LIVRO: “O Último Beijo da
Mamba Verde”,
de Cesário Borga
Ed. Planeta, Setembro de 2017
“O Último Beijo da Mamba Verde”
é uma história de vingança, nos anos amargos da Guerra do
Ultramar. Centrando a acção no Norte de Moçambique, o livro
descreve uma sequência de episódios que têm Arnaldo Salima como personagem
principal. Cantineiro junto ao aquartelamento das tropas portuguesas
em Tomboza, próximo da fronteira com a Rodésia (atual
Zimbabwe), é ele o protagonista duma história onde amor e morte se passeiam de mãos dadas.
Com uma escrita fácil, na qual
avulta a reprodução cuidada dum certo linguajar nas margens do
português, Cesário Borga dá a ver a face mais negra duma guerra
sem razão. Exímio na forma como trabalha a acção, o autor faz-nos
mergulhar nos cenários idílicos de África, nas suas riquezas
naturais e na forma de vida dos povos do Norte de Moçambique, para
depois nos despertar, de forma brusca, para o horror das minas e
dos corpos decepados, do ruído surdo das pás dos helicópteros
rodesianos e dos bombardeamentos, do cerco às aldeias e dos esbirros
da PIDE, do fogo nas palhotas e do cheiro a carne queimada.
Ao contrário da generalidade dos escritores portugueses que se vêm debruçando sobre esta matéria, interessa
a Cesário Borga o efeito da Guerra sobre os que ficaram em África e
de que forma os acontecimentos foram determinantes nas suas vidas.
Nesse sentido, “O Último Beijo da Mamba Verde” não é apenas
mais um livro sobre um capítulo particularmente sombrio da nossa
história colectiva. Ele é um testemunho sólido da violência e do
horror em cenário de guerra, tendo como principais protagonistas as
tropas portuguesas, a sua crueldade, insensibilidade e
irracionalidade, à imagem e semelhança das tropas congéneres. A
outra face duma mesma moeda que não adianta fazer de conta que nunca
existiu.

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