TERTÚLIA: “Conversas Úteis”,
com Álvaro Domingues
Museu de Ovar
24 Fev 2018 | sab | 21:30
Se de utilidade falamos quando falamos
de “Conversas Úteis” - conjunto de tertúlias promovidas com
espantosa regularidade pelo Museu de Ovar em torno de livros, autores
e leitores -, então o capítulo mais recente destes encontros terá
batido aos pontos os demais. Tendo o seu novo livro, “Volta
a Portugal”, como ponto de partida, Álvaro Domingues deu uma
verdadeira aula sobre o território português, desconstruindo a
ideia do país-mosaico e desmontando os clichés habituais que
concorrem para a ideia (impingida) de unidade territorial.
Fê-lo apoiando-se num discurso esclarecido e extraordinariamente
acessível e ainda em fotografias da sua autoria, convidando o
público a refletir sobre o muito que se esconde por detrás de cada
imagem, de cada mensagem.
Esta utilidade foi tanto mais útil,
passe o pleonasmo, quanto a leitura que havia feito do livro não
gerara em mim grandes entusiasmos. Houve, assim, a possibilidade de
perceber um objectivo fundamental de Álvaro Domingues ao escrever o
livro: Transportar o leitor para uma determinada ambiência, oferecer-lhe ferramentas
para compreender aquilo que se esconde por detrás das palavras e das
imagens, conceder-lhe total liberdade para relacionar as coisas entre si e
esperar que seja ele a encontrar a unidade do livro. “Volta a Portugal”
é, pois, uma “obra aberta”, aberta a várias leituras, a vários
sentidos, assente numa escrita hipertextual,
visto ser esta “a que melhor se adapta ao estilo e aos motivos do
livro”. Entendidas assim as coisas, importa um regresso à leitura de “Volta a Portugal” para tirar teimas.
Ao longo de duas horas que passaram num
ápice falou-se, entre muitas outras coisas, da estranheza desta nova vida na esfera dos livros - “tenho alguma
dificuldade em ouvir as pessoas dizerem que sou escritor” - e do desassossego dum professor de Geografia a dar aulas numa Faculdade de
Arquitectura.
Falou-se de textos que remontam ao Século XVI e de fotografias ao encontro dos “emissores de sinais” que são “aquelas gentes que habitam aquelas terras”. Falou-se da
relação poética “cidade-campo” ser, na realidade, uma relação
de “poder-dominação” e da urbanização ser, à escala
planetária, “o grau zero da condição humana”. Também de
toiros bravos e de puro Ribatejo, de framboesas e de Nepaleses, de
burros que já não puxam carroças e passaram a ser meros elementos
decorativos, de faianças e camelos, de papoilas e morangos e ópio e Beatles. Ainda de globalização e
de desterritorialização - “essa palavra estranha para um
geógrafo” -, do rural versus o neo-rural, duma paisagem que existe para
ser mudada e dum Portugal pós-moderno que nunca chegou a ser moderno. E
falou-se de “Entre nós... da auto-estrada”, um livro que vem a
caminho e onde iremos “tentar perceber como é que um dispositivo
socio-técnico tão performativo influencia
o território, o espaço e a paisagem”. Vamos estar atentos!
Belo texto Joaquim, não mudaria uma palavra! Para quem não viu, o Joaquim tirava apontamentos durante o nosso serão no Museu de Ovar ... se este texto fosse de avaliação das matérias discutidas, dava-lhe 22 numa escala de 0 a 20!! Abraço e obrigado.
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