CONCERTO: “70 anos de Vida e 50 de
Canções”,
de Fernando Tordo
Casa da Música, Porto
27 Abr 2018 | sex | 21:30
Fernando Tordo subiu, na noite da
passada sexta feira, ao palco da Casa da Música. Com ele trouxe as
memórias que marcam uma impressionante carreira, os caminhos
trilhados, os artistas com quem se cruzou e uma “colheita
seleccionada” dum vasto repertório que se estende por mais de 600
canções. Com ele trouxe também quatro convidados muito especiais –
Rita Redshoes, Anabela, Filipe Manzano Tordo e Ricardo Ribeiro
-, o amigo e admirador Jorge Gabriel, a quem coube a apresentação
do cantor e ainda um octeto de cordas e metais onde se destacaram
Lino Guerreiro e Valter Rolo, dois arranjadores fundamentais na
dinâmica deste concerto e dum disco de duetos que se avizinha. A
isto respondeu o público com a sua presença e entusiasmo, enchendo
por completo o vasto auditório da Casa da Música e não se cansando
de aplaudir o cantor.
O início do concerto fez-nos recuar a
1979 e ao álbum “Fazer Futuro”, com o cantor à conversa com o
público e a explicar “Como Se Faz Uma Canção”. O momento, de
grande naturalidade, deu o mote ao que viria a seguir, com Fernando
Tordo a trazer para o palco a sua enorme experiência de 54 anos de
cantigas e a revelar-se um extraordinário conversador. Tanto assim
que “Meu Corpo”, o segundo momento da sua actuação e que
constituiu uma homenagem a Beatriz da Conceição, mereceu um pedido
a Rui Moreira, o Presidente da Câmara Municipal do Porto, para que
encontrasse “uma ruazinha, uma viela, um beco” ao qual pudesse
dar o nome desta enorme mulher do fado e do Porto.
“Cavalo à Solta”, “Balada Para
Os Nossos Filhos”, “Estrela da Tarde”, “Novo Fado Alegre”
ou “Tourada”, permitiram perceber o quão representativo é
Fernando Tordo no cancioneiro da música portuguesa mas, sobretudo, o
quão indissociáveis são as suas canções das letras de José
Carlos Ary dos Santos, o poeta rebelde, empenhado, apaixonado por
causas e pessoas, que nos deixou há 34 anos. Isso mesmo fez questão
de vincar, prestando-lhe o maior dos elogios “por ter sido – e
continuar a ser (!) - a única pessoa no mundo a fazer letras sobre
músicas já feitas”. As histórias de cada música, contadas sem
rodeios e sempre com um toque de humor e amor à mistura, fizeram as
delícias dum público atento, interessado e emocionado com tamanha
sinceridade e cumplicidade.
Num concerto emotivo, delicado e com um
forte cheiro a Abril - “... não é por mais nada, é só por causa
da Liberdade!”, disse Fernando Tordo a certa altura -, com tanto
mais que haveria por dizer, valerá a pena registar para memória
futura três momentos absolutamente únicos: A interpretação de
“Estrela da Tarde”, em dueto com Ricardo Ribeiro, a leitura dum
poema da sua autoria, “Painel”, no qual se evoca “Ribeira
Negra” e, na figura de Mestre Júlio Resende, se homenageiam as
gentes do Porto e, pela sua delicadeza e significado, a presença em
palco de Filipe Manzano Tordo, filho do cantor, a interpretar
“Intermezzo”, uma peça para piano da autoria de Nicolai
Kapustin. Tempo ainda, no final, para uma sessão de autógrafos do
álbum “Outro Canto”, pelo qual Fernando Tordo foi distinguido em
2017 pela Sociedade Portuguesa de Autores com o Prémio Pedro Osório.
Concerto memorável, este, que para sempre perdurará nos corações
de quem a ele teve o privilégio de assistir!
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