CINEMA: “120 Batimentos por
Minuto” / “120 battements par minute”
Realização | Robin Campillo
Argumento | Robin Campillo e
Philippe Mangeot
Fotografia | Jeanne Lapoirie
Interpretação | Nahuel Pérez
Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Ariel
Borenstein, Félix Maritaud, Aloïse Sauvage, Coralie Russier, Saadia
Bentaïeb
Produção | Hugues Charbonneau e
Marie-Ange Luciani
França | 2017 | Drama | 140
minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
29 dez 2017 | sex | 16:00
“Não temos tempo, estamos a
morrer!” É este o grito de desespero de todo um grupo de
seropositivos na França de Miterrand, há 25 anos atrás, numa
altura em que as respostas da própria medicina ao flagelo do vírus
HIV/SIDA são frouxas e inconclusivas. Numa espiral de medo e
revolta, sem tábuas de salvação a que possam agarrar-se, buscam todas as formas de chamar a atenção para um problema
em estado de emergência, vendo os seus esforços esbarrarem na inabilidade
dos governos, no calculismo da indústria farmacêutica e na
indiferença da sociedade.
Em “120 Batimentos por Minuto”,
o cineasta francês de ascendência marroquina, Robin Campillo,
centra a acção do filme no grupo activista Act Up - Paris, uma
associação militante de luta contra o SIDA, criada em 1989 a partir
de elementos da comunidade homossexual. É precisamente nesta faceta
quase documental do filme que reside a sua grande força, já que
Campillo consegue imprimir um ritmo alucinante, quer na
forma como regista as reuniões do grupo e as suas acções-relâmpago
sempre espectaculares, quer no conteúdo, visando contrariar ideias
feitas (ainda hoje!) de que a doença só acontece aos outros, sendo
este “outros” os grupos marginais LGBT, prostitutas e
estrangeiros, oriundos sobretudo do continente africano. Pena que
este “estado de graça” do filme não dure sempre...
A partir de dada altura, Campillo relega o
grupo e as suas iniciativas para segundo plano, virando-se quase em
exclusivo para a personagem de Sean, interpretada pelo argentino
Nahuel Pérez Biscayart. A verdade é que, desde então, “120
Batimentos por Minuto” entra em queda livre, que só não é mais
acentuada graças às superiores interpretações de Arnaud Valois,
no papel de Nathan, o companheiro de Sean, e do próprio Nahuel
Biscayart. A economia narrativa do filme bascula, os
diálogos tornam-se previsíveis, as cenas de sexo roçam a obscenidade. Para comprometer ainda mais o quadro, Campillo obstina-se em
não deixar nada de fora, misturando a crise do sangue contaminado
com as paradas do dia do orgulho, as questões religiosas em torno do
uso do preservativo com a necessidade das aulas de educação sexual
a partir do ensino básico, os ensaios clínicos com a eutanásia.
Embora o filme acabe por regressar ao registo inicial,
há danos que são já impossíveis de reparar. Dommage!

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