Páginas

quinta-feira, 29 de março de 2018

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Sequestros de Luz"



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Sequestros de Luz”,
de António Campos e Matos, Carlos Valente, Eduardo Martinho, Gaspar de Jesus, João Paulo Sottomayor, João Menéres, Jorge Viana Basto, José Carlos Matias Serra, Óscar Saraiva e Ricardo Fonseca
Centro Português de Fotografia, Porto
17 Mar > 24 Jun 2018


A fotografia como registo constitui um testemunho válido, único, quer para quem esteve presente no momento fixado, quer para quem só, muito depois, dele tomou conhecimento visual e talvez mesmo verbal e provavelmente fantasioso, por vezes bem afastado do cenário real em que o mesmo ocorreu. De qualquer modo é um documento. Neste aspecto, “Sequestros de Luz”, exposição conjunta de dez fotógrafos portugueses, patente até 24 de Junho no Centro Português de Fotografia, não se afasta das premissas enunciadas. Mas é quanto basta para que o espectador se confronte com a vida que existe para lá dos objectos inanimados, as paisagens realçadas, os padrões sublinhados, a originalidade das texturas, névoas ou chuva, se ausente de distracções e desfrute dum descanso silencioso, se permita alcançar para lá das imagens.

Reviver em 1990 a Romaria do Senhor de Matosinhos, atentar na vegetação selvagem que irrompe no espaço urbano, na sua beleza humilde e discreta em que ninguém repara ou apreciar as graduações da luz, a sua intensidade e esbatimento nos mais diversos cenários e formas do quotidiano, são três das propostas que se oferecem ao espectador, com assinaturas de João Menéres, Carlos Valente e Jorge Viana Basto. José Carlos Matias Serra capta os efeitos de luz e sombra sobre os edifícios, António Campos e Matos prefere abordar o movimento e adopta o mar como objecto da sua atenção e Eduardo Martinho presenteia-nos com aquilo a que chama de “encanto libertino”, propondo uma relação de proximidade e cumplicidade com a luz terna do romance, sem provocação nem censura, sem juízos de valor, com respeito.

Com João Paulo Sottomayor chega, dum ponto de vista muito pessoal, o primeiro de dois momentos altos desta exposição. “Atravessar a Vida” diz-nos que “a vida, como o tempo, são os bens mais preciosos com que o homem vem ao mundo”. É isso que a sua fotografia nos mostra, seja num jogo de sueca ou numa brincadeira de crianças, numa concentração de jovens ou na louca dança duma cigana. Ricardo Fonseca pega-nos pela mão e convida-nos a conhecer a outra Manhattan que existe para lá dos clichés, enquanto Gaspar de Jesus nos fala do “Estigma da Diferença”, contrapondo o dia a dia dos habitantes da linda e secular Bélgica à desigualdade social que afeta o Brasil. Finalmente, Óscar Saraiva traz-nos o segundo grande momento destes “Sequestros de Luz” ao cruzar o olhar com o dos habitantes madrugadores da cidade, naquilo que ele designa por “Encontros Matutinos”. Tudo bons motivos para (mais) uma visita ao Centro Português de Fotografia.

Sem comentários:

Enviar um comentário