EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA:
“Sequestros de Luz”,
de António Campos e Matos, Carlos
Valente, Eduardo Martinho, Gaspar de Jesus, João Paulo Sottomayor,
João Menéres, Jorge Viana Basto, José Carlos Matias Serra, Óscar
Saraiva e Ricardo Fonseca
Centro Português de Fotografia,
Porto
17 Mar > 24 Jun 2018
A fotografia como registo constitui um
testemunho válido, único, quer para quem esteve presente no momento
fixado, quer para quem só, muito depois, dele tomou conhecimento
visual e talvez mesmo verbal e provavelmente fantasioso, por vezes
bem afastado do cenário real em que o mesmo ocorreu. De qualquer
modo é um documento. Neste aspecto, “Sequestros de Luz”,
exposição conjunta de dez fotógrafos portugueses, patente até 24
de Junho no Centro Português de Fotografia, não se afasta das
premissas enunciadas. Mas é quanto basta para que o espectador se
confronte com a vida que existe para lá dos objectos inanimados, as
paisagens realçadas, os padrões sublinhados, a originalidade das
texturas, névoas ou chuva, se ausente de distracções e desfrute
dum descanso silencioso, se permita alcançar para lá das imagens.
Reviver em 1990 a Romaria do Senhor de
Matosinhos, atentar na vegetação selvagem que irrompe no espaço
urbano, na sua beleza humilde e discreta em que ninguém repara ou
apreciar as graduações da luz, a sua intensidade e esbatimento nos
mais diversos cenários e formas do quotidiano, são três das
propostas que se oferecem ao espectador, com assinaturas de João
Menéres, Carlos Valente e Jorge Viana Basto. José Carlos Matias
Serra capta os efeitos de luz e sombra sobre os edifícios, António
Campos e Matos prefere abordar o movimento e adopta o mar como
objecto da sua atenção e Eduardo Martinho presenteia-nos com aquilo
a que chama de “encanto libertino”, propondo uma relação de
proximidade e cumplicidade com a luz terna do romance, sem provocação
nem censura, sem juízos de valor, com respeito.
Com João Paulo Sottomayor chega, dum ponto de vista muito pessoal, o
primeiro de dois momentos altos desta exposição. “Atravessar a
Vida” diz-nos que “a vida, como o tempo, são os bens mais
preciosos com que o homem vem ao mundo”. É isso que a sua
fotografia nos mostra, seja num jogo de sueca ou numa brincadeira de
crianças, numa concentração de jovens ou na louca dança duma
cigana. Ricardo Fonseca pega-nos pela mão e convida-nos a conhecer a
outra Manhattan que existe para lá dos clichés, enquanto Gaspar de
Jesus nos fala do “Estigma da Diferença”, contrapondo o dia a
dia dos habitantes da linda e secular Bélgica à desigualdade social
que afeta o Brasil. Finalmente, Óscar Saraiva traz-nos o segundo
grande momento destes “Sequestros de Luz” ao cruzar o olhar com o
dos habitantes madrugadores da cidade, naquilo que ele designa por
“Encontros Matutinos”. Tudo bons motivos para (mais) uma visita
ao Centro Português de Fotografia.
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