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sábado, 30 de dezembro de 2017

CINEMA: "120 Batimentos por Minuto"




CINEMA: “120 Batimentos por Minuto” / “120 battements par minute”
Realização | Robin Campillo
Argumento | Robin Campillo e Philippe Mangeot
Fotografia | Jeanne Lapoirie
Interpretação | Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel, Antoine Reinartz, Ariel Borenstein, Félix Maritaud, Aloïse Sauvage, Coralie Russier, Saadia Bentaïeb
Produção | Hugues Charbonneau e Marie-Ange Luciani
França | 2017 | Drama | 140 minutos
Cinema Dolce Espaço, Ovar
29 dez 2017 | sex | 16:00


Não temos tempo, estamos a morrer!” É este o grito de desespero de todo um grupo de seropositivos na França de Miterrand, há 25 anos atrás, numa altura em que as respostas da própria medicina ao flagelo do vírus HIV/SIDA são frouxas e inconclusivas. Numa espiral de medo e revolta, sem tábuas de salvação a que possam agarrar-se, buscam todas as formas de chamar a atenção para um problema em estado de emergência, vendo os seus esforços esbarrarem na inabilidade dos governos, no calculismo da indústria farmacêutica e na indiferença da sociedade.

Em “120 Batimentos por Minuto”, o cineasta francês de ascendência marroquina, Robin Campillo, centra a acção do filme no grupo activista Act Up - Paris, uma associação militante de luta contra o SIDA, criada em 1989 a partir de elementos da comunidade homossexual. É precisamente nesta faceta quase documental do filme que reside a sua grande força, já que Campillo consegue imprimir um ritmo alucinante, quer na forma como regista as reuniões do grupo e as suas acções-relâmpago sempre espectaculares, quer no conteúdo, visando contrariar ideias feitas (ainda hoje!) de que a doença só acontece aos outros, sendo este “outros” os grupos marginais LGBT, prostitutas e estrangeiros, oriundos sobretudo do continente africano. Pena que este “estado de graça” do filme não dure sempre...

A partir de dada altura, Campillo relega o grupo e as suas iniciativas para segundo plano, virando-se quase em exclusivo para a personagem de Sean, interpretada pelo argentino Nahuel Pérez Biscayart. A verdade é que, desde então, “120 Batimentos por Minuto” entra em queda livre, que só não é mais acentuada graças às superiores interpretações de Arnaud Valois, no papel de Nathan, o companheiro de Sean, e do próprio Nahuel Biscayart. A economia narrativa do filme bascula, os diálogos tornam-se previsíveis, as cenas de sexo roçam a obscenidade. Para comprometer ainda mais o quadro, Campillo obstina-se em não deixar nada de fora, misturando a crise do sangue contaminado com as paradas do dia do orgulho, as questões religiosas em torno do uso do preservativo com a necessidade das aulas de educação sexual a partir do ensino básico, os ensaios clínicos com a eutanásia. Embora o filme acabe por regressar ao registo inicial, há danos que são já impossíveis de reparar. Dommage!

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