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domingo, 15 de abril de 2018

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Olhares"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Olhares”,
de José Eduardo Elvas
Museu de Ovar
14 Abr > 05 Mai 2017


Aqueles que conhecem o José Eduardo Elvas há mais tempo, associam-no desde sempre ao Atletismo e, em particular, às provas de fundo, de resistência, onde o crer e a vontade vão de mãos dadas com o estoicismo e o sofrimento. A sua carreira prolongou-se por quase cinco décadas e foi pontuada por enormes resultados desportivos, tantos que nem o próprio deve saber contá-los. Foi sempre, naturalmente, um homem habituado a traçar objectivos, a sofrer para os alcançar e a colher, as mais das vezes, os louros da vitória. No desporto como na vida, é um homem que não gosta de perder. Eu diria que “nem a feijões”. Falem-lhe do Sporting e perceberão imediatamente aquilo que quero dizer. É pois deste homem duro, lutador e habituado a “não mostrar o jogo”, que nos chega uma belíssima exposição de fotografia, “Olhares”, patente desde ontem e até ao próximo dia 05 de Maio no Museu de Ovar. Uma exposição que, há muito pouco tempo atrás, não estaria nas cogitações do artista. Só que a vida dá muitas voltas e as voltas na vida de José Eduardo Elvas levaram-no ao encontro duma máquina fotográfica.

Importa dizer que este encontro só aconteceu porque os problemas de saúde aconselharam-no, primeiro, a abrandar e, pouco depois, a parar em definitivo. Não fosse isso e o plano era para seguir à risca: o José Eduardo Elvas continuaria a correr – e a ganhar! -, até colocar um ponto final na sua carreira quando, aos 80 anos de idade, corresse a Maratona de Nova Iorque. Continuaria a treinar no seu território favorito – o vasto espaço florestal das Dunas de Ovar -, a correr veloz por sobre picadas com nomes tão bizarros como das “maias”, do “Brandão Marques”, das “árvores marrecas” ou o “sobe e desce grande” e... a não ver a beleza que se abria ali mesmo à sua frente. Parafraseando-o, “quando corremos e corremos para ganhar não olhamos, não vemos”. E foi quando deixou de correr e começou a caminhar que passou a ver. E a dar-nos a ver os seus “olhares”, que gentilmente foi partilhando na sua página no Facebook [AQUI]. Aí o descobri e, desde logo, me senti deslumbrado pelo seu talento e intuição, pela sua qualidade, pelo seu olhar. Aí continuo a ir diariamente, atraído por esse olhar, um olhar inspirador. Um olhar onde há, sobretudo, uma enorme sensibilidade, que toca profundamente e emociona.

É isso que se pode perceber da apreciação destes seus “Olhares”, agora expostos no Museu de Ovar. São doze fotografias que espelham bem, a par da enorme paixão que nutre pelos seus “habitats naturais” - o mar e a floresta -, o desejo de os tornar conhecidos e de os estender a outras paisagens do nosso território. Totalmente amador, recusando-se a si mesmo o título de fotógrafo e confessando não haver nenhum nome que lhe sirva de referência, José Eduardo Elvas coloca a estética e o gosto pessoal acima da técnica. Caminha, tira umas fotografias e isso são os seus olhares. Essa abordagem espiritual da fotografia, essa pureza no gesto que se intui quando observa, numa floresta a ressumar a caruma molhada e a resina, o chapéu dum cogumelo que acaba de romper à superfície, esse amor com que olha as “esculturas” deixadas pelo mar na maré vaza ou pelo vento na orla das dunas, dão nota duma pessoa invulgar e que é, ao mesmo tempo, um fotógrafo invulgar. Já se disse que José Eduardo Elvas foi obrigado a parar de correr, virando-se para a fotografia. Seria cruel da minha parte dizer que “há males que vêm por bem”, mas ele não me leva a mal se partilhar com ele uma das minhas máximas: “Quando se fecha uma porta, abre-se logo uma janela”. Neste caso, uma janela de horizontes vastos e belos. Uma janela aberta aos mais belos e vastos olhares. Do Zé, naturalmente!

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