CONCERTO: Pedro Barroso
Auditório dos Plebeus Avintenses
14 abr 2018 | sab | 21:30
Dizer que a música de intervenção é
parte importante do nosso património cultural será, porventura,
palavra vã para muitos. Mas aqueles que viveram o 25 de Abril com o
coração aos saltos, que provaram “naquela clara madrugada” o
sabor da liberdade e que não deixaram de associar as mais doces
memórias da revolução às suas músicas e aos seus autores, cantam
ainda hoje a “Grândola”, “Que Força é Essa” ou “Eu Vi
Este Povo a Lutar” com a mesma emoção de há 44 anos atrás. E
foi num auditório repleto desta gente, gente entusiástica, gente
que continua a ver “na cantiga uma arma”, que teve lugar na
chuvosa e fria noite do passado sábado um concerto a todos os
títulos memorável. Em palco – para celebrar Abril, render
homenagem a Adriano Correia de Oliveira e assinalar o centenário dos
Plebeus Avintenses, bandeira maior do teatro amador em Portugal -,
Pedro Barroso mostrou o porquê de ser uma das figuras mais queridas
do Canto Livre, brindando os presentes com a força da sua música e
a emoção dos seus poemas.
“Cantarei”, do álbum “Cantos À
Terra-Madre” (1982) abriu o concerto e, logo ali, se percebeu ao
que todos vínhamos. Na plateia entoava-se com emoção o refrão,
depois de escutar as palavras do poeta: “Por isso invento caminhos
/ mais cantigas viajantes / e sinto música nos dedos / com a mesma
força de antes”. Estava dado o mote. As cordas do violoncelo
sugeriam agora o grito das gaivotas, levando-nos pelas areias da
Praia da Areia Grande, ao encontro de um homem apaixonado. “Água”,
do álbum “Roupas De Pátria Roupas De Mulher” (1986), dava a ver “(…)
um povo antigo / a cantar comigo uma canção de roda”, irmanando
músicos e público na celebração e no júbilo. Os poemas
continuavam a fluir, belos e sentidos, e Pedro Barroso dirigia-se ao
auditório ao cantar “Bonita”, do álbum “De Viva Voz”
(2002), sabendo que “é tão difícil encontrar pessoas assim
bonitas”. O tangueado “Música, Música” transportou-nos a 2012 e ao álbum “Cantos da Paixão e da Revolta”, enquanto no
lindíssimo “Jardim de Poetas” [do álbum “Pedro Barroso Ao
Vivo no Rivoli – Memória do Futuro”, 2013] se intuía uma
homenagem sentida a Carlos Paredes, Zeca Afonso, José Carlos Ary dos
Santos e tantos outros.
O alinhamento da segunda metade do
concerto privilegiou canções de outros poetas e trovadores.
Entoou-se “Verdes São os Campos”, escrito por Luis Vaz de Camões
e com música de Zeca Afonso, “ergueu-se a voz e cantou-se” com
António Macedo, em “Canta, Amigo, Canta”, chamou-se por Adriano
e pela sua “Trova do Vento que Passa” e, já no “encore”,
lembrou-se aquela que é, para Pedro Barroso, “a mais bonita música
portuguesa do Século XX”: “Pedra Filosofal”, de Manuel Freire,
com letra de António Gedeão. E, claro, ouviu-se um poema extraído
de um dos livros do cantor, “Das Mulheres e do Mundo” e
revisitou-se aquele que é, sem dúvida, o maior sucesso duma
carreira de quase cinquenta anos, “Menina Dos Olhos D'Água”, do
álbum “Cantos da Borda D'Água”, de 1984. Todos sentimos no
peito “vontades marinheiras de aproar, (…) aspirámos o feno no
corpo inteiro e (...) aprendemos a amar a madrugada”. Foi bonito,
muito bonito mesmo. E “se houver alguém que não goste / não
gaste, deixe ficar”.
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