EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Olhares”,
de José Eduardo Elvas
Museu de Ovar
14 Abr > 05 Mai 2017
Aqueles que conhecem o José Eduardo
Elvas há mais tempo, associam-no desde sempre ao Atletismo e, em
particular, às provas de fundo, de resistência, onde o crer e a
vontade vão de mãos dadas com o estoicismo e o sofrimento. A sua
carreira prolongou-se por quase cinco décadas e foi pontuada por
enormes resultados desportivos, tantos que nem o próprio deve saber
contá-los. Foi sempre, naturalmente, um homem habituado a traçar
objectivos, a sofrer para os alcançar e a colher, as mais das vezes,
os louros da vitória. No desporto como na vida, é um homem que não
gosta de perder. Eu diria que “nem a feijões”. Falem-lhe do
Sporting e perceberão imediatamente aquilo que quero dizer. É pois
deste homem duro, lutador e habituado a “não mostrar o jogo”,
que nos chega uma belíssima exposição de fotografia, “Olhares”,
patente desde ontem e até ao próximo dia 05 de Maio no Museu de
Ovar. Uma exposição que, há muito pouco tempo atrás, não estaria
nas cogitações do artista. Só que a vida dá muitas voltas e as
voltas na vida de José Eduardo Elvas levaram-no ao encontro duma
máquina fotográfica.
Importa dizer que este encontro só
aconteceu porque os problemas de saúde aconselharam-no, primeiro, a
abrandar e, pouco depois, a parar em definitivo. Não fosse isso e o
plano era para seguir à risca: o José Eduardo Elvas continuaria a
correr – e a ganhar! -, até colocar um ponto final na sua carreira
quando, aos 80 anos de idade, corresse a Maratona de Nova Iorque.
Continuaria a treinar no seu território favorito – o vasto espaço
florestal das Dunas de Ovar -, a correr veloz por sobre picadas com
nomes tão bizarros como das “maias”, do “Brandão Marques”,
das “árvores marrecas” ou o “sobe e desce grande” e... a não
ver a beleza que se abria ali mesmo à sua frente.
Parafraseando-o, “quando corremos e corremos para ganhar não
olhamos, não vemos”. E foi quando deixou de correr e começou a
caminhar que passou a ver. E a dar-nos a ver os seus “olhares”,
que gentilmente foi partilhando na sua página no Facebook [AQUI].
Aí o descobri e, desde logo, me senti deslumbrado pelo seu talento e
intuição, pela sua qualidade, pelo seu olhar. Aí continuo a ir diariamente, atraído por esse olhar, um olhar inspirador. Um olhar onde há, sobretudo, uma enorme
sensibilidade, que toca profundamente e emociona.
É isso que se pode perceber da
apreciação destes seus “Olhares”, agora expostos no Museu de Ovar. São doze fotografias que espelham bem, a par da enorme paixão
que nutre pelos seus “habitats naturais” - o mar e a floresta -,
o desejo de os tornar conhecidos e de os estender a outras paisagens
do nosso território. Totalmente amador, recusando-se a si mesmo o
título de fotógrafo e confessando não haver nenhum nome que lhe
sirva de referência, José Eduardo Elvas coloca a estética e o
gosto pessoal acima da técnica. Caminha, tira umas fotografias e
isso são os seus olhares. Essa abordagem espiritual da fotografia,
essa pureza no gesto que se intui quando observa, numa floresta a
ressumar a caruma molhada e a resina, o chapéu dum cogumelo que
acaba de romper à superfície, esse amor com que olha as “esculturas”
deixadas pelo mar na maré vaza ou pelo vento na orla das dunas, dão
nota duma pessoa invulgar e que é, ao mesmo tempo, um fotógrafo
invulgar. Já se disse que José Eduardo Elvas foi obrigado a
parar de correr, virando-se para a fotografia. Seria cruel da minha
parte dizer que “há males que vêm por bem”, mas ele não me
leva a mal se partilhar com ele uma das minhas máximas: “Quando se
fecha uma porta, abre-se logo uma janela”. Neste caso, uma janela de
horizontes vastos e belos. Uma janela aberta aos mais belos e vastos olhares. Do Zé, naturalmente!
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