovar, Serviço de Turismo
05 Mai 2018 | sab | 10:00 – 12:30
Pelo segundo ano consecutivo, Maio é o mês do Azulejo na Cidade de Ovar. Visitas guiadas, exposições, oficinas, sessões de esclarecimento e actividades lúdicas estão entre as várias actividades preparadas pelo Serviço de Turismo da Câmara Municipal de Ovar para sublinhar a importância do azulejo como elemento diferenciador deste singular território e, ao mesmo tempo, sensibilizar para a importância da sua preservação e valorização. É neste âmbito que se insere a visita guiada à Igreja Matriz de Válega, Cemitério de Válega e Capela de Nossa Senhora de Entráguas, orientada pela historiadora Sofia Vechina e que reuniu, na estupenda manhã do passado sábado, duas dezenas de participantes para duas horas e meia de história, cultura e partilha de experiências.
A Igreja Matriz de Válega, com a sua exuberância
policromática conferida pelos enormes painéis de azulejo que
revestem tanto o exterior como o interior do templo, foi o primeiro
ponto de paragem. Depois de apreciar o painel de Nossa Senhora do
Amparo, obra do aguarelista Jorge Colaço e que Sofia Vechina
considera “uma peça única” no Concelho de Ovar, o grupo
dirigiu-se para o adro da Igreja onde tomou conhecimento da história
do templo, desde o lançamento da primeira pedra, em 20 de Novembro
de 1746, até à aplicação do azulejo da fachada em 1960, uma
encomenda do Comendador António Maria Augusto da Silva.
Das referências à primitiva Igreja,
remontando a 1150 e que a localizam, provavelmente, no lugar de Seixo
Branco, às mais recentes intervenções, nomeadamente a construção
do tecto de caixotões de madeira exótica, obra patrocinada pelos
irmãos Oliveira Lopes, os vitrais assinados S. Cuadrado (Madrid) e o
revestimento dos alçados laterais e posterior, com desenho do
Arquitecto Januário Godinho, tudo foi passado a pente fino. Sofia
Vechina fez questão de enfatizar a representação do programa
mariano nos painéis do interior da Igreja, a presença de ilustres
valeguenses – Cónego Dr. Joaquim Manuel Valente, D. António
Valente da Fonseca, Monsenhor Miguel de Oliveira e o próprio
Comendador António Maria Augusto da Silva – nos vitrais da Capela
Mor, uma representação “raríssima no contexto da arte
portuguesa” que evoca a morte de S. José, no Coro Alto e os
painéis de azulejo do Baptistério (de 1958), que são uma cópia
dos existentes na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, no Porto,
da autoria de Dórdio Gomes.
Particularmente interessante foi o
confronto entre as várias representações azulejares e as obras
originais, com destaque para a “Entrega das Chaves a S. Pedro”,
de Pietro Perugino (1481-1482, fresco da Capela Sistina, Vaticano), a
“Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição”, de Franceso
Podesti (1854, Sala dell’Immacolata, Vaticano), os “Esponsais da
Virgem”, de Rafael (1504, Pinacoteca de Brera, Milão), “A
Anunciação”, de Bartolomé Esteban Murillo (c. 1660, Hermitage,
S. Petersburgo) ou “Maternidade”, do mesmo Murillo e cujo
original se encontra no Museu do Prado, em Madrid.
Já no Cemitério de Válega foi dada a
oportunidade aos participantes nesta Visita Guiada de apreciarem um
jazigo recoberto com belíssimos azulejos azuis com representações
de anjos, flores e uma balaustrada a assinalar a transição entre o
terreno e o celeste, a vida e a morte. Encomenda de um particular, o
painel de azulejos apresenta um carácter semi-industrial e nele são
evidentes irregularidades na superfície que têm a ver com o
processo de fabrico por prensa e que não se encontram, por exemplo,
nos azulejos da Igreja Matriz de Válega. Durante o trajecto entre o
Cemitério e a Capela de Nossa Senhora de Entráguas, Sofia Vechina
chamou a atenção para um conjunto de casas azulejadas com padrões
de belo efeito, algumas delas seculares e que, sobressaindo das
restantes, serviam de elemento distintivo do estatuto social dos seus
habitantes.
Última paragem desta visita, a Capela de Nossa Senhora
de Entráguas impressiona pela sua traça - onde sobressai o conjunto
de contrafortes, fazendo dela um exemplar arquitectónico único no
Concelho - e também pela altura inusual do presbitério, elevado
para que na sua base pudessem ser depositados os restos mortais de D.
Diogo Lobo, Bispo da Guarda e encomendador desta Capela construída
em 1628. A par da lenda que sustenta o levantamento do templo e da
alusão a alguns ex-votos que, infelizmente, não foi possível
observar, a historiadora realçou a importância dos
azulejos originais que decoram uma parte do friso do presbitério,
para a beleza do seu desenho e para o carácter estritamente
artesanal da sua confecção. Foi uma excelente forma de fechar uma
Visita Guiada de enorme valor e interesse, ligando o património
religioso ao património azulejar e vincando, neste pequeno percurso,
as diferentes datações e processos de fabrico associados aos azulejos.
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