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domingo, 3 de dezembro de 2017

LIVRO: "Orlando e o Rinoceronte"



LIVRO: “Orlando e o Rinoceronte”,
de Alexandra Lucas Coelho
Ilustrações de Alexandra Lucas Coelho
Ed. Alfaguara, Outubro de 2017


Confesso que nem sempre foi assim, esta minha admiração pela chamada literatura infantil, infanto-juvenil ou o que lhe quiserem chamar. A razão para esta mudança está em livros como “Orlando e o Rinoceronte”, de Alexandra Lucas Coelho, e cuja leitura resulta em momentos de deleite e fruição de pequenos prazeres e grandes aventuras, muitas delas “irmãs gémeas” das que preservamos na memória e que remetem para infâncias felizes.

Gostaria de notar que “Orlando e o Rinoceronte” é um livro “a sério”. Quero com isto dizer que o seu formato “reduzido” (se comparado com a generalidade dos exemplares da “concorrência”), as suas mais de cem páginas (!) e a relativa escassez de desenhos, faz com que o seu apelo esteja mais no conteúdo, que não na forma. Daí que a dedicatória “para os meus sobrinhos Maria, Mariana, Matias e Nuno e para todos os que vão mudar o mundo” faça todo o sentido. Os meninos e meninas dispostos a aceitar o convite à leitura de “Orlando e o Rinoceronte” que se preparem para a realidade que os espera: Vocês vão MESMO mudar o mundo!

“Orlando e o Rinoceronte” leva-nos a conhecer Orlando, olhos abertos para o mundo do alto dos seus oito anos, mas também Ganda e a sua história trágico-marítima, por obra e graça da estupidez e do egoísmo dos homens. Faz igualmente com que nos lembremos que encontrar a pessoa certa para nos falar das coisas é mil vezes melhor do que ir procurar ao Google; e que o conceito de Portugalidade e de escravatura estão ligados e não são coisa de que nos possamos orgulhar. Entre outras, também nos alerta para a ideia subjacente aos Descobrimentos e mostra que, afinal, as coisas podem não ser bem como nos contam. Coisas sérias à parte, este livro fez-me, sobretudo, fechar os olhos com força e, nas estrelas por cujo brilho me deixei levar, jogar de novo às caricas no pátio tornado estádio todas as tardes de todas as férias, acompanhar o meu pai nas pescarias de tainhas numa ria imensamente bela e despoluída, deliciar-me com o sabor levemente acidulado da broa que a D. Laurinda cozia, passar tardes inteiras a ler em voz alta para a minha mãe enquanto ela fazia renda, penetrar nas sombras misteriosas do Pinhal do Gato Morto, o corpo a tremer colado ao da Tia Matilde, ou sentir-me livre como nunca, correndo no meio do feno alto ao cair duma tarde de Verão.

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