EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Ilha”,
de Paulo Pimenta
Centro Português de Fotografia, Porto
25 Nov 2017 > 25 Mar 2018
As Ilhas constituem no Porto uma
realidade multissecular. Construídas de forma precária, aproveitando todas as nesgas
de terreno, sem infra-estruturação adequada, as Ilhas são, na sua
grande maioria, focos de insalubridade e de doença. O esquecimento a
que foram votadas advém também da sua conformação espacial,
espaços de viver localizados nas traseiras das ruas, delas separadas
e delas escondidas. Apesar disso (ou, até por isso) a Ilha foi, e é, construtora de
uma identidade comum, espaço de resistência e socialização dos
mais desfavorecidos, elo de familiaridade e acolhimento para com
conhecidos e amigos.
São sobretudo os aspectos sociais e
culturais intrínsecos às Ilhas do Porto e aos seus “ilhéus”
que surgem evidenciados nesta compilação de imagens do
fotojornalista Paulo Pimenta, com a participação de crianças da
associação O Meu Lugar no Mundo e de seniores do Centro de Dia do
Senhor do Bonfim. Um trabalho de criação artística desenvolvido ao
longo de dois anos e no qual se buscam respostas a questões tão pertinentes como “o que é uma Ilha”, “o que é estar dentro e
estar fora de uma Ilha”, “como é viver num espaço onde as
janelas se abrem para muros e as vidas se tecem em arquipélagos de
corredores estreitos”, “que memórias perduram inscritas nas
pessoas e nas paredes das casas” ou “onde nos cruzamos nesta
cidade feita de Ilhas – Casas e Ilhas – Pessoas”.
As respostas encontram-se, em grande
medida, nas imagens belíssimas que ilustram esta exposição, nos
textos, escritos pelos mais novos, que consubstanciam pela palavra o
sentido das imagens e ainda nos registos audio com as impressões de
alguns habitantes. “Ilha” é, se quisermos, uma forma de alertar
para um problema real e que urge resolver; mas é sobretudo, neste
espaço do Centro Português de Fotografia e com este enquadramento, uma excelente exposição, delicada
e sensível, que aborda uma temática dura e que o faz de forma equilibrada, entre a proximidade necessária e o distanciamento que se exige. Ou, como diz o fotógrafo em entrevista ao
Jornalismo Porto Net [AQUI],
“foi uma atitude de alerta, de denúncia, de usar a fotografia como
mensagem para não se mudar o mundo, mas se calhar mudar uma vírgula
– o que faz toda a diferença”. A ver, forçosamente!
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