CONCERTO: Carminho
Cineteatro António Lamoso, Santa
Maria da Feira
17 Fev 2018 | sáb | 22:00
Se me pedissem para eleger a melhor
voz do fado em Portugal nos dias de hoje, aquela que melhor
interpreta esta forma de estar tão nossa vestida de música, a
resposta seria Carminho. Tal como dizia Pedro Alborán, as palavras
na sua voz “arranham a alma”. Viver e sentir o fado intensamente,
modelar a voz ao encontro das emoções mais vivas e ter uma presença
em palco que dignifica o próprio fado são imagens de marca desta
que é, inegavelmente, a maior embaixadora da nossa música.
Ontem, no Cineteatro António
Lamoso, com casa cheia, a fadista confirmou uma vez mais o seu carisma, através duma revisitação dos seus álbuns “Fado
(2009), Alma (2012) e “Canto” (2014), numa viagem ao que de mais
puro há na sua arte. Acompanhada pelos músicos Luís
Guerreiro, na guitarra portuguesa, Flávio Cardoso, na viola, Marino
de Freitas, na viola baixo, Ivo Costa, na percussão, e Rúben Alves,
nos teclados, acordeão e xilofone, Carminho encheu a
sala com o olhar, o sorriso, o seu jeito único de dizer
coisas sérias a brincar. A cantar e a bailar, falou de si e das suas
origens, do excelente fadista que é o pai, de esquizofrenia e outras
manias, de derbies, do tempo que passa a correr e que nos modifica
sem darmos conta (“às vezes para melhor”), até da última corda
da viola baixo de fado onde Marino de Freitas descansa o dedo. Hora e meia de fado do melhor, mas também de muita partilha e cumplicidade.
Apesar das músicas mais mexidas,
como “Bom dia, amor”, “Saia rodada” ou “Bia da Mouraria”
(fado criado por Ary dos Santos e Fernando Tordo para a voz de
Beatriz da Conceição, mãe de Carminho), e que arrancaram palmas do
público a compasso, o tom da noite foi de intimismo. “Escrevi teu
nome no vento”, “As Pedras da minha rua”, “Senhora da Nazaré”
ou “Chuva no Mar”, esta última com música da brasileira Marisa
Monte, mostraram uma Carminho com o canto na alma, deixando o público
totalmente rendido à sua arte. Mas foi com “As Minhas Penas”, um
fado de D. António da Câmara e Carlos da Maia, que a fadista cantou
“a cappella” já no “período de desconto”, que o Cineteatro
“veio abaixo”. À emoção contida na voz nua de Carminho,
respondeu o público com a maior ovação da noite. O momento mais
alto dum concerto memorável!
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